NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: Resposta a Casimiro Ceivães e aos demais

31-05-2010
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Caro Casimiro Ceivães, perdoe-me a sinceridade, mas esperava bem mais da sua inteligência, bem como da de muitas outras pessoas que prezo... Na verdade, pergunto-lhe, e aos outros, onde é que digo que "o mundo não é senão a ilusão e o nada", onde é que falo de atingir o "não-ser" ou o "vazio" como "Pátria" comum, onde é que falo de ondas, Oceanos ou Abdicação!?... E onde é que falo de querer converter alguém a uma religião, ao budismo ou ao vegetarianismo!? Se soubessem alguma coisa de budismo saberiam que é um dos seus princípios fundamentais não fazer proselitismo e aconselhar as pessoas, pelo contrário, e em princípio, a aprofundarem a sua própria tradição religiosa.O problema, creio, é que vocês sabem que sou budista e, como não percebem nada de budismo, continuam a repetir os lugares-comuns dos intérpretes ocidentais do séc.XIX, que identificam budismo com niilismo... Ora é o próprio budismo que formulou a mais antiga crítica e denúncia do niilismo como um erro paralelo ao essencialismo!Mas eu não falei de budismo no meu texto, falei apenas da convergência de milenares tradições sapienciais, que recorrem à introspecção meditativa - como ainda Descartes, por exemplo, o pai do racionalismo moderno - , e da microfísica contemporânea, para nos darem um quadro do mundo onde a noção de relação prima sobre a de substância e a de interdependência prima sobre a de existência em si e por si. Parti daí para aplicar isto à questão das identidades nacionais e lembrar que os povos, as culturas, as nações e as pátrias não podem ser abstractamente pensados como entidades ou coisas independentes, mas antes como processos inscritos na trama de interdependências que é a história e o próprio universo.E para quê ? Apenas para recordar o que está presente na Declaração de Princípios e Objectivos do MIL, ou seja, que Portugal e a Lusofonia não são um fim em si, mas que o melhor da sua tradição cultural visa pô-los ao serviço do desenvolvimento da consciência e do bem comum de todos os homens e de todos os seres, ou seja, do universo. Isto, também, para contrapor a um nacionalismo ou patriotismo autocentrado a ideia de um novo patriotismo, que defini como trans-patriótico e universalista.Se falei de meditação, não foi de meditação budista, mas do indispensável exercício de observação introspectiva e de auto-conhecimento que se requer quando queremos superar as nossas tendências egocêntricas e colocar as nossas energias ao serviço não só dos amigos, dos compatriotas ou de grupos restritos, mas de projectos generosos e universais, como pretendo que seja o do MIL. Esta auto-observação da mente foi praticada por todas as escolas de filosofia gregas - chamavam-lhe "meleté" - , foi praticada na tradição cristã (por Vieira, por exemplo, segundo as instruções de Inácio de Loyola) e, comum a religiões e irreligiões, é hoje redescoberta em todo o mundo e alvo da pesquisa de vanguarda no domínio das neurociências, estando a ser proposta nos EUA para substituir o consumo de Prozac.Ao falar da sua relação com a política - onde não invento nada, porque já há em todo o mundo quem fale disto há muito tempo - , poderia ir muito longe, mas basta-me dar um exemplo da sua grande utilidade: se a maioria dos actuais políticos, em todo o mundo, praticassem sinceramente esta introspecção meditativa, verificando sinceramente se iam para a política por engodo da fama, da riqueza e do poder, ou para servir o bem comum, decerto tinham desistido, para seu bem e nosso!...Espero que estas reacções à flor da pele, ao falar-se de política e meditação, não indiquem haver no MIL quem queira, por recusa de observar a própria mente, ir no mesmo caminho de sempre...Aprendi muito ao ler os vossos comentários e fico-vos imensamente grato por isso. Mas também algo céptico, relativamente à possibilidade de se cumprir verdadeiramente a Declaração de Princípios e Objectivos do MIL: vejo em vocês muita coisa, menos aspiração à compreensão de ideias novas e diferentes e ao bem universal...Ainda bem que vos incomodo!


Caro Casimiro Ceivães, perdoe-me a sinceridade, mas esperava bem mais da sua inteligência, bem como da de muitas outras pessoas que prezo... Na verdade, pergunto-lhe, e aos outros, onde é que digo que "o mundo não é senão a ilusão e o nada", onde é que falo de atingir o "não-ser" ou o "vazio" como "Pátria" comum, onde é que falo de ondas, Oceanos ou Abdicação!?... E onde é que falo de querer converter alguém a uma religião, ao budismo ou ao vegetarianismo!? Se soubessem alguma coisa de budismo saberiam que é um dos seus princípios fundamentais não fazer proselitismo e aconselhar as pessoas, pelo contrário, e em princípio, a aprofundarem a sua própria tradição religiosa.O problema, creio, é que vocês sabem que sou budista e, como não percebem nada de budismo, continuam a repetir os lugares-comuns dos intérpretes ocidentais do séc.XIX, que identificam budismo com niilismo... Ora é o próprio budismo que formulou a mais antiga crítica e denúncia do niilismo como um erro paralelo ao essencialismo!Mas eu não falei de budismo no meu texto, falei apenas da convergência de milenares tradições sapienciais, que recorrem à introspecção meditativa - como ainda Descartes, por exemplo, o pai do racionalismo moderno - , e da microfísica contemporânea, para nos darem um quadro do mundo onde a noção de relação prima sobre a de substância e a de interdependência prima sobre a de existência em si e por si. Parti daí para aplicar isto à questão das identidades nacionais e lembrar que os povos, as culturas, as nações e as pátrias não podem ser abstractamente pensados como entidades ou coisas independentes, mas antes como processos inscritos na trama de interdependências que é a história e o próprio universo.E para quê ? Apenas para recordar o que está presente na Declaração de Princípios e Objectivos do MIL, ou seja, que Portugal e a Lusofonia não são um fim em si, mas que o melhor da sua tradição cultural visa pô-los ao serviço do desenvolvimento da consciência e do bem comum de todos os homens e de todos os seres, ou seja, do universo. Isto, também, para contrapor a um nacionalismo ou patriotismo autocentrado a ideia de um novo patriotismo, que defini como trans-patriótico e universalista.Se falei de meditação, não foi de meditação budista, mas do indispensável exercício de observação introspectiva e de auto-conhecimento que se requer quando queremos superar as nossas tendências egocêntricas e colocar as nossas energias ao serviço não só dos amigos, dos compatriotas ou de grupos restritos, mas de projectos generosos e universais, como pretendo que seja o do MIL. Esta auto-observação da mente foi praticada por todas as escolas de filosofia gregas - chamavam-lhe "meleté" - , foi praticada na tradição cristã (por Vieira, por exemplo, segundo as instruções de Inácio de Loyola) e, comum a religiões e irreligiões, é hoje redescoberta em todo o mundo e alvo da pesquisa de vanguarda no domínio das neurociências, estando a ser proposta nos EUA para substituir o consumo de Prozac.Ao falar da sua relação com a política - onde não invento nada, porque já há em todo o mundo quem fale disto há muito tempo - , poderia ir muito longe, mas basta-me dar um exemplo da sua grande utilidade: se a maioria dos actuais políticos, em todo o mundo, praticassem sinceramente esta introspecção meditativa, verificando sinceramente se iam para a política por engodo da fama, da riqueza e do poder, ou para servir o bem comum, decerto tinham desistido, para seu bem e nosso!...Espero que estas reacções à flor da pele, ao falar-se de política e meditação, não indiquem haver no MIL quem queira, por recusa de observar a própria mente, ir no mesmo caminho de sempre...Aprendi muito ao ler os vossos comentários e fico-vos imensamente grato por isso. Mas também algo céptico, relativamente à possibilidade de se cumprir verdadeiramente a Declaração de Princípios e Objectivos do MIL: vejo em vocês muita coisa, menos aspiração à compreensão de ideias novas e diferentes e ao bem universal...Ainda bem que vos incomodo!

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