Macaronésia: Monopólios

11-07-2009
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O monopólio foi uma das formas de organização económica mais vulgarmente adoptadas pela coroa portuguesa a partir da Idade Média e, sobretudo, no final deste período.O meu pai, industrial de massas alimentícias, enfrentou os monopólios no sentido de obter o desejável aumento da capacidade de fabrico e da qualidade da matéria prima, (farinha) produzida unicamente pela Companhia Insular de Moinhos.Quando transferiu a Fábrica de Massas Prazeres da freguesia dos Prazeres (foto em cima) no Concelho da Calheta-Madeira, para a cidade do Funchal, na Rua 5 de Outubro nº8, corria o ano de 1961, tinha alvará para fabricar 60Kg por hora.A par das diligências para a obtenção legal do aumento da capacidade produtiva, participando neste processo o Dr. Correia de Jesus, o meu pai engenhosamente aumentou a capacidade da máquina alemã de 60Kg, para o dobro, foi uma façanha que conseguiu através do Arsenal, corria o ano de 1966, na pessoa do mestre Alberto que tinha a paciência de aceitar modifIcações proposta pelo meu pai que era um atodidacta na mecánica exigente, inerente ao fabrico de massas alimentícias, predominando a pressão fabril exigida para a materia prima passar pelo molde, posteriormente foram executados trabalhos de torno para a referida máquina no Leacock e a partir do ano de 1973 a manutenção, passou a ser executada exclusivamente pela oficina Santos & Correia situada na Rua da Conceição, no Palácio dos Cônsules.O Sr. Santos proprietário da oficina, natural do Arco de São Jorge era um autodidacta experiente em electro/mecánica e um exímio torneiro, fazia a manutenção da máquina na instalação fabril à Rua 5 de Outubro, o que mantinha a produção nos 120Kg/h, e posteriormente na nova fábrica.Além da Fábrica de Massas Prazeres, o Sr. Santos e os serralheiros faziam a manutenção das máquinas e caldeiras dos Engenhos da Calheta.O recorde fabril de produção de massas alimentícias aconteceu no ano de 1973, na Rua 5 de Outubro, num mês que não me lembro , produziu-se 40 toneladas de massas. Para o meu pai foi uma grande vitória.Em 1975 foi inaugurada a nova fábrica Prazeres, sita na Ribeira de João Gomes, em instalações próprias, (com pé direito de 5 metros), equipada com 2 prensas alemãs novas de marca Lihotzky, capacitadas para uma produção de 300Kg/h cada, 1 trabatto (pré secador rápido) uma linha contínua de secagem, 3 secadores estáticos, 1 máquina italiana Braibanti, de empacotar automática, equipada com 4 balanças, 12 silos equipados com 3 tapetes transportadores, 1 caldeira de aquecimento de água em circuito fechado com passagem pelos secadores das massas alimentícias.Inicieu a minha carreira profissional na Fábrica em 1974, com o cargo de Controlador de Fabrico e Embalagem, posteriormente (1980) exercia a chefia da manutenção electro/mecánica das instalações fabris da Fábrica de Massas Prazeres.Quando as máquinas foram adjudicadas à empresa alemã Lihotzky no ano de 1973, foi atribuído um novo alvará de 300Kg por hora, contudo os alemães construíram a pedido do meu pai máquinas com capacidade superior, 2 x 300Kg= 600Kg/h.Interessante os sistemas variadores que equipavam as prensas, por meio de uma correia especial que trabalhava numa polé em V pressionada por uma forte mola helicoidal, do motor do sem-fim de carga , que aumentava a capacidade produtiva até aos 300Kh/h ou reduzia para cerca de 200Kg/h a capacidade horária de produção.Entretanto aconteceu a revolução do 25 de Abril de 1974, que acabou com o monopólio do estado.Em 1975, a fábrica devia à Caixa Económica a quantia de 25.000,00€ e quando Vasco Gonçalves era o Primeiro Ministro os juros bancários dispararam para 40 e tal por cento, o que à partida condenou economicamente a fábrica ao fracasso. E para cúmulo do insucesso fabril, a fábrica estava localizada no pior sítio para o tipo de indústria de massas alimentícias, à beira de uma ribeira, justamente na parte que afunila da Ribeira de João Gomes. As variações do clima do dia para a noite contribuia para a má qualidade do produto acabado. A caldeira durante a noite também desligava com frequência por causa da má qualidade do fuel, causando a par do clima impróprio da zona, secagens deficientes das massas, que ficavam fracas e de má qualidade na cozedura, com frequência.A farinha proveniente do trigo mole, era a única matéria prima existente no mercado regional para a produção de massas alimentícias, variava frequentemente na qualidade, com humidade e cinza excessiva de vez em quando, dando origem a quebras na produção e produto acabado de má qualidade, que aliado à zona imprópria onde a Fábrica estava localizada contribuia para o insucesso fabril da Fábrica de Massas Prazeres.Resumindo e concluindo, a fábrica começou a perder a fama adquirida