O Cachimbo de Magritte: In Nomine Dei

28-12-2009
marcar artigo


Em Rio de Moinhos, havia um bruxo. Católico, asseguram os vizinhos, mas bruxo. Vivia, como se espera de um bruxo, sem água, sem luz e sem telefone, mas com um irmão, supõe-se que menos bruxo mas não menos católico. Não cobrava pelas bruxarias, mas a gratidão dos pacientes não o deixava à míngua de euros. Um dos quartos do casebre estava atravancado de santinhos, cúmplices cristãos das mezinhas e das rezas pouco canónicas mas, jura uma vizinha, sempre feitas “em nome de Deus”, não fosse a ortodoxia de algum padre querer condená-lo à excomunhão. Ainda segundo os vizinhos, a fama do bruxo de Rio de Moinhos (em matérias do oculto devemos ter o cuidado de não mencionar concelhos, sob pena de destruirmos o mistério a golpes de precisão geográfica e rigor municipal) chegava até Setúbal, facto que positivamente me intrigou. Talvez os habitantes de Rio de Moinhos tenham Setúbal como o ponto mais meridional do país, uma espécie de Cabo das Tormentas para além do qual não se atrevem sequer os sucessos dos mais admirados bruxos nortenhos. Mas se a fama do bruxo chegou a Setúbal - acreditemos na palavra daquelas gentes - chegou muito longe. Em jeito de comparação, atentemos nas votações do PSD naquela região, que confirmam que a fama que ali chega do maior partido da oposição é escassa e mesmo essa não é boa. Sucede que o bruxo morreu, um destino banal até para a população não bruxa. Alguém o assassinou: e aqui o caso passa do banal para o policial, permanecendo esotérico desde o início. O sincretismo do bruxo católico, a sua fama que só por acaso não se espalhou Portugal abaixo até terras dos mouros e o seu fim violento lembram-nos que o país profundo precisa de romancistas que nele mergulhem. Entretanto, mais por curiosidade mórbida do que por fruição literária, vamos lendo o Correio da Manhã.


Em Rio de Moinhos, havia um bruxo. Católico, asseguram os vizinhos, mas bruxo. Vivia, como se espera de um bruxo, sem água, sem luz e sem telefone, mas com um irmão, supõe-se que menos bruxo mas não menos católico. Não cobrava pelas bruxarias, mas a gratidão dos pacientes não o deixava à míngua de euros. Um dos quartos do casebre estava atravancado de santinhos, cúmplices cristãos das mezinhas e das rezas pouco canónicas mas, jura uma vizinha, sempre feitas “em nome de Deus”, não fosse a ortodoxia de algum padre querer condená-lo à excomunhão. Ainda segundo os vizinhos, a fama do bruxo de Rio de Moinhos (em matérias do oculto devemos ter o cuidado de não mencionar concelhos, sob pena de destruirmos o mistério a golpes de precisão geográfica e rigor municipal) chegava até Setúbal, facto que positivamente me intrigou. Talvez os habitantes de Rio de Moinhos tenham Setúbal como o ponto mais meridional do país, uma espécie de Cabo das Tormentas para além do qual não se atrevem sequer os sucessos dos mais admirados bruxos nortenhos. Mas se a fama do bruxo chegou a Setúbal - acreditemos na palavra daquelas gentes - chegou muito longe. Em jeito de comparação, atentemos nas votações do PSD naquela região, que confirmam que a fama que ali chega do maior partido da oposição é escassa e mesmo essa não é boa. Sucede que o bruxo morreu, um destino banal até para a população não bruxa. Alguém o assassinou: e aqui o caso passa do banal para o policial, permanecendo esotérico desde o início. O sincretismo do bruxo católico, a sua fama que só por acaso não se espalhou Portugal abaixo até terras dos mouros e o seu fim violento lembram-nos que o país profundo precisa de romancistas que nele mergulhem. Entretanto, mais por curiosidade mórbida do que por fruição literária, vamos lendo o Correio da Manhã.

marcar artigo