Regressam-me à memória, num turbilhão, todas as imagens, vistas agora deste céu. De uma cidade de árvores recortadas por casas. Da trovoada que vi, espantado, a cada segundo tornar-se mais forte e mais poderosa. Ao sair do autocarro, com a dificuldade de um carrinho de bebé, uma jovem mulher encontra a irmã, e o rosto de esforço transfigura-se em felicidade. Numa sucata, ao fim da rua, um grupo de homens de leste com aspecto mafioso cumprimentam-se com dois beijos e negoceiam um carro com aspecto de roubado. Duas crianças turcas brincam sob o olhar azul atento da mãe, no metro. Um pedinte apenas me pede lume por duas vezes, esquecendo-se da minha cara à primeira. Um elevador de barcos fá-los descer até chegarem à Polónia, do outro lado. Em Potsdam, descobri, de chinelos por cima dos sapatos, casas reais e salas de tronos. No comboio, tentei chamar Madalena ao longe, com o olhar, sem que ela me ouvisse. Vi lugares de vida, de morte e de ressurreição. De inocência e de culpa. Abri a porta ao sonho, a cada dia. Agora, fecho os olhos, e sinto cada vez mais que trocaria tudo por um segundo de ti. A dois passos daqui, reconstruo o Muro. Com as costas na terra, revejo a trovoada, e choro, sem uma única lágrima, a tua ausência.
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Regressam-me à memória, num turbilhão, todas as imagens, vistas agora deste céu. De uma cidade de árvores recortadas por casas. Da trovoada que vi, espantado, a cada segundo tornar-se mais forte e mais poderosa. Ao sair do autocarro, com a dificuldade de um carrinho de bebé, uma jovem mulher encontra a irmã, e o rosto de esforço transfigura-se em felicidade. Numa sucata, ao fim da rua, um grupo de homens de leste com aspecto mafioso cumprimentam-se com dois beijos e negoceiam um carro com aspecto de roubado. Duas crianças turcas brincam sob o olhar azul atento da mãe, no metro. Um pedinte apenas me pede lume por duas vezes, esquecendo-se da minha cara à primeira. Um elevador de barcos fá-los descer até chegarem à Polónia, do outro lado. Em Potsdam, descobri, de chinelos por cima dos sapatos, casas reais e salas de tronos. No comboio, tentei chamar Madalena ao longe, com o olhar, sem que ela me ouvisse. Vi lugares de vida, de morte e de ressurreição. De inocência e de culpa. Abri a porta ao sonho, a cada dia. Agora, fecho os olhos, e sinto cada vez mais que trocaria tudo por um segundo de ti. A dois passos daqui, reconstruo o Muro. Com as costas na terra, revejo a trovoada, e choro, sem uma única lágrima, a tua ausência.