De Rerum Natura: Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas

30-09-2009
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Foi por mero acaso que encontrei este livro numa livraria, pois não costumo passar pelas secções, cada vez maiores, de auto-ajuda nas livrarias. Mas prendeu-me a atenção a capa: um homem vai distraído a olhar para o telemóvel e uma mulher vai, do outro lado da esquina e não menos distraída, a ouvir o Ipod. A colisão é inevitável... E o resultado podemos imaginá-lo.Acaso? Sim, acaso. A nossa vida está cheia de acasos. Coincidências, como ir a passar na esquina certa à hora certa. A escritora Margarida Rebelo Pinto tem um romance intitulado “Não há Coincidências”, mas o título está errado (obviamente que os títulos dos romances não têm que estar certos), pois há coincidências, e felizmente que há coincidências. Aliás, a nossa vida não teria graça nenhuma sem coincidências.Foi assim que comecei a ler o terceiro livro em português, “Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas”, do físico alemão Stefan Klein, tradução publicada pela Lua de Papel (um “imprint” da ASA para obras de ensaio) de “Alles Zufall”, à letra “Tudo é acaso” (Rowohlt, 2004). Os outros dois não me prenderam a atenção, talvez porque as capas não fossem tão apelativas. O primeiro saiu na Presença em 2005 intitulando-se “A Fórmula da Felicidade” (tem uma senhora a rir na capa) e o segundo saiu também na Lua de Papel em 2005 intitulando-se “Simplesmente Feliz: como as recentes descobertas da neurociência nos ajudam a encontrar a felicidade” (tem um malmequer na capa). O tradutor dos três, a partir do alemão (louve-se esse facto, pois a nossa tradução de ensaio tem mais tradição noutras línguas) é de João Bouza da Costa. A edição da Lua de Papel – a editora, dirigida por José Pratas, que conheceu um sucesso milionário com “O Segredo” de Rhonda Byrne e seus derivados – tem bom design e bom papel. A sugestiva ilustração da capa é de Carlos Antunes. A bela edição só peca por ter notas e bibliografia em letras pequeníssimas (além disso, a bibliografia não foi adaptada para os leitores portugueses, aparecendo por exemplo referências a traduções alemãs de Jorge Luís Borges e de Italo Calvino, quando há edições entre nós bem mais acessíveis).Na capa, o autor surge recomendado pelo neurocientista português António Damásio: “Stefan Klein é o mais importante escritor sobre Neurociência da Alemanha”. Toda a gente já ouviu falar de Damásio, mas poucos terão ouvido falar de Klein. Quem é? O autor tem 43 anos, estudou Física e Filosofia em Munique, tendo-se doutorado em Biofísica Teórica na Universidade de Friburgo. Tornou-se jornalista de ciência, qualidade em que trabalhou para as conceituadíssimas revistas “Spiegel” e a “Geo”. Ganhou um importante prémio alemão de jornalismo científico. Acabou já neste século por se tornar escritor de ciência a tempo inteiro, sedeado em Berlim, com títulos que têm conhecido um enorme sucesso internacional em dezenas de línguas, como, além dos três publicados em português europeu, “Os Diários da Criação” (DTV, 200) e “O Tempo” (Fischer, 2006). Este último, com o título “The Secret Pulse of Time” e o subtítulo “Making Sense of Life's Scarcest Commodity”, saiu em inglês na De Capo há poucos meses e está a conhecer enorme êxito lá fora.O livro “Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas” trata-se de divulgação científica (e, Damásio tem razão, de boa divulgação científica!), mas que pode, de facto, ser vista como auto-ajuda. Se a ajuda que o leitor pretende for saber o que é isso do acaso então poderá mesmo ser ajudado com a leitura desta obra. Klein começa por contar como o encontro da mãe e do pai dele foi resultado de uma sucessão de acasos. O leitor poderá ter o sabor da prosa escorreita de Klein ao ler parte da introdução num post anterior (aqui), que dá uma ideia da abordagem que o autor faz ao tema do livro. Eu não simpatizo muito com a literatura de auto-ajuda e acho “O Segredo” um chorrilho de tolices, que apenas servem para ludibriar muitos incautos. Mas os livros de Klein têm, ao contrário de “O Segredo” e quejandos, uma base científica. E se alguns leitores de auto-ajuda stiverem interessados em informação de base científica em vez de larachas e patranhas, só posso estar do lado deles e ajudá-los recomendando esta obra. De facto, hoje em dia a investigação em neurociências tem produzido resultados que nos ajudam a compreender melhor o funcionamento do nosso cérebro e, portanto, a procurar em, bases mais sólidas a tão desejada “felicidade”. Começam a aparecer livros sobre felicidade que têm uma base científica. Há muitas razões para apreciar a ciência, mas uma pode também ser esta: ela ajuda-nos a ser felizes!


