A pobreza é tanta coisa e fruto de tanta coisa: no fim, concluiremos que se trata de um problema moral das sociedades porque implica basicamente que os apetrechos essenciais do conhecimento-autonomia não foram transmitidos, estimulados, consolidados, e isso responsabiliza-nos, à metade não-(tão)pobre ou pobre-diferente. çlkPor outro lado, ser pobre implica também uma opção instintiva-fatalista oposta à lógica sôfrega que comanda o Mundo: correr atrás dos bens, não atrás da paz, não atrás da harmonia nas relações humanas e da justiça, mas atrás dos bens, do acúmulo de dinheiro para lhes aceder. O pobre embrutece só na conquista dura de cada dia sem fome; descrê do poder do trabalho porque é necessária energia e metas, e ele abdicou, porque a isso foi obrigado ou nessa desobrigação se moldou, de ambas.çlkO problema da felicidade não se coloca ao que falhou, ao que nasceu e continua pobre: ele pode ser mais feliz que qualquer outro. Coloca-se o problema da rebelião contra a exclusão ditada pelo abismo entre mundos tão desencontrados. Ora, abismo atrai abismo. A pobreza humilha-nos o sentimento do que se quer em bem-estar colectivo. A riqueza humilha o pobre porque é sempre desproporcionada, disforme e ultradefensiva.çlkA pobreza ética (a impossíbilidade de desdobramento de si no outro e seu contexto) é a fonte de todos os males e enche de autismo toda a abordagem a esta questão que só pode ser tratada holisticamente.
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A pobreza é tanta coisa e fruto de tanta coisa: no fim, concluiremos que se trata de um problema moral das sociedades porque implica basicamente que os apetrechos essenciais do conhecimento-autonomia não foram transmitidos, estimulados, consolidados, e isso responsabiliza-nos, à metade não-(tão)pobre ou pobre-diferente. çlkPor outro lado, ser pobre implica também uma opção instintiva-fatalista oposta à lógica sôfrega que comanda o Mundo: correr atrás dos bens, não atrás da paz, não atrás da harmonia nas relações humanas e da justiça, mas atrás dos bens, do acúmulo de dinheiro para lhes aceder. O pobre embrutece só na conquista dura de cada dia sem fome; descrê do poder do trabalho porque é necessária energia e metas, e ele abdicou, porque a isso foi obrigado ou nessa desobrigação se moldou, de ambas.çlkO problema da felicidade não se coloca ao que falhou, ao que nasceu e continua pobre: ele pode ser mais feliz que qualquer outro. Coloca-se o problema da rebelião contra a exclusão ditada pelo abismo entre mundos tão desencontrados. Ora, abismo atrai abismo. A pobreza humilha-nos o sentimento do que se quer em bem-estar colectivo. A riqueza humilha o pobre porque é sempre desproporcionada, disforme e ultradefensiva.çlkA pobreza ética (a impossíbilidade de desdobramento de si no outro e seu contexto) é a fonte de todos os males e enche de autismo toda a abordagem a esta questão que só pode ser tratada holisticamente.