Entre as brumas da memória: A Fé de Tony Blair

07-08-2010
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Concorde-se ou não, o discurso sobre «Fé e Globalização» proferido por Tony Blair perante 1.600 pessoas (no passado dia 3, na Catedral de Westminster) merece ser lido – porque é claro, programático e por vir de quem vem (*).Esqueçamos por um momento (na medida do possível...) que se trata do amigo de Bush, do seu mais entusiástico apoiante na questão da guerra do Iraque, ponhamos entre parêntesis muitas outras coisas. Aceitemos o facto de estarmos a ouvir um recém-convertido ao catolicismo, que, aparentemente, tem um projecto pessoal de uma nova cruzada, versão século XXI – se não para converter, pelo menos para conviver.Blair vai criar uma Fundação destinada a este seu projecto (fala dela no discurso) e vai leccionar a matéria na Universidade de Yale.De uma forma muito sucinta, julgo que os três extractos que se seguem podem resumir o essencial do que está na base das suas convicções:«A fé religiosa é algo de bom, que, longe de ser uma força reaccionária, tem um papel fundamental para moldar os valores que guiam o mundo moderno e pode, e deve, ser uma força para o progresso.»«A fé corrige, de um modo necessário e vital, a tendência que o género humano tem para o relativismo.»«Se a fé ocupar o lugar que lhe é devido, podemos viver com um objectivo que está para além de nós, ajudando a humanidade no caminho para a sua realização», (...) «a fé pode transformar e humanizar as forças interpessoais da globalização».Isto vai bem mais longe, segundo me parece, do que a importância dada à convivência entre as diferentes religiões, que preconiza, por exemplo, a Alliance of Civilizations. Aqui é à própria fé - e não tanto ao diálogo - que é dado o papel decisivo, na medida em que é suposto que ela molde e transforme o homem e, como consequência, «as forças interpessoais da globalização».Por muitas razões que tenho vindo a apontar neste blogue, por exemplo aqui e aqui, e que não vou repetir, discordo frontalmente deste tipo de aproximação e não acredito minimamente na sua eficácia.Continuo a pensar que «pôr a religião a desempenhar o papel principal nos assuntos mundiais é como tentar apagar um fogo com gasolina» – como disse Terry Sanderson, representante de uma denominada Sociedade Nacional Secular, precisamente a propósito deste discurso de Tony Blair.------------------------------------------------(*) O discurso pode ser visto, na íntegra, aqui ou lido aqui.


Concorde-se ou não, o discurso sobre «Fé e Globalização» proferido por Tony Blair perante 1.600 pessoas (no passado dia 3, na Catedral de Westminster) merece ser lido – porque é claro, programático e por vir de quem vem (*).Esqueçamos por um momento (na medida do possível...) que se trata do amigo de Bush, do seu mais entusiástico apoiante na questão da guerra do Iraque, ponhamos entre parêntesis muitas outras coisas. Aceitemos o facto de estarmos a ouvir um recém-convertido ao catolicismo, que, aparentemente, tem um projecto pessoal de uma nova cruzada, versão século XXI – se não para converter, pelo menos para conviver.Blair vai criar uma Fundação destinada a este seu projecto (fala dela no discurso) e vai leccionar a matéria na Universidade de Yale.De uma forma muito sucinta, julgo que os três extractos que se seguem podem resumir o essencial do que está na base das suas convicções:«A fé religiosa é algo de bom, que, longe de ser uma força reaccionária, tem um papel fundamental para moldar os valores que guiam o mundo moderno e pode, e deve, ser uma força para o progresso.»«A fé corrige, de um modo necessário e vital, a tendência que o género humano tem para o relativismo.»«Se a fé ocupar o lugar que lhe é devido, podemos viver com um objectivo que está para além de nós, ajudando a humanidade no caminho para a sua realização», (...) «a fé pode transformar e humanizar as forças interpessoais da globalização».Isto vai bem mais longe, segundo me parece, do que a importância dada à convivência entre as diferentes religiões, que preconiza, por exemplo, a Alliance of Civilizations. Aqui é à própria fé - e não tanto ao diálogo - que é dado o papel decisivo, na medida em que é suposto que ela molde e transforme o homem e, como consequência, «as forças interpessoais da globalização».Por muitas razões que tenho vindo a apontar neste blogue, por exemplo aqui e aqui, e que não vou repetir, discordo frontalmente deste tipo de aproximação e não acredito minimamente na sua eficácia.Continuo a pensar que «pôr a religião a desempenhar o papel principal nos assuntos mundiais é como tentar apagar um fogo com gasolina» – como disse Terry Sanderson, representante de uma denominada Sociedade Nacional Secular, precisamente a propósito deste discurso de Tony Blair.------------------------------------------------(*) O discurso pode ser visto, na íntegra, aqui ou lido aqui.

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