O livro que estou a ler começa assim: "Há poucas coisas a que o ser humano se dedique mais do que à infelicidade." Convenhamos que o início é auspicioso. O autor da frase é Alain De Botton, e a obra de que falo é "Como Proust Pode Mudar A Sua Vida"(Ed. D. Quixote).O jovem filósofo (De Botton nasceu em 1969) explica como o escritor francês nos abre os olhos para a necessidade da lentidão. O que Proust nos ensina é que a principal regra de conduta na vida deverá ser esta:"n'allez pas trop vite".As primeiras dezassete páginas do seu mais conhecido romance, "Em Busca do Tempo Perdido", descrevem as voltas e mais voltas que um tipo dá na cama até adormecer("até deixar-se dormir", dizemos nós aqui no Alentejo- expressão muito mais complexa e fecunda, metafisicamente falando...). A atenção ao pormenor e ao que está à volta do que estamos vivendo pode ser um dos segredos para ultrapassar as dores disto a que chamamos vida. A única espécie de redenção a que podemos aspirar é aquela que nos é dada pela cuidada observação dos outros e de nós mesmos, que funde passado, presente e futuro. E que nos põe em perspectiva.No livro de Proust encontramos reflexões sobre tudo o que mais importa; de uma forma extraordinariamente bela (e também, de certa maneira, sinistra) podemos contemplar-nos ao espelho.
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O livro que estou a ler começa assim: "Há poucas coisas a que o ser humano se dedique mais do que à infelicidade." Convenhamos que o início é auspicioso. O autor da frase é Alain De Botton, e a obra de que falo é "Como Proust Pode Mudar A Sua Vida"(Ed. D. Quixote).O jovem filósofo (De Botton nasceu em 1969) explica como o escritor francês nos abre os olhos para a necessidade da lentidão. O que Proust nos ensina é que a principal regra de conduta na vida deverá ser esta:"n'allez pas trop vite".As primeiras dezassete páginas do seu mais conhecido romance, "Em Busca do Tempo Perdido", descrevem as voltas e mais voltas que um tipo dá na cama até adormecer("até deixar-se dormir", dizemos nós aqui no Alentejo- expressão muito mais complexa e fecunda, metafisicamente falando...). A atenção ao pormenor e ao que está à volta do que estamos vivendo pode ser um dos segredos para ultrapassar as dores disto a que chamamos vida. A única espécie de redenção a que podemos aspirar é aquela que nos é dada pela cuidada observação dos outros e de nós mesmos, que funde passado, presente e futuro. E que nos põe em perspectiva.No livro de Proust encontramos reflexões sobre tudo o que mais importa; de uma forma extraordinariamente bela (e também, de certa maneira, sinistra) podemos contemplar-nos ao espelho.