Rui Ramos só me interessa como historiador na medida em que temo que extractos de livros seus venham a ser incluídos (ou já são?...) em manuais escolares daqueles que vão governar este país nas próximas gerações e que a ministra quer que lá cheguem sem «repetências». Também, e como alguém me lembrou há poucos dias, porque não se estranhará se a RTP vier a convidá-lo para legítimo sucessor de José Hermano Saraiva, no cultivo da alma das gentes.
Vem isto a propósito de uma ligação que recebi hoje, por mail, para um texto de António Rego Chaves - «Da provocação ao delírio» -, onde é analisada uma obra de Rui Ramos, já com alguns anos: Outra Opinião – Ensaios de História.
Alguns excertos do texto de ARC valem mais do que dez considerações minhas, que aqui pudesse feixar:
«Quer nos fale da monarquia constitucional, da I República, de Salazar, do 25 de Abril, de Spínola, do antifascismo, de Álvaro Cunhal, de Mário Soares ou de Sá Carneiro, a tónica é sempre a mesma: afirmar algo de contrário àquilo que quase todos consideram adquirido ou consensual, não apoiado numa sólida articulação dos dados disponíveis, mas em arreigadas convicções pessoais. (…)
Não menos «interessante» é a forma como Rui Ramos se refere à independência da Guiné, Angola e Moçambique. Eis as suas palavras: “Só à esquerda seria possível imaginar as ditaduras sanguinárias e corruptas do PAIGC ou da FRELIMO como uma ‘libertação’, ou chamar ‘descolonização’ à ocupação de Angola por um exército expedicionário cubano.” Digamos que, em matéria de imparcialidade, ficamos conversados, sobretudo quando se parece querer passar em claro todas as atrocidades cometidas por portugueses, não apenas durante a Guerra Colonial, mas ao longo de séculos, na Guiné, Angola e Moçambique.
Classificando o dia 25 de Abril de 1974 como "carnaval esquerdista do Largo do Carmo”, dizendo que “Salazar, ao contrário do general Franco em Espanha, fez sempre eleições” ou não disfarçando o seu entusiasmo perante a contra-revolução de Julho e Agosto de 1975, o autor renuncia às suas funções de historiador tanto quanto possível isento e adopta o tom do propagandista. Está no seu pleno direito, desde que não venda gato por lebre e se assuma como aquilo que de facto se revela – um panfletista.»
P.S. – Por pura coincidência mas, já agora, que funcione como símbolo, escrevo este post um dia depois do 42º aniversário da queda de Salazar de uma cadeira (se é que aquela aconteceu…). A ler: «40 anos depois da morte Salazar está na 'moda'» e, também, uma entrevista a António Simões do Paço a propósito do lançamento do seu livro O Ditador Encoberto: «A ditadura tem sido banalizada e trivializada»....
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Rui Ramos só me interessa como historiador na medida em que temo que extractos de livros seus venham a ser incluídos (ou já são?...) em manuais escolares daqueles que vão governar este país nas próximas gerações e que a ministra quer que lá cheguem sem «repetências». Também, e como alguém me lembrou há poucos dias, porque não se estranhará se a RTP vier a convidá-lo para legítimo sucessor de José Hermano Saraiva, no cultivo da alma das gentes.
Vem isto a propósito de uma ligação que recebi hoje, por mail, para um texto de António Rego Chaves - «Da provocação ao delírio» -, onde é analisada uma obra de Rui Ramos, já com alguns anos: Outra Opinião – Ensaios de História.
Alguns excertos do texto de ARC valem mais do que dez considerações minhas, que aqui pudesse feixar:
«Quer nos fale da monarquia constitucional, da I República, de Salazar, do 25 de Abril, de Spínola, do antifascismo, de Álvaro Cunhal, de Mário Soares ou de Sá Carneiro, a tónica é sempre a mesma: afirmar algo de contrário àquilo que quase todos consideram adquirido ou consensual, não apoiado numa sólida articulação dos dados disponíveis, mas em arreigadas convicções pessoais. (…)
Não menos «interessante» é a forma como Rui Ramos se refere à independência da Guiné, Angola e Moçambique. Eis as suas palavras: “Só à esquerda seria possível imaginar as ditaduras sanguinárias e corruptas do PAIGC ou da FRELIMO como uma ‘libertação’, ou chamar ‘descolonização’ à ocupação de Angola por um exército expedicionário cubano.” Digamos que, em matéria de imparcialidade, ficamos conversados, sobretudo quando se parece querer passar em claro todas as atrocidades cometidas por portugueses, não apenas durante a Guerra Colonial, mas ao longo de séculos, na Guiné, Angola e Moçambique.
Classificando o dia 25 de Abril de 1974 como "carnaval esquerdista do Largo do Carmo”, dizendo que “Salazar, ao contrário do general Franco em Espanha, fez sempre eleições” ou não disfarçando o seu entusiasmo perante a contra-revolução de Julho e Agosto de 1975, o autor renuncia às suas funções de historiador tanto quanto possível isento e adopta o tom do propagandista. Está no seu pleno direito, desde que não venda gato por lebre e se assuma como aquilo que de facto se revela – um panfletista.»
P.S. – Por pura coincidência mas, já agora, que funcione como símbolo, escrevo este post um dia depois do 42º aniversário da queda de Salazar de uma cadeira (se é que aquela aconteceu…). A ler: «40 anos depois da morte Salazar está na 'moda'» e, também, uma entrevista a António Simões do Paço a propósito do lançamento do seu livro O Ditador Encoberto: «A ditadura tem sido banalizada e trivializada»....