A outra Varinha Mágica: Luxúria pornográfica e inveja nacional

20-05-2009
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Embora também esteja à venda com outras capas, esta é a do exemplar da Casa dos Budas Ditosos que temos cá em casa há uns anos já largos. O livro de João Ubaldo Ribeiro, um jornalista brasileiro de ascendência transmontana faz também parte de uma colecção acerca dos sete pecados mortais, tendo por título “Luxúria”. Esta edição que tenho comigo é, contudo, a única com uma gravura na capa. Faço este esclarecimento na sequência da notícia e comunicados a propósito do Grupo Auchan ter “censurado” a venda do livro nas suas lojas. É importante que se saiba que não foi pela capa, como aconteceu há dias numa feira do livro a propósito de uma pintura de Courbet, que o livro foi “censurado”. Foi mesmo pelo seu conteúdo, à semelhança, aliás, do que tinha acontecido há anos no Brasil. Diga-se aliás, como ironiza o autor, que a censura só lhe pode trazer mais vendas...De facto, o livro é “forte”, pois utiliza uma linguagem por vezes explícita, mas absolutamente literária e não menos chocante do que ouvimos muitas vezes em canais de televisão difundidos livremente no “cabo” português. João Ubaldo Ribeiro começa o seu livro informando que o que escreve não é mais do que a transcrição de algo que uma mulher desconhecida lhe deixara em papel, dentro de um envelope, para que o tornasse público, em livro. O resultado é a descrição, no feminino, de uma vida absolutamente depravada, de alguém cujos limites impostos pela sociedade nunca forma impeditivos da experimentação sexual e não só. Acaba por ser um livro fabuloso, pela crítica social que nele está explícita e implícita, pela qualidade literária, pela originalidade e pelo valor introspectivo que tem. A “censura” do Auchan (ou seja, dos hipermercados Jumbo) acaba por ser irónica. É que em vários episódios relatados no livro se expõe precisamente este tipo de hipocrisia social, este puritanismo perverso e denunciador do muito que está escondido na mente ou mesmo no quarto de quem toma a decisão.Pergunto-me, que espécie de preconceito levará alguém a querer guardado dentro das capas de um livro aquilo que lá se diz? Se a imagem na capa do “Pornocracia” ainda poderia incomodar alguém mais "distraído" e com dificuldades em relação à figura do sexo humano, o que está dentro de um livro apenas pode incomodar quem o lê e nele se revê… digo eu! Ou então, quem inveja acerca do que lá se escreveu, da vida que não tem e persente que outros tenham. Afinal, o livro não diz mal dos que vivem a vida sem preconceitos, sem temores de fantasmas ou sem problemas em relação ao seu próprio corpo e à sua própria sexualidade. Apenas critica fortemente os hipócritas que pregam a moral que não cumprem atrás da cortina ou os que criticam por não se sentirem capazes de alcançar o que invejam.Se algo pode, de facto, fazer reflectir quem lê “A Casa dos Budas Ditosos” não é a linguagem supostamente pornográfica (não muito diferente, como atrás escrevo, da linguagem dos nossos dias em tantas situações). Se algo pode fazer reflectir (e incomoda uns e não outros) é a forma brilhante como Ubaldo Riberio nos coloca ao espelho e perante situações que, cobardemente, negamos muitas vezes terem a ver connosco e atribuímos, de forma acusatória e censória, apenas e sempre aos outros. Aos impuros.Aconselho, por isso, a leitura deste livro acerca da luxúria que Ubaldo Ribeiro escreveu e que, no embalo, me remete para o também o excelente “Inveja – Mal Secreto” de outro jornalista brasileiro – Zuenir Ventura – da mesma colecção e que aborda de forma brilhante um pecado que classifica como “brasileiro”, mas que eu afirmo ser ainda mais português. Livro que, aliás, há uns meses aqui já tinha aconselhado no blog.


Embora também esteja à venda com outras capas, esta é a do exemplar da Casa dos Budas Ditosos que temos cá em casa há uns anos já largos. O livro de João Ubaldo Ribeiro, um jornalista brasileiro de ascendência transmontana faz também parte de uma colecção acerca dos sete pecados mortais, tendo por título “Luxúria”. Esta edição que tenho comigo é, contudo, a única com uma gravura na capa. Faço este esclarecimento na sequência da notícia e comunicados a propósito do Grupo Auchan ter “censurado” a venda do livro nas suas lojas. É importante que se saiba que não foi pela capa, como aconteceu há dias numa feira do livro a propósito de uma pintura de Courbet, que o livro foi “censurado”. Foi mesmo pelo seu conteúdo, à semelhança, aliás, do que tinha acontecido há anos no Brasil. Diga-se aliás, como ironiza o autor, que a censura só lhe pode trazer mais vendas...De facto, o livro é “forte”, pois utiliza uma linguagem por vezes explícita, mas absolutamente literária e não menos chocante do que ouvimos muitas vezes em canais de televisão difundidos livremente no “cabo” português. João Ubaldo Ribeiro começa o seu livro informando que o que escreve não é mais do que a transcrição de algo que uma mulher desconhecida lhe deixara em papel, dentro de um envelope, para que o tornasse público, em livro. O resultado é a descrição, no feminino, de uma vida absolutamente depravada, de alguém cujos limites impostos pela sociedade nunca forma impeditivos da experimentação sexual e não só. Acaba por ser um livro fabuloso, pela crítica social que nele está explícita e implícita, pela qualidade literária, pela originalidade e pelo valor introspectivo que tem. A “censura” do Auchan (ou seja, dos hipermercados Jumbo) acaba por ser irónica. É que em vários episódios relatados no livro se expõe precisamente este tipo de hipocrisia social, este puritanismo perverso e denunciador do muito que está escondido na mente ou mesmo no quarto de quem toma a decisão.Pergunto-me, que espécie de preconceito levará alguém a querer guardado dentro das capas de um livro aquilo que lá se diz? Se a imagem na capa do “Pornocracia” ainda poderia incomodar alguém mais "distraído" e com dificuldades em relação à figura do sexo humano, o que está dentro de um livro apenas pode incomodar quem o lê e nele se revê… digo eu! Ou então, quem inveja acerca do que lá se escreveu, da vida que não tem e persente que outros tenham. Afinal, o livro não diz mal dos que vivem a vida sem preconceitos, sem temores de fantasmas ou sem problemas em relação ao seu próprio corpo e à sua própria sexualidade. Apenas critica fortemente os hipócritas que pregam a moral que não cumprem atrás da cortina ou os que criticam por não se sentirem capazes de alcançar o que invejam.Se algo pode, de facto, fazer reflectir quem lê “A Casa dos Budas Ditosos” não é a linguagem supostamente pornográfica (não muito diferente, como atrás escrevo, da linguagem dos nossos dias em tantas situações). Se algo pode fazer reflectir (e incomoda uns e não outros) é a forma brilhante como Ubaldo Riberio nos coloca ao espelho e perante situações que, cobardemente, negamos muitas vezes terem a ver connosco e atribuímos, de forma acusatória e censória, apenas e sempre aos outros. Aos impuros.Aconselho, por isso, a leitura deste livro acerca da luxúria que Ubaldo Ribeiro escreveu e que, no embalo, me remete para o também o excelente “Inveja – Mal Secreto” de outro jornalista brasileiro – Zuenir Ventura – da mesma colecção e que aborda de forma brilhante um pecado que classifica como “brasileiro”, mas que eu afirmo ser ainda mais português. Livro que, aliás, há uns meses aqui já tinha aconselhado no blog.

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