Apesar de não contar com o meu voto, esse vai para Fernando Nobre, o candidato a Presidente da República portuguesa, Manuel Alegre, merece ser ouvido e lido com atenção, nomeadamente pelos socialistas.A propósito do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), Manuel Alegre considerou hoje "um escândalo para a saúde da República" os prémios dos gestores públicos."Não me parece que haja neste PEC um suficiente esforço de partilha", disse Alegre em Bragança, num jantar com apoiantes em que comentou o PEC apresentado pelo Governo.Para o socialista, "o esforço de contenção que é pedido pelo PEC é desigualmente distribuído". Ou seja, como aqui tem sido escrito, o Governo quer tirar aos milhões que têm pouco para dar aos poucos que têm cada vez mais milhões.Manuel Alegre criticou também a prevista privatização de serviços públicos, "ainda por cima rentáveis", com a qual entende "não se está a pretender uma melhoria da sua gestão e uma resposta ao interesse público, mas apenas querer obter rapidamente uma receita extraordinária".O candidato a Presidente da República tem razão quando defende que o que Portugal precisa "não é do código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu, mas de uma austeridade republicana exemplar, a partir de cima".E a partir de cima significa o quê? "Desde os titulares dos órgãos de soberania aos administradores de empresas públicas"."Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde", afirmou Manuel Alegre, certamente esquecido de quem manda no Governo.Fez ontem um ano, o primeiro-ministro de Portugal (de que outro país poderia ser?) acusou o líder do CDS-PP de promover um “discurso de inveja social” sobre a questão dos vencimentos dos administradores dos bancos.Nesse dia, há portanto um ano, no debate quinzenal com o primeiro-ministro, Paulo Portas questionou José Sócrates se entende que o Governo “deve ter uma palavra moralizadora e moderadora do ponto de vista das práticas salariais” numa situação de crise económica e em casos de bancos que tenham beneficiado do aval do Estado.Paulo Portas deu na altura como exemplo o caso do BCP, em que “cada administrador ganha 460 mil euros por ano”.Na resposta, o primeiro-ministro acusou Paulo Portas de “oportunismo” e de promover um discurso “da mais pura inveja social”.Recorde-se ainda (não sei para quê, mas está bem...) que um mês depois de ter saído da Caixa Geral de Depósitos para o BCP, Armando Vara foi promovido pelo banco público.Recorde-se também que na altura em que era ministro do Ambiente, Agosto de 2001, José Sócrates foi qualificado por Manuel Alegre como "teimoso", "obsessivo" e "arrogante" por não querer que Portugal abandonasse progressivamente a co-incineração em cimenteiras."Não há racionalidade capaz de convencer Sócrates", declarou na altura Manuel Alegre ao Público, lamentando que o carácter do ministro o impeça de reconhecer a "clara contradição" entre a assinatura da convenção da ONU sobre a matéria e o início da co-incineração em Portugal."Por razões que eu não quero adiantar, o ministro Sócrates tem cobertura política", afirmou na altura Alegre, ao acusar o Governo socialista de se reger por um "critério de fidelidades" já evidenciado quando António Guterres não demitiu Armando Vara do cargo de ministro da Juventude e Desporto, ao rebentar a polémica sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança.E, já gora, ainda alguém se recorda de Rosário Gama, a militante socialista apoiante de Manuel Alegre e presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, que acusou no dia 6 de Maio de 2009 o PS de “não aceitar o contraditório, mesmo vindo do interior do partido”?Pois é. Com ou sem PEC, o país lá vai continuando a cantar e a rir, abençoado pelas rolhas, pelas cortinas de fumo e pela areia que atiram contra a nossa chipala.
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Apesar de não contar com o meu voto, esse vai para Fernando Nobre, o candidato a Presidente da República portuguesa, Manuel Alegre, merece ser ouvido e lido com atenção, nomeadamente pelos socialistas.A propósito do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), Manuel Alegre considerou hoje "um escândalo para a saúde da República" os prémios dos gestores públicos."Não me parece que haja neste PEC um suficiente esforço de partilha", disse Alegre em Bragança, num jantar com apoiantes em que comentou o PEC apresentado pelo Governo.Para o socialista, "o esforço de contenção que é pedido pelo PEC é desigualmente distribuído". Ou seja, como aqui tem sido escrito, o Governo quer tirar aos milhões que têm pouco para dar aos poucos que têm cada vez mais milhões.Manuel Alegre criticou também a prevista privatização de serviços públicos, "ainda por cima rentáveis", com a qual entende "não se está a pretender uma melhoria da sua gestão e uma resposta ao interesse público, mas apenas querer obter rapidamente uma receita extraordinária".O candidato a Presidente da República tem razão quando defende que o que Portugal precisa "não é do código de conduta das medidas orçamentais impostas pelo Banco Central Europeu, mas de uma austeridade republicana exemplar, a partir de cima".E a partir de cima significa o quê? "Desde os titulares dos órgãos de soberania aos administradores de empresas públicas"."Nenhum constrangimento vindo de fora pode pôr em causa serviços públicos essenciais ao povo português como a Segurança Social, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde", afirmou Manuel Alegre, certamente esquecido de quem manda no Governo.Fez ontem um ano, o primeiro-ministro de Portugal (de que outro país poderia ser?) acusou o líder do CDS-PP de promover um “discurso de inveja social” sobre a questão dos vencimentos dos administradores dos bancos.Nesse dia, há portanto um ano, no debate quinzenal com o primeiro-ministro, Paulo Portas questionou José Sócrates se entende que o Governo “deve ter uma palavra moralizadora e moderadora do ponto de vista das práticas salariais” numa situação de crise económica e em casos de bancos que tenham beneficiado do aval do Estado.Paulo Portas deu na altura como exemplo o caso do BCP, em que “cada administrador ganha 460 mil euros por ano”.Na resposta, o primeiro-ministro acusou Paulo Portas de “oportunismo” e de promover um discurso “da mais pura inveja social”.Recorde-se ainda (não sei para quê, mas está bem...) que um mês depois de ter saído da Caixa Geral de Depósitos para o BCP, Armando Vara foi promovido pelo banco público.Recorde-se também que na altura em que era ministro do Ambiente, Agosto de 2001, José Sócrates foi qualificado por Manuel Alegre como "teimoso", "obsessivo" e "arrogante" por não querer que Portugal abandonasse progressivamente a co-incineração em cimenteiras."Não há racionalidade capaz de convencer Sócrates", declarou na altura Manuel Alegre ao Público, lamentando que o carácter do ministro o impeça de reconhecer a "clara contradição" entre a assinatura da convenção da ONU sobre a matéria e o início da co-incineração em Portugal."Por razões que eu não quero adiantar, o ministro Sócrates tem cobertura política", afirmou na altura Alegre, ao acusar o Governo socialista de se reger por um "critério de fidelidades" já evidenciado quando António Guterres não demitiu Armando Vara do cargo de ministro da Juventude e Desporto, ao rebentar a polémica sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança.E, já gora, ainda alguém se recorda de Rosário Gama, a militante socialista apoiante de Manuel Alegre e presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, que acusou no dia 6 de Maio de 2009 o PS de “não aceitar o contraditório, mesmo vindo do interior do partido”?Pois é. Com ou sem PEC, o país lá vai continuando a cantar e a rir, abençoado pelas rolhas, pelas cortinas de fumo e pela areia que atiram contra a nossa chipala.