O valor das ideias: Deflação: a crise parece estar destinada a ser em forma de L

29-09-2009
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A deflação, constatou-se ontem, está aí. Com a tendência negativa de evolução do Índice de Preços no Consumidor Harmonizado para UE, e com o registo de uma inflação homóloga nula, não é difícil antecipar para onde vamos.Já em Março, diversos economistas, apontavam para a entrada na zona Euro em terreno deflacionário. Quando o defendi, foi-me dito que havia antes que ter em conta que era uma correcção dos preços do petróleo. Contrargumentai, que os dados para a própria inflação subjacente (excluindo do índice produtos de preço mais volátil) mostravam essa entrada em terreno negativo na Eurolândia.Não é motivo de gaúdio nem meu, nem seguramente de nenhum economista que partilhou desta análise estar certo neste domínio. Uma espiral deflacionária é o pior que pode acontecer à Europa. E as notícias de hoje levam-me a crer que será mesmo uma espiral.Como se escreve aqui, o parlamento alemão ia aprovar hoje uma regra de contenção orçamental. Leia-se: evitar pacotes de estímulos à Economia. Ora grande parte do problema germânico, uma economia com um peso enorme nas estatísticas comunitárias, advêm da quebra da procura externa e da reduzida propensão ao consumo interno. Se a Alemanha não estimular as suas compras públicas, mediante investimento público que redinamize o grosso da sua indústria: produção de máquinas e equipamentos - a quebra de procura vai-se perpetuando. A diminuição do produto, traduz-se numa quebra do emprego, e no que pode vir a ser um problema de pressão descendente a nível salarial. Problema porque agudizará a crise da já débil procura interna. Sejamos claros, se a inflação na zona Euro caiu para 0%, o peso da Alemanha nas estatísticas do BCE tem que ter ajudado a isso. E se a Alemanha está em deflação, a aprovação do limite do défice nuns estúpidos o,35%, conjugada com a falta do seu motor de crescimento, que era a procura externa, só podem agudizar a situação. Um quebra salarial matará o já de si pouco dinâmico consumo privado.Ademais, a deflação tem o efeito de adiar as decisões de consumo e investimento: porque hei-de pagar hoje 1000 Euros por algo que daqui a um ano custa 900? E a procura contrai-se mais ainda.O problema de fundo para a zona Euro, advém não só do rigor espartano dos défices como da consensualmente fraca resposta do BCE à crise. As taxas de juro foram descendo muito mais lentamente que nos EUA ou no Reino Unido. E quando deviam descer ainda mais, falcões do BCE, como Axel Weber, defendem que 1% é um mínimo. Tal como defendi há dias, aqui, é da capacidade de reforma rápida do PEC e do BCE que depende a capacidade da economia europeia saír em menor tempo da crise. Mas o conservadorismo fiscal germânico patente na proposta de hoje, advoga o pior dos cenários. Como disse nesse post, cabe aos demais países da união seguir a sugestão de Anatole Koletsky e pressionar a Alemanha a baixar a guarda orçamental. Sem isso, a crise será seguramente, na moda das letras, em L: o que quer dizer que o fundo do poço é duradouro. E parece que ainda lá não chegamos. O consenso entre economistas tão insuspeitos como Solow ou Feldstein é que os EUA precisam de um reforço do pacote de estímulos. Quem critica o investimento público que se propõe em Portugal, devia saber que isto é gente que sempre foi adversa a défices. Mas que reconhece que há pouco mais a fazer.


A deflação, constatou-se ontem, está aí. Com a tendência negativa de evolução do Índice de Preços no Consumidor Harmonizado para UE, e com o registo de uma inflação homóloga nula, não é difícil antecipar para onde vamos.Já em Março, diversos economistas, apontavam para a entrada na zona Euro em terreno deflacionário. Quando o defendi, foi-me dito que havia antes que ter em conta que era uma correcção dos preços do petróleo. Contrargumentai, que os dados para a própria inflação subjacente (excluindo do índice produtos de preço mais volátil) mostravam essa entrada em terreno negativo na Eurolândia.Não é motivo de gaúdio nem meu, nem seguramente de nenhum economista que partilhou desta análise estar certo neste domínio. Uma espiral deflacionária é o pior que pode acontecer à Europa. E as notícias de hoje levam-me a crer que será mesmo uma espiral.Como se escreve aqui, o parlamento alemão ia aprovar hoje uma regra de contenção orçamental. Leia-se: evitar pacotes de estímulos à Economia. Ora grande parte do problema germânico, uma economia com um peso enorme nas estatísticas comunitárias, advêm da quebra da procura externa e da reduzida propensão ao consumo interno. Se a Alemanha não estimular as suas compras públicas, mediante investimento público que redinamize o grosso da sua indústria: produção de máquinas e equipamentos - a quebra de procura vai-se perpetuando. A diminuição do produto, traduz-se numa quebra do emprego, e no que pode vir a ser um problema de pressão descendente a nível salarial. Problema porque agudizará a crise da já débil procura interna. Sejamos claros, se a inflação na zona Euro caiu para 0%, o peso da Alemanha nas estatísticas do BCE tem que ter ajudado a isso. E se a Alemanha está em deflação, a aprovação do limite do défice nuns estúpidos o,35%, conjugada com a falta do seu motor de crescimento, que era a procura externa, só podem agudizar a situação. Um quebra salarial matará o já de si pouco dinâmico consumo privado.Ademais, a deflação tem o efeito de adiar as decisões de consumo e investimento: porque hei-de pagar hoje 1000 Euros por algo que daqui a um ano custa 900? E a procura contrai-se mais ainda.O problema de fundo para a zona Euro, advém não só do rigor espartano dos défices como da consensualmente fraca resposta do BCE à crise. As taxas de juro foram descendo muito mais lentamente que nos EUA ou no Reino Unido. E quando deviam descer ainda mais, falcões do BCE, como Axel Weber, defendem que 1% é um mínimo. Tal como defendi há dias, aqui, é da capacidade de reforma rápida do PEC e do BCE que depende a capacidade da economia europeia saír em menor tempo da crise. Mas o conservadorismo fiscal germânico patente na proposta de hoje, advoga o pior dos cenários. Como disse nesse post, cabe aos demais países da união seguir a sugestão de Anatole Koletsky e pressionar a Alemanha a baixar a guarda orçamental. Sem isso, a crise será seguramente, na moda das letras, em L: o que quer dizer que o fundo do poço é duradouro. E parece que ainda lá não chegamos. O consenso entre economistas tão insuspeitos como Solow ou Feldstein é que os EUA precisam de um reforço do pacote de estímulos. Quem critica o investimento público que se propõe em Portugal, devia saber que isto é gente que sempre foi adversa a défices. Mas que reconhece que há pouco mais a fazer.

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