Ontem, Fernanda Câncio parece não ter gostado muito de um comentário meu a um seu post no Jugular. Citando Nixon que citava Ben Bradlee, Câncio atribuiu a esta afirmação do ex-editor do Washington Post – “We don't print the truth. We print what we know. We print what people tell us and that means that we print lies” – uma importância desmesurada. Escreveu Câncio comentado esta frase - volto a lembrar, é uma citação de Nixon, citando Bradlee:“poucas vezes vi alguém sumarizar de forma tão simples a essência do jornalismo -- o seu melhor e o seu pior. esta frase devia ser repetida e dissecada em todos os cursos de jornalismo e plasmada em todas as redacções. e surgir, como advisory, em todos os produtos jornalísticos -- porque, pelos vistos, é preciso.”Na caixa de comentários ao post de Fernanda Câncio, escrevi simplesmente:“Só não entendi onde queria chegar com esta citação. No caso de Nixon... era verdade!”Este meu comentário provocou a ira de Câncio que chegou a insultar-me em resposta, acusando-me nomeadamente:“percebo que a si -- estava à espera de uma interpretação como a sua antes mesmo de postar este texto -- só lhe interessem teorias da constipação e idiotices quejandas”Tentando manter uma certa elevação perante um insulto despropositado, lembrei a Câncio que Bradlee disse muito mais do que isso e que considerava redutor resumir o jornalismo a esta frase, descontextualizada. Câncio, como habitualmente, continuou a insinuar a ignorância de quem não concorda com ela e a terminar comentários com expressões em inglês, como se isso, de alguma forma, lhe desse qualquer razão acrescida.Pois hoje, com mais paciência e tempo do que tinha ontem quando a troca de palavras se deu aqui e no Jugular, permito-me citar uma entrevista de Bradlee sobre o mesmo tema. De facto, prezada f. – escrevo com minúscula não por desrespeito, mas para tentar cumprir os estranhos princípios da sua escrita cheia de personalidade (cheia de mais, digo eu) – Bradlee mostrou-nos qual era o caminho do jornalismo e disse-nos muito mais do que essa frase descontextualizada e redutora que, apenas por motivos que parece ter assumido mesmo antes de publicar o seu post (f. dixit), citou… citando Nixon.Bradlee, além de nos ter mostrado que o caminho do jornalismo é escrever a verdade, doa a quem doer, disse a propósito do Wattergate em entrevista a JIM LEHRER: JIM LEHRER: But these were kid reporters. Why did you give so much faith in them?BEN BRADLEE: Well, because they were right.JIM LEHRER: How did you know they were right?BEN BRADLEE: Because nobody told me they were wrong and nobody could prove they were wrong; they weren't wrong.And, you know, I am very proud of the fact that we had perhaps four hundred Watergate stories and we made one mistake and it was a tiny mistake; it sounded big because it enabled the person who had told us to deny it to Dan Schorr and it was on all over the television.No jornalismo, como na vida, todos erramos. As fontes, às vezes, mentem e até os amigos nos traem. Mas o importante do jornalismo não é nada isso. O jornalismo não é qualquer coisa pessoal que se usa em proveito de alguém, nem é a manipulação das palavras de terceiros, como tentou fazer a f. no seu post e, com certeza, o próprio Nixon.Se algo nos deixou Bradlle, o Washington Post, aqueles dois repórteres, o inconformado “Garganta Funda” e toda a história do Wattergate, é que se há fontes de quem devemos sempre desconfiar são as oficiais, sejam governamentais, sejam as da Justiça. Essas foram as fontes que sistematicamente mentiram no Wattergate e essas são as que mais têm comprovadamente mentido na história recente dos países democráticos. Aliás, e vem a propósito, fez ontem cinco anos que o Governo espanhol garantiu a pés juntos ter sido a ETA a responsável pelos ataques de Madrid, sabendo perfeitamente haver todas as razões para acreditar que não tinha sido. Faz amanhã cinco anos que o El País desmentiu o Primeiro-Ministro. Como disse a propósito Cebrián: “não nos passava pela cabeça que um Primeiro-Ministro fosse uma má fonte e, por isso, publicámos uma mentira. Mas a partir de agora, temos que desconfiar sempre da palavra de um Primeiro-Ministro, antes de a usar como fonte”. .
