SOU POBRE FILHO DE POBRES
Os heróis e o tempo.
Mudam-se as moscas
Neste bloggue vou postar um pouco da nossa história e das personagens que a
marcaram.
Os tempos parecem outros mas os factos repetem-se.
É só mudar os nomes aos personagens.
Porque somos todos Portugal.
A bem da nação e da terra onde nasci e que guardo no coração
A. Silva
Pobre filho de pobres
Esta cadeira está desengonçada mas arrisco-me.
Gosto muito de estar sentado aqui ao sol, no terraço do Forte de Santo António do Estoril, a contemplar a foz do Tejo e o oceano.
É o meu único luxo, sou pobre, filho de pobres.
No exílio, uma vez a rainha D. Amélia disse que, se pudesse, de mim faria o rei de Portugal.
Enganou-se.
Eu gostava era de ter sido primeiro ministro de um rei absoluto.
Só consigo estar no Governo porque nunca saio da rotina.
Como conseguiria aguentar estes anos todos a concorrer a eleições, a ir ao Parlamento responder a perguntas, a correr a inaugurar coisas?
Não, rei não quis, nem quero ser; sou pobre, filho de pobres.
Tenho aversão a espalhafatos.
Admirei o Mussolini, depois fartei-me dele.
Cheguei a ter o seu retrato em cima da minha secretária, foi homem que fez obra.
Mas irritou-me a forma aparatosa de estar na vida.
Por motivo idêntico também não gostei do António Ferro, nem do Duarte Pacheco, nem do Henrique Galvão e nem do Humberto Delgado.
Despeitados, os dois últimos acabaram por me trair.
Ao Duarte Pacheco, que também fez obra, Deus mandou que morresse num desastre de viação.
Mas ao António Ferro, fui eu que o deixei cair em 1949, os tempos eram outros e já me incomodava o estrondo da sua propaganda.
Tanto, que depois privatizei a política da acção cultural.
Sem encargos para o Estado, Azeredo Perdigão, o mecenas vermelhusco, com a sua Fundação Gulbenkian é que passou a ser o meu Ministro da Cultura.
Mas disto ele não sabe, nem sequer suspeita.
Contudo o Ferro, às vezes, até descobria coisas com interesse.
Foi ele quem achou a minha imagem nos painéis de S. Vicente.
Num lado o Infante de Sagres e eu no outro.
Dois homens de gabinete.
Um, a mandar as caravelas à descoberta do mundo.
Outro, que é pobre, filho de pobres, a mandar Portugal seguir em frente.
Fernando Correia da Silva
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SOU POBRE FILHO DE POBRES
Os heróis e o tempo.
Mudam-se as moscas
Neste bloggue vou postar um pouco da nossa história e das personagens que a
marcaram.
Os tempos parecem outros mas os factos repetem-se.
É só mudar os nomes aos personagens.
Porque somos todos Portugal.
A bem da nação e da terra onde nasci e que guardo no coração
A. Silva
Pobre filho de pobres
Esta cadeira está desengonçada mas arrisco-me.
Gosto muito de estar sentado aqui ao sol, no terraço do Forte de Santo António do Estoril, a contemplar a foz do Tejo e o oceano.
É o meu único luxo, sou pobre, filho de pobres.
No exílio, uma vez a rainha D. Amélia disse que, se pudesse, de mim faria o rei de Portugal.
Enganou-se.
Eu gostava era de ter sido primeiro ministro de um rei absoluto.
Só consigo estar no Governo porque nunca saio da rotina.
Como conseguiria aguentar estes anos todos a concorrer a eleições, a ir ao Parlamento responder a perguntas, a correr a inaugurar coisas?
Não, rei não quis, nem quero ser; sou pobre, filho de pobres.
Tenho aversão a espalhafatos.
Admirei o Mussolini, depois fartei-me dele.
Cheguei a ter o seu retrato em cima da minha secretária, foi homem que fez obra.
Mas irritou-me a forma aparatosa de estar na vida.
Por motivo idêntico também não gostei do António Ferro, nem do Duarte Pacheco, nem do Henrique Galvão e nem do Humberto Delgado.
Despeitados, os dois últimos acabaram por me trair.
Ao Duarte Pacheco, que também fez obra, Deus mandou que morresse num desastre de viação.
Mas ao António Ferro, fui eu que o deixei cair em 1949, os tempos eram outros e já me incomodava o estrondo da sua propaganda.
Tanto, que depois privatizei a política da acção cultural.
Sem encargos para o Estado, Azeredo Perdigão, o mecenas vermelhusco, com a sua Fundação Gulbenkian é que passou a ser o meu Ministro da Cultura.
Mas disto ele não sabe, nem sequer suspeita.
Contudo o Ferro, às vezes, até descobria coisas com interesse.
Foi ele quem achou a minha imagem nos painéis de S. Vicente.
Num lado o Infante de Sagres e eu no outro.
Dois homens de gabinete.
Um, a mandar as caravelas à descoberta do mundo.
Outro, que é pobre, filho de pobres, a mandar Portugal seguir em frente.
Fernando Correia da Silva