"(...) Nesse encontro dei nota de que o declínio do Norte é, em primeiro lugar, da responsabilidade de alguns empresários e gestores da região, que não souberam antecipar a necessidade de reestruturação de certos modelos empresariais que, fruto da globalização, estavam ameaçados. Disse ainda que, para assegurar a qualidade da gestão a prazo, é fundamental profissionalizar as empresas privilegiando, na gestão, a competência à propriedade. O que, muitas vezes, não acontece a Norte.Referi, depois, que outro factor que explica o declínio do Norte (e do Interior) é o modelo de organização do Estado, excessiva e crescentemente centralista, que obriga os empresários do Norte a viajarem constantemente para Sul para desbloquearem decisões e negócios, criando uma teia de cumplicidades entre o poder político central e os grupos empresariais que favorece, não poucas vezes, o capital sediado em Lisboa. Face a este modelo de organização do Estado e a este estado das coisas (e, também aqui, uma coisa é consequência da outra), aconselhei pragmatismo aos grupos a Norte: para vencer determinados campeonatos empresariais é necessário investir em competências relacionais que facilitem a influência no poder central. A esse propósito usei a expressão em itálico que encabeça o meu artigo, realidade que Sousa Tavares reconhece ser absolutamente verdadeira. Nunca incentivei quem quer que fosse a usar essas competências de forma ilegal: ter influência não é sinónimo de 'traficar influências'. Nesta matéria cada um actua de acordo com a sua consciência. No meu caso, e para conforto pessoal, escolho selectivamente as empresas onde aceito trabalhar. Mas não me fiquei por aqui. Porque este modelo de organização do Estado não me parece o mais correcto para o desenvolvimento equilibrado do país e não gosto deste estado de coisas - nem da forma como certas decisões políticas e empresariais são tomadas -, defendi a necessidade de aprofundar o debate sobre a descentralização do Estado. Esclareço que, neste momento, apesar da simpatia que o tema me merece, não sou capaz de tomar uma posição favorável à regionalização. Enquanto não for claro o modelo de governação proposto, não sei do que se está a falar.Parece-me óbvio, no entanto, face à análise comparativa com a Espanha, que a instituição de poder político mais descentralizado favorece o desenvolvimento empresarial distante da capital, entre muitas outras razões, porque determinadas decisões fundamentais - a gestão de infra-estruturas, por exemplo - são tomadas em função dos interesses das regiões que servem e não meramente numa óptica centralista. A forma como esse desenvolvimento é concretizado, mais uma vez, depende da consciência de cada agente. Tenho a esperança de que, quanto mais partilhado for o poder, menor a corrupção. Este foi o conteúdo e o espírito da minha intervenção na sessão. (...)"António Pires de LimaPara ler tudo, consulte o Expresso.Para ler o artigo de Miguel Sousa Tavares que originou a resposta de Pires de Lima, consulte também o Expresso. Nesse artigo, MST mostra-se muito mais favorável à regionalização/descentralização que o habitual. Sinais dos tempos...Já agora, ler também este texto de MST sobre o tráfego de influências no Estado. Porque uma das características do centralismo é também a falta de supervisão das decisões do Estado Central. É preciso uma democracia mais participativa e mais directa.
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"(...) Nesse encontro dei nota de que o declínio do Norte é, em primeiro lugar, da responsabilidade de alguns empresários e gestores da região, que não souberam antecipar a necessidade de reestruturação de certos modelos empresariais que, fruto da globalização, estavam ameaçados. Disse ainda que, para assegurar a qualidade da gestão a prazo, é fundamental profissionalizar as empresas privilegiando, na gestão, a competência à propriedade. O que, muitas vezes, não acontece a Norte.Referi, depois, que outro factor que explica o declínio do Norte (e do Interior) é o modelo de organização do Estado, excessiva e crescentemente centralista, que obriga os empresários do Norte a viajarem constantemente para Sul para desbloquearem decisões e negócios, criando uma teia de cumplicidades entre o poder político central e os grupos empresariais que favorece, não poucas vezes, o capital sediado em Lisboa. Face a este modelo de organização do Estado e a este estado das coisas (e, também aqui, uma coisa é consequência da outra), aconselhei pragmatismo aos grupos a Norte: para vencer determinados campeonatos empresariais é necessário investir em competências relacionais que facilitem a influência no poder central. A esse propósito usei a expressão em itálico que encabeça o meu artigo, realidade que Sousa Tavares reconhece ser absolutamente verdadeira. Nunca incentivei quem quer que fosse a usar essas competências de forma ilegal: ter influência não é sinónimo de 'traficar influências'. Nesta matéria cada um actua de acordo com a sua consciência. No meu caso, e para conforto pessoal, escolho selectivamente as empresas onde aceito trabalhar. Mas não me fiquei por aqui. Porque este modelo de organização do Estado não me parece o mais correcto para o desenvolvimento equilibrado do país e não gosto deste estado de coisas - nem da forma como certas decisões políticas e empresariais são tomadas -, defendi a necessidade de aprofundar o debate sobre a descentralização do Estado. Esclareço que, neste momento, apesar da simpatia que o tema me merece, não sou capaz de tomar uma posição favorável à regionalização. Enquanto não for claro o modelo de governação proposto, não sei do que se está a falar.Parece-me óbvio, no entanto, face à análise comparativa com a Espanha, que a instituição de poder político mais descentralizado favorece o desenvolvimento empresarial distante da capital, entre muitas outras razões, porque determinadas decisões fundamentais - a gestão de infra-estruturas, por exemplo - são tomadas em função dos interesses das regiões que servem e não meramente numa óptica centralista. A forma como esse desenvolvimento é concretizado, mais uma vez, depende da consciência de cada agente. Tenho a esperança de que, quanto mais partilhado for o poder, menor a corrupção. Este foi o conteúdo e o espírito da minha intervenção na sessão. (...)"António Pires de LimaPara ler tudo, consulte o Expresso.Para ler o artigo de Miguel Sousa Tavares que originou a resposta de Pires de Lima, consulte também o Expresso. Nesse artigo, MST mostra-se muito mais favorável à regionalização/descentralização que o habitual. Sinais dos tempos...Já agora, ler também este texto de MST sobre o tráfego de influências no Estado. Porque uma das características do centralismo é também a falta de supervisão das decisões do Estado Central. É preciso uma democracia mais participativa e mais directa.