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Ontem, Fernanda Câncio parece não ter gostado muito de um comentário meu a um seu post no Jugular. Citando Nixon que citava Ben Bradlee, Câncio atribuiu a esta afirmação do ex-editor do Washington Post – “We don't print the truth. We print what we know. We print what people tell us and that means that we print lies” – uma importância desmesurada. Escreveu Câncio comentado esta frase - volto a lembrar, é uma citação de Nixon, citando Bradlee:“poucas vezes vi alguém sumarizar de forma tão simples a essência do jornalismo -- o seu melhor e o seu pior. esta frase devia ser repetida e dissecada em todos os cursos de jornalismo e plasmada em todas as redacções. e surgir, como advisory, em todos os produtos jornalísticos -- porque, pelos vistos, é preciso.”Na caixa de comentários ao post de Fernanda Câncio, escrevi simplesmente:“Só não entendi onde queria chegar com esta citação. No caso de Nixon... era verdade!”Este meu comentário provocou a ira de Câncio que chegou a insultar-me em resposta, acusando-me nomeadamente:“percebo que a si -- estava à espera de uma interpretação como a sua antes mesmo de postar este texto -- só lhe interessem teorias da constipação e idiotices quejandas”Tentando manter uma certa elevação perante um insulto despropositado, lembrei a Câncio que Bradlee disse muito mais do que isso e que considerava redutor resumir o jornalismo a esta frase, descontextualizada. Câncio, como habitualmente, continuou a insinuar a ignorância de quem não concorda com ela e a terminar comentários com expressões em inglês, como se isso, de alguma forma, lhe desse qualquer razão acrescida.Pois hoje, com mais paciência e tempo do que tinha ontem quando a troca de palavras se deu aqui e no Jugular, permito-me citar uma entrevista de Bradlee sobre o mesmo tema. De facto, prezada f. – escrevo com minúscula não por desrespeito, mas para tentar cumprir os estranhos princípios da sua escrita cheia de personalidade (cheia de mais, digo eu) – Bradlee mostrou-nos qual era o caminho do jornalismo e disse-nos muito mais do que essa frase descontextualizada e redutora que, apenas por motivos que parece ter assumido mesmo antes de publicar o seu post (f. dixit), citou… citando Nixon.Bradlee, além de nos ter mostrado que o caminho do jornalismo é escrever a verdade, doa a quem doer, disse a propósito do Wattergate em entrevista a JIM LEHRER: JIM LEHRER: But these were kid reporters. Why did you give so much faith in them?BEN BRADLEE: Well, because they were right.JIM LEHRER: How did you know they were right?BEN BRADLEE: Because nobody told me they were wrong and nobody could prove they were wrong; they weren't wrong.And, you know, I am very proud of the fact that we had perhaps four hundred Watergate stories and we made one mistake and it was a tiny mistake; it sounded big because it enabled the person who had told us to deny it to Dan Schorr and it was on all over the television.No jornalismo, como na vida, todos erramos. As fontes, às vezes, mentem e até os amigos nos traem. Mas o importante do jornalismo não é nada isso. O jornalismo não é qualquer coisa pessoal que se usa em proveito de alguém, nem é a manipulação das palavras de terceiros, como tentou fazer a f. no seu post e, com certeza, o próprio Nixon.Se algo nos deixou Bradlle, o Washington Post, aqueles dois repórteres, o inconformado “Garganta Funda” e toda a história do Wattergate, é que se há fontes de quem devemos sempre desconfiar são as oficiais, sejam governamentais, sejam as da Justiça. Essas foram as fontes que sistematicamente mentiram no Wattergate e essas são as que mais têm comprovadamente mentido na história recente dos países democráticos. Aliás, e vem a propósito, fez ontem cinco anos que o Governo espanhol garantiu a pés juntos ter sido a ETA a responsável pelos ataques de Madrid, sabendo perfeitamente haver todas as razões para acreditar que não tinha sido. Faz amanhã cinco anos que o El País desmentiu o Primeiro-Ministro. Como disse a propósito Cebrián: “não nos passava pela cabeça que um Primeiro-Ministro fosse uma má fonte e, por isso, publicámos uma mentira. Mas a partir de agora, temos que desconfiar sempre da palavra de um Primeiro-Ministro, antes de a usar como fonte”. .