«Avante!»Eram para aí duas e quarto da manhã, falavam só três de cada vez, mas ainda deu para perceber que, no último «Flashback» da SIC, José Magalhães afirmava que a insistência na ideia do «voluntariado» era algo de essencial para assegurar a coesão da opinião pública em torno da participação militar portuguesa na intervenção na Bósnia.Assim se confirmava, pela voz de um deputado do PS, tudo aquilo que antes já era possível intuir e subentender mas que agora deve ficar claramente estabelecido.Ou seja, que a obcessão do Governo do PS em frisar, desde ínicio, que os militares portugueses destacados para a Bósnia eram « duplamente voluntários » - voluntários para o Exército e voluntários para aquela precisa missão - sempre traduziu um sinal de má consciência e de flagrante medo da impopulariedade desta decisão e sempre foi usada com o intuito de amortecer a oposição à participação nacional naquela intervenção militar ditada pelos Estados Unidos.Na verdade, ao recorrer com tanta enfâse ao argumento do « voluntariado », o que o Governo do PS pretendeu foi também, de certa forma, transferir para os próprios militares parte das responsabilidades que eram exclusivamente suas, favorecendo nos circuitos de pensamento comum a ideia de que terá sido o Governo que decidiu mas também foram os próprios militares que quiseram ir.Entendamo-nos: a questão do « voluntariado » (ou não) devia ter sido e continua a ser totalmente irrelevante para ajuizar do fundo desta questão. Mas o Governo que, artificiosamente, resolveu dar-lhe tanta proeminência no quadro dos argumentos e justificações para a sua decisão não pode agora queixar-se dos inevitáveis richochetes da questão do «voluntariado».E o primeiro ricochete está, desde logo, em que muita gente percebe que uma vez assegurado o primeiro « voluntariado » ( para o Exército ) estava, pela força das coisas, praticamente garantido o segundo « voluntariado» ( para a missão na Bósnia ), uma vez que se alguém tem um vínculo militar de natureza profissional, ainda por cima em tropas especiais, bem pode imaginar as consequências para a manutenção desse vínculo ( e das correspondentes remunerações) da sua recusa em participar numa missão como a da Bósnia.O segundo ricochete é entretanto muitíssimo mais devastador. É que, em rigor, a importância atribuida Governo ao tema do « voluntariado » é absolutamente contraditória com o tipo de justificações e objectivos arrolados pelo próprio Governo para a presença de tropas portuguesa na Bósnia, e que, como se sabe, se sustentam em alegados critérios de « interesse nacional », «de defesa da paz»,, de « deveres de solidariedade » , de « prestigio de Portugal» na cena internacional .Com efeito, a teoria do «voluntariado» tem este pequeno senão: é que a sua consequência lógica, seria, nem mais nem menos, a de que, no caso de não haver « voluntários», o país ficaria então desprovido de meios e condições para a concretização de missões militares que entretanto foram grandiloquentemente apresentadas como imperativos de Estado e de realização do interesse nacional.Nesta matéria, o pior de tudo é, não o esqueçamos, a errada, grave e perigosa decisão do Governo PS de mandar uma força militar para a Bósnia. Mas, logo o seguir, talvez o pior esteja no seu cobarde truque do «voluntariado».eios e condições para a concretização de missões militares que entretanto foram grandiloquentemen
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«Avante!»Eram para aí duas e quarto da manhã, falavam só três de cada vez, mas ainda deu para perceber que, no último «Flashback» da SIC, José Magalhães afirmava que a insistência na ideia do «voluntariado» era algo de essencial para assegurar a coesão da opinião pública em torno da participação militar portuguesa na intervenção na Bósnia.Assim se confirmava, pela voz de um deputado do PS, tudo aquilo que antes já era possível intuir e subentender mas que agora deve ficar claramente estabelecido.Ou seja, que a obcessão do Governo do PS em frisar, desde ínicio, que os militares portugueses destacados para a Bósnia eram « duplamente voluntários » - voluntários para o Exército e voluntários para aquela precisa missão - sempre traduziu um sinal de má consciência e de flagrante medo da impopulariedade desta decisão e sempre foi usada com o intuito de amortecer a oposição à participação nacional naquela intervenção militar ditada pelos Estados Unidos.Na verdade, ao recorrer com tanta enfâse ao argumento do « voluntariado », o que o Governo do PS pretendeu foi também, de certa forma, transferir para os próprios militares parte das responsabilidades que eram exclusivamente suas, favorecendo nos circuitos de pensamento comum a ideia de que terá sido o Governo que decidiu mas também foram os próprios militares que quiseram ir.Entendamo-nos: a questão do « voluntariado » (ou não) devia ter sido e continua a ser totalmente irrelevante para ajuizar do fundo desta questão. Mas o Governo que, artificiosamente, resolveu dar-lhe tanta proeminência no quadro dos argumentos e justificações para a sua decisão não pode agora queixar-se dos inevitáveis richochetes da questão do «voluntariado».E o primeiro ricochete está, desde logo, em que muita gente percebe que uma vez assegurado o primeiro « voluntariado » ( para o Exército ) estava, pela força das coisas, praticamente garantido o segundo « voluntariado» ( para a missão na Bósnia ), uma vez que se alguém tem um vínculo militar de natureza profissional, ainda por cima em tropas especiais, bem pode imaginar as consequências para a manutenção desse vínculo ( e das correspondentes remunerações) da sua recusa em participar numa missão como a da Bósnia.O segundo ricochete é entretanto muitíssimo mais devastador. É que, em rigor, a importância atribuida Governo ao tema do « voluntariado » é absolutamente contraditória com o tipo de justificações e objectivos arrolados pelo próprio Governo para a presença de tropas portuguesa na Bósnia, e que, como se sabe, se sustentam em alegados critérios de « interesse nacional », «de defesa da paz»,, de « deveres de solidariedade » , de « prestigio de Portugal» na cena internacional .Com efeito, a teoria do «voluntariado» tem este pequeno senão: é que a sua consequência lógica, seria, nem mais nem menos, a de que, no caso de não haver « voluntários», o país ficaria então desprovido de meios e condições para a concretização de missões militares que entretanto foram grandiloquentemente apresentadas como imperativos de Estado e de realização do interesse nacional.Nesta matéria, o pior de tudo é, não o esqueçamos, a errada, grave e perigosa decisão do Governo PS de mandar uma força militar para a Bósnia. Mas, logo o seguir, talvez o pior esteja no seu cobarde truque do «voluntariado».eios e condições para a concretização de missões militares que entretanto foram grandiloquentemen