nas instalações da Rua 5 de Outubro nº8. (eu até faço uma paridade das localizações erradas, da Fábrica de Massas Prazeres localizada na Ribeira de João Gomes, com a Marina do Lugar de Baixo na Ponta do Sol)Mas, enquanto a localização era errada, e a matéria prima, e o fuel, eram de má qualidade, por seu lado as 2 máquinas alemãs de produção designadas prensas, eram robustas e fiáveis.Praticamente na recta final do encerramento da fábrica, começamos finalmente a receber matéria prima à base de trigo duro, sêmola, possuindo excelente característica para o fabrico de massas alimentícias, mas a dívida já era incomportável, e partimos efectivamente para o encerramento de toda a actividade e respectiva venda do imóvel.A fábrica cessou a actividade fabril no ano de 1986.A maquinaria foi vendida para a sucata (Zeca) e o prédio vendido à CMF Câmara Municipal do Funchal pela quantia de 400.000,00€, quantia essa para cobrir a dívida à Caixa Económica do Funchal.Custo da linha contínua em 1972, composto por uma prensa, um trabatto, uma linha contínua de secagem (pré secador e secador final)A moeda alemã DM valia 8,651 Prensa 300Kg/h= 1.884,00€ (hoje uma máquina similar custa cerca de 50.000,00€)10 moldes em bronze com diâmetro de 26cm pesando cerca de 20Kg cada= 280,00€ (hoje, cada molde custa cerca de 400,00€)Trabatto= 585,00€Pré secador= 2.795,00€ (tapetes de nylon rolantes)Secador final= 4.515,00€ (tapetes de nylon rolantes)A Secção de embalamento composto por 12 silos, incluindo a máquina de empacotar italiana custou 3.500,00€Não estão contabilizados os custos da 2º prensa e de 3 secadores estáticos, a secção da caldeira, um transformador de alta tensão, os alimentadores automáticos de farinha às prensas e o monta cargas.O meu pai faleceu com 89 anos.Nota: A fábrica de massas alimentícias começou nos Prazeres, por iniciativa do meu avó, não havia electricidade, e tal como se visualiza na imagem superior, um veio ligado a uma roda de água com cerca de 4 metros de diâmetro, através de correias transmitia a força motriz à prensa e à amassadeira.Clientes desde a Ponta do Sol até ao Porto Moniz compravam massa verde, não havia secadores, e clientes trocavam trigo por massa. O Concelho da Calheta produzia bastante trigo nas dêcadas de 20 a 50.Posteriormente foram adaptados motores eléctricos às respectivas máquinas, e instalados secadores eléctricos que secavam a massa por meio de ventilação.


O monopólio foi uma das formas de organização económica mais vulgarmente adoptadas pela coroa portuguesa a partir da Idade Média e, sobretudo, no final deste período.O meu pai, industrial de massas alimentícias, enfrentou os monopólios no sentido de obter o desejável aumento da capacidade de fabrico e da qualidade da matéria prima, (farinha) produzida unicamente pela Companhia Insular de Moinhos.Quando transferiu a Fábrica de Massas Prazeres da freguesia dos Prazeres (foto em cima) no Concelho da Calheta-Madeira, para a cidade do Funchal, na Rua 5 de Outubro nº8, corria o ano de 1961, tinha alvará para fabricar 60Kg por hora.A par das diligências para a obtenção legal do aumento da capacidade produtiva, participando neste processo o Dr. Correia de Jesus, o meu pai engenhosamente aumentou a capacidade da máquina alemã de 60Kg, para o dobro, foi uma façanha que conseguiu através do Arsenal, corria o ano de 1966, na pessoa do mestre Alberto que tinha a paciência de aceitar modifIcações proposta pelo meu pai que era um atodidacta na mecánica exigente, inerente ao fabrico de massas alimentícias, predominando a pressão fabril exigida para a materia prima passar pelo molde, posteriormente foram executados trabalhos de torno para a referida máquina no Leacock e a partir do ano de 1973 a manutenção, passou a ser executada exclusivamente pela oficina Santos & Correia situada na Rua da Conceição, no Palácio dos Cônsules.O Sr. Santos proprietário da oficina, natural do Arco de São Jorge era um autodidacta experiente em electro/mecánica e um exímio torneiro, fazia a manutenção da máquina na instalação fabril à Rua 5 de Outubro, o que mantinha a produção nos 120Kg/h, e posteriormente na nova fábrica.Além da Fábrica de Massas Prazeres, o Sr. Santos e os serralheiros faziam a manutenção das máquinas e caldeiras dos Engenhos da Calheta.O recorde fabril de produção de massas alimentícias aconteceu no ano de 1973, na Rua 5 de Outubro, num mês que não me lembro , produziu-se 40 toneladas de massas. Para o meu pai foi uma grande vitória.Em 1975 foi inaugurada a nova fábrica Prazeres, sita na Ribeira de João Gomes, em instalações próprias, (com pé direito de 5 metros), equipada com 2 prensas alemãs novas de marca Lihotzky, capacitadas para uma produção de 300Kg/h cada, 1 trabatto (pré secador rápido) uma linha contínua de secagem, 3 secadores estáticos, 1 máquina italiana Braibanti, de empacotar automática, equipada com 4 balanças, 12 silos equipados com 3 tapetes transportadores, 1 caldeira de aquecimento de água em circuito fechado com passagem pelos secadores das massas alimentícias.Inicieu a minha carreira profissional na Fábrica em 1974, com o cargo de Controlador de Fabrico e Embalagem, posteriormente (1980) exercia a chefia da manutenção electro/mecánica das instalações fabris da Fábrica de Massas Prazeres.Quando as máquinas foram adjudicadas à empresa alemã Lihotzky no ano de 1973, foi atribuído um novo alvará de 300Kg por hora, contudo os alemães construíram a pedido do meu pai máquinas com capacidade superior, 2 x 300Kg= 600Kg/h.Interessante os sistemas variadores que equipavam as prensas, por meio de uma correia especial que trabalhava numa polé em V pressionada por uma forte mola helicoidal, do motor do sem-fim de carga , que aumentava a capacidade produtiva até aos 300Kh/h ou reduzia para cerca de 200Kg/h a capacidade horária de produção.Entretanto aconteceu a revolução do 25 de Abril de 1974, que acabou com o monopólio do estado.Em 1975, a fábrica devia à Caixa Económica a quantia de 25.000,00€ e quando Vasco Gonçalves era o Primeiro Ministro os juros bancários dispararam para 40 e tal por cento, o que à partida condenou economicamente a fábrica ao fracasso. E para cúmulo do insucesso fabril, a fábrica estava localizada no pior sítio para o tipo de indústria de massas alimentícias, à beira de uma ribeira, justamente na parte que afunila da Ribeira de João Gomes. As variações do clima do dia para a noite contribuia para a má qualidade do produto acabado. A caldeira durante a noite também desligava com frequência por causa da má qualidade do fuel, causando a par do clima impróprio da zona, secagens deficientes das massas, que ficavam fracas e de má qualidade na cozedura, com frequência.A farinha proveniente do trigo mole, era a única matéria prima existente no mercado regional para a produção de massas alimentícias, variava frequentemente na qualidade, com humidade e cinza excessiva de vez em quando, dando origem a quebras na produção e produto acabado de má qualidade, que aliado à zona imprópria onde a Fábrica estava localizada contribuia para o insucesso fabril da Fábrica de Massas Prazeres.Resumindo e concluindo, a fábrica começou a perder a fama adquirida nas instalações da Rua 5 de Outubro nº8. (eu até faço uma paridade das localizações erradas, da Fábrica de Massas Prazeres localizada na Ribeira de João Gomes, com a Marina do Lugar de Baixo na Ponta do Sol)Mas, enquanto a localização era errada, e a matéria prima, e o fuel, eram de má qualidade, por seu lado as 2 máquinas alemãs de produção designadas prensas, eram robustas e fiáveis.Praticamente na recta final do encerramento da fábrica, começamos finalmente a receber matéria prima à base de trigo duro, sêmola, possuindo excelente característica para o fabrico de massas alimentícias, mas a dívida já era incomportável, e partimos efectivamente para o encerramento de toda a actividade e respectiva venda do imóvel.A fábrica cessou a actividade fabril no ano de 1986.A maquinaria foi vendida para a sucata (Zeca) e o prédio vendido à CMF Câmara Municipal do Funchal pela quantia de 400.000,00€, quantia essa para cobrir a dívida à Caixa Económica do Funchal.Custo da linha contínua em 1972, composto por uma prensa, um trabatto, uma linha contínua de secagem (pré secador e secador final)A moeda alemã DM valia 8,651 Prensa 300Kg/h= 1.884,00€ (hoje uma máquina similar custa cerca de 50.000,00€)10 moldes em bronze com diâmetro de 26cm pesando cerca de 20Kg cada= 280,00€ (hoje, cada molde custa cerca de 400,00€)Trabatto= 585,00€Pré secador= 2.795,00€ (tapetes de nylon rolantes)Secador final= 4.515,00€ (tapetes de nylon rolantes)A Secção de embalamento composto por 12 silos, incluindo a máquina de empacotar italiana custou 3.500,00€Não estão contabilizados os custos da 2º prensa e de 3 secadores estáticos, a secção da caldeira, um transformador de alta tensão, os alimentadores automáticos de farinha às prensas e o monta cargas.O meu pai faleceu com 89 anos.Nota: A fábrica de massas alimentícias começou nos Prazeres, por iniciativa do meu avó, não havia electricidade, e tal como se visualiza na imagem superior, um veio ligado a uma roda de água com cerca de 4 metros de diâmetro, através de correias transmitia a força motriz à prensa e à amassadeira.Clientes desde a Ponta do Sol até ao Porto Moniz compravam massa verde, não havia secadores, e clientes trocavam trigo por massa. O Concelho da Calheta produzia bastante trigo nas dêcadas de 20 a 50.Posteriormente foram adaptados motores eléctricos às respectivas máquinas, e instalados secadores eléctricos que secavam a massa por meio de ventilação.

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