Conjunto dos dias experimentados entre 3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro de 1993 e projecto de escrita de autor levado a cabo com a minúcia do tempo e da vida, o Diário, de Miguel Torga (1907-1995), é uma das mais extensas práticas diarísticas que existe na escrita autobiográfica portuguesa. Tomando como máxima uma citação de Amiel ("Chaque jour nous laissons une partie de nous-mêmes en chemin"), Torga inscreveu nesta obra (publicada entre 1941 e 1993) os seus momentos de poesia, de dureza, de histórias, de afectos, de cenas, de trajectos, de retratos, de desabafos, de vivências, aí ressaltando o homem (na sua experiência e no seu encarar a vida) mas também o escritor (na forma como selecciona os momentos e como inscreve a vida na literatura). Entre o primeiro e o 16º volumes, há o itinerário entre dois poemas, ambos escritos em Coimbra: "Santo e senha", que inicia o volume inaugural (em 3 de Janeiro de 1932), abertura para o caminho - "Deixem passar quem vai na sua estrada" diz o primeiro verso - e "Requiem por mim", que finaliza o derradeiro volume (em 10 de Dezembro de 1993), ponto final na escrita - "Aproxima-se o fim. / (...) / Longo foi o caminho e desmedidos / Os sonhos que nele tive. / Mas ninguém vive / Contra as leis do destino."Percurso de um narrador que se move entre S. Martinho da Anta e o Mundo, o Diário de Torga é uma das mais belas e interessantes obras que li, ainda na apresentação em 16 volumes, de folhas cujo corte exigia a participação do leitor, numa edição simples e sóbria [há edição recente do Diário em dois volumes].
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Conjunto dos dias experimentados entre 3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro de 1993 e projecto de escrita de autor levado a cabo com a minúcia do tempo e da vida, o Diário, de Miguel Torga (1907-1995), é uma das mais extensas práticas diarísticas que existe na escrita autobiográfica portuguesa. Tomando como máxima uma citação de Amiel ("Chaque jour nous laissons une partie de nous-mêmes en chemin"), Torga inscreveu nesta obra (publicada entre 1941 e 1993) os seus momentos de poesia, de dureza, de histórias, de afectos, de cenas, de trajectos, de retratos, de desabafos, de vivências, aí ressaltando o homem (na sua experiência e no seu encarar a vida) mas também o escritor (na forma como selecciona os momentos e como inscreve a vida na literatura). Entre o primeiro e o 16º volumes, há o itinerário entre dois poemas, ambos escritos em Coimbra: "Santo e senha", que inicia o volume inaugural (em 3 de Janeiro de 1932), abertura para o caminho - "Deixem passar quem vai na sua estrada" diz o primeiro verso - e "Requiem por mim", que finaliza o derradeiro volume (em 10 de Dezembro de 1993), ponto final na escrita - "Aproxima-se o fim. / (...) / Longo foi o caminho e desmedidos / Os sonhos que nele tive. / Mas ninguém vive / Contra as leis do destino."Percurso de um narrador que se move entre S. Martinho da Anta e o Mundo, o Diário de Torga é uma das mais belas e interessantes obras que li, ainda na apresentação em 16 volumes, de folhas cujo corte exigia a participação do leitor, numa edição simples e sóbria [há edição recente do Diário em dois volumes].