Entre as brumas da memória: «Laicidade positiva»

04-08-2010
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ACTUALIZADO (**)Na sequência dos discursos proferidos por Sarkozy, no Vaticano em 20 de Dezembro e ontem na Arábia Saudita, e das reacções que os mesmos estão a provocar, o Libération publica hoje um conjunto de artigos relacionados com a questão da laicidade.Num país como a França, onde a separação entre Igreja e Estado parecia intocável, Sarkozy está a abalá-la com os seus elogios à moral cristã e ao papel das religiões como fundamento das civilizações.Não o faz à toa. Jean Baubérot, professor de história e sociologia da laicidade, explica, numa curta entrevista, que Sarkozy e os seus conselheiros conhecem bem as teorias pós-modernistas e tiram partido de incertezas, em tempo de declínio das ideologias e de confiança nos méritos do progresso. Fazem-no numa «tentativa neoclerical de re-ligação entre religioso e político, de instrumentalização do religioso pelo político» (*).Alguns excertos dos discursos de Sarkozy parecem claros.No Vaticano, a propósito da encíclica de Bento XVI sobre a esperança:«Um homem que crê é um homem que espera. E é do interesse da República que haja muitos homens e muitas mulheres que esperem.»E ainda:«Se existe incontestavelmente uma moral humana independente da moral religiosa, a República tem interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas.»Uma outra afirmação provocou a fúria das associações de professores:«Na transmissão dos valores e na aprendizagem da diferença entre o bem e o mal, o professor nunca poderá substituir o pároco ou o pastor, mesmo se é importante que se aproxime, porque lhe faltará sempre a radicalidade do sacrifício da sua vida e o carisma de um compromisso guiado pela esperança.»«Laicidade positiva», chama-lhe ele. Perigosa e um retrocesso civilizacional, considero-a eu.Estejamos atentos ao que aí vem dessa Europa onde, cada vez mais, mandarão os grandes - com este francês tão activo e tão admirado, com um papa muito inteligente em Roma, bispos aguerridos em Espanha, polacos