Foi por mero acaso que encontrei este livro numa livraria, pois não costumo passar pelas secções, cada vez maiores, de auto-ajuda nas livrarias. Mas prendeu-me a atenção a capa: um homem vai distraído a olhar para o telemóvel e uma mulher vai, do outro lado da esquina e não menos distraída, a ouvir o Ipod. A colisão é inevitável... E o resultado podemos imaginá-lo.Acaso? Sim, acaso. A nossa vida está cheia de acasos. Coincidências, como ir a passar na esquina certa à hora certa. A escritora Margarida Rebelo Pinto tem um romance intitulado “Não há Coincidências”, mas o título está errado (obviamente que os títulos dos romances não têm que estar certos), pois há coincidências, e felizmente que há coincidências. Aliás, a nossa vida não teria graça nenhuma sem coincidências.Foi assim que comecei a ler o terceiro livro em português, “Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas”, do físico alemão Stefan Klein, tradução publicada pela Lua de Papel (um “imprint” da ASA para obras de ensaio) de “Alles Zufall”, à letra “Tudo é acaso” (Rowohlt, 2004). Os outros dois não me prenderam a atenção, talvez porque as capas não fossem tão apelativas. O primeiro saiu na Presença em 2005 intitulando-se “A Fórmula da Felicidade” (tem uma senhora a rir na capa) e o segundo saiu também na Lua de Papel em 2005 intitulando-se “Simplesmente Feliz: como as recentes descobertas da neurociência nos ajudam a encontrar a felicidade” (tem um malmequer na capa). O tradutor dos três, a partir do alemão (louve-se esse facto, pois a nossa tradução de ensaio tem mais tradição noutras línguas) é de João Bouza da Costa. A edição da Lua de Papel – a editora, dirigida por José Pratas, que conheceu um sucesso milionário com “O Segredo” de Rhonda Byrne e seus derivados – tem bom design e bom papel. A sugestiva ilustração da capa é de Carlos Antunes. A bela edição só peca por ter notas e bibliografia em letras pequeníssimas (além disso, a bibliografia não foi adaptada para os leitores portugueses, aparecendo por exemplo referências a traduções alemãs de Jorge Luís Borges e de Italo Calvino, quando há edições entre nós bem mais acessíveis).Na capa, o autor surge recomendado pelo neurocientista português António Damásio: “Stefan Klein é o mais importante escritor sobre Neurociência da Alemanha”. Toda a gente já ouviu falar de Damásio, mas poucos terão ouvido falar de Klein. Quem é? O autor tem 43 anos, estudou Física e Filosofia em Munique, tendo-se doutorado em Biofísica Teórica na Universidade de Friburgo. Tornou-se jornalista de ciência, qualidade em que trabalhou para as conceituadíssimas revistas “Spiegel” e a “Geo”. Ganhou um importante prémio alemão de jornalismo científico. Acabou já neste século por se tornar escritor de ciência a tempo inteiro, sedeado em Berlim, com títulos que têm conhecido um enorme sucesso internacional em dezenas de línguas, como, além dos três publicados em português europeu, “Os Diários da Criação” (DTV, 200) e “O Tempo” (Fischer, 2006). Este último, com o título “The Secret Pulse of Time” e o subtítulo “Making Sense of Life's Scarcest Commodity”, saiu em inglês na De Capo há poucos meses e está a conhecer enorme êxito lá fora.O livro “Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas” trata-se de divulgação científica (e, Damásio tem razão, de boa divulgação científica!), mas que pode, de facto, ser vista como auto-ajuda. Se a ajuda que o leitor pretende for saber o que é isso do acaso então poderá mesmo ser ajudado com a leitura desta obra. Klein começa por contar como o encontro da mãe e do pai dele foi resultado de uma sucessão de acasos. O leitor poderá ter o sabor da prosa escorreita de Klein ao ler parte da introdução num post anterior (aqui), que dá uma ideia da abordagem que o autor faz ao tema do livro. Eu não simpatizo muito com a literatura de auto-ajuda e acho “O Segredo” um chorrilho de tolices, que apenas servem para ludibriar muitos incautos. Mas os livros de Klein têm, ao contrário de “O Segredo” e quejandos, uma base científica. E se alguns leitores de auto-ajuda stiverem interessados em informação de base científica em vez de larachas e patranhas, só posso estar do lado deles e ajudá-los recomendando esta obra. De facto, hoje em dia a investigação em neurociências tem produzido resultados que nos ajudam a compreender melhor o funcionamento do nosso cérebro e, portanto, a procurar em, bases mais sólidas a tão desejada “felicidade”. Começam a aparecer livros sobre felicidade que têm uma base científica. Há muitas razões para apreciar a ciência, mas uma pode também ser esta: ela ajuda-nos a ser felizes!

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