Entre as brumas da memória: Sonhos de outros dias de Verão

08-08-2010
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Será provavelmente necessário recuar trinta e quatro anos para recordar um Verão tão animado politicamente como o actual. Mas é muito difícil imaginar hoje a agitação reinante em 75, a poucos dias da tomada de posse do V Governo Provisório, e quando se discutia a possível governação do país por um triunvirato formado por Gosta Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo.Sucediam-se os discursos inflamadíssimos, as conferências de imprensa e as manifestações - com muitos gritos mas sem teleponto, sem internet, muito menos Twitter, sem reuniões com bloggers numa qualquer cantina da 5ª Divisão. Mas, mesmo em pleno mês de Agosto, quem não estava na rua, colava-se à televisão e gravava para a posteridade o que a rádio ia transmitindo. (Foi o que fiz com o homérico discurso de Vasco Gonçalves em Almada, numa fita magnética que ainda hoje guardo num saco de plástico, juntamente com outras que têm óperas de Mozart e, quem sabe, um ou outro concerto para violino d Chopin.)Nos jornais de 28 de Julho de 1975, PS, PPD e MRPP tomam posição contra a hipótese do triunvirato acima referida. Lê-se também que Otelo regressou de Cuba, onde discursou ao lado de Fidel e afirmou que «a luta heróica do povo cubano é um exemplo magnífico para o povo português».E, em A Capital, o PS afirma, em jeito de comentário ao momento político: «O que nos divide não é Marx – ou seja a construção do socialismo, de uma sociedade sem classes, onde termine progressivamente a exploração do homem pelo homem; o que nos divide é Estaline – ou seja, a concepção totalitária do Estado, o partido único todo-poderoso, o problema da defesa das liberdades públicas e dos direitos do homem.»Em 2009, cá estamos.Fonte: Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 225.


Será provavelmente necessário recuar trinta e quatro anos para recordar um Verão tão animado politicamente como o actual. Mas é muito difícil imaginar hoje a agitação reinante em 75, a poucos dias da tomada de posse do V Governo Provisório, e quando se discutia a possível governação do país por um triunvirato formado por Gosta Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo.Sucediam-se os discursos inflamadíssimos, as conferências de imprensa e as manifestações - com muitos gritos mas sem teleponto, sem internet, muito menos Twitter, sem reuniões com bloggers numa qualquer cantina da 5ª Divisão. Mas, mesmo em pleno mês de Agosto, quem não estava na rua, colava-se à televisão e gravava para a posteridade o que a rádio ia transmitindo. (Foi o que fiz com o homérico discurso de Vasco Gonçalves em Almada, numa fita magnética que ainda hoje guardo num saco de plástico, juntamente com outras que têm óperas de Mozart e, quem sabe, um ou outro concerto para violino d Chopin.)Nos jornais de 28 de Julho de 1975, PS, PPD e MRPP tomam posição contra a hipótese do triunvirato acima referida. Lê-se também que Otelo regressou de Cuba, onde discursou ao lado de Fidel e afirmou que «a luta heróica do povo cubano é um exemplo magnífico para o povo português».E, em A Capital, o PS afirma, em jeito de comentário ao momento político: «O que nos divide não é Marx – ou seja a construção do socialismo, de uma sociedade sem classes, onde termine progressivamente a exploração do homem pelo homem; o que nos divide é Estaline – ou seja, a concepção totalitária do Estado, o partido único todo-poderoso, o problema da defesa das liberdades públicas e dos direitos do homem.»Em 2009, cá estamos.Fonte: Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 225.

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