NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: NOS TERÁ É NHOS TÉRA (our ground is your ground)

30-05-2010
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Fui ao encontro do meu continente. A terra cresceu para mim, mais seca e mais árida do que a minha anhara do planalto da infância. Qual superfície lunar, areia e pedra solta por toda a ilha, até ao horizonte. E então o mar. As águas límpidas, as ondas mansas, a areia suavíssima a afagar os pés. Logo a seguir o mergulho da entrega à frescura ímpar da água ansiada. Um prazer de deuses.Na ilha mais árida de Cabo Verde, a Ilha do Sal, o turismo com os melhores hotéis e resorts em construção, as praias magníficas, fazem dela a mais frequentada do arquipélago. E Portugal presente, manifestado no mais banal: na sinalização das estradas, indicações de direcção, nas caixas estandardizadas para encomendas nos correios, na palavra dos guias referindo a Pedra de Lume como o primeiro encontro da terra com os portugueses. No nome dos barcos. Na referência à continuação dos estudos, completado o Ensino Secundário. Coimbra, o destino preferencial dos estudantes para o curso superior. E, claro, o futebol. Sou do Sporting, diz o nosso guia Hércules que tem uma filha a estudar em Faro.Mas o inglês faz ali o seu trabalho, sem esmorecer. Um casal de ingleses conduz-nos à noite para o local onde as tartarugas fazem habitualmente a desova. Ela, residente no arquipélago desde há cinco anos, fala fluentemente o crioulo. E português? Entende, mas não fala, naturalmente. Não lhe interessa.Hei-de voltar com mais tempo para conhecer as outras ilhas. No Sal, o turismo inflacionou tudo, a habitação condigna tornou-se incomportável para os autóctones, sem salário mínimo sequer estabelecido. A construção agressiva por parte dos italianos ocupa pedaço considerável das terras à beira-mar, desrespeitando o ambiente, levando o governo a impedir recentemente a ocupação de mais terrenos para construção. Os salários são baixos. A terra nada produz com a falta de chuvas. A Terra Boa, onde todos têm um espaço de cultivo, pujante ainda há duas décadas, está reduzida a algumas acácias tristes, dobradas pela seca e pelo vento quente que sopra de África.Mas há escola para todos e ali ensina-se a Língua Portuguesa.


Fui ao encontro do meu continente. A terra cresceu para mim, mais seca e mais árida do que a minha anhara do planalto da infância. Qual superfície lunar, areia e pedra solta por toda a ilha, até ao horizonte. E então o mar. As águas límpidas, as ondas mansas, a areia suavíssima a afagar os pés. Logo a seguir o mergulho da entrega à frescura ímpar da água ansiada. Um prazer de deuses.Na ilha mais árida de Cabo Verde, a Ilha do Sal, o turismo com os melhores hotéis e resorts em construção, as praias magníficas, fazem dela a mais frequentada do arquipélago. E Portugal presente, manifestado no mais banal: na sinalização das estradas, indicações de direcção, nas caixas estandardizadas para encomendas nos correios, na palavra dos guias referindo a Pedra de Lume como o primeiro encontro da terra com os portugueses. No nome dos barcos. Na referência à continuação dos estudos, completado o Ensino Secundário. Coimbra, o destino preferencial dos estudantes para o curso superior. E, claro, o futebol. Sou do Sporting, diz o nosso guia Hércules que tem uma filha a estudar em Faro.Mas o inglês faz ali o seu trabalho, sem esmorecer. Um casal de ingleses conduz-nos à noite para o local onde as tartarugas fazem habitualmente a desova. Ela, residente no arquipélago desde há cinco anos, fala fluentemente o crioulo. E português? Entende, mas não fala, naturalmente. Não lhe interessa.Hei-de voltar com mais tempo para conhecer as outras ilhas. No Sal, o turismo inflacionou tudo, a habitação condigna tornou-se incomportável para os autóctones, sem salário mínimo sequer estabelecido. A construção agressiva por parte dos italianos ocupa pedaço considerável das terras à beira-mar, desrespeitando o ambiente, levando o governo a impedir recentemente a ocupação de mais terrenos para construção. Os salários são baixos. A terra nada produz com a falta de chuvas. A Terra Boa, onde todos têm um espaço de cultivo, pujante ainda há duas décadas, está reduzida a algumas acácias tristes, dobradas pela seca e pelo vento quente que sopra de África.Mas há escola para todos e ali ensina-se a Língua Portuguesa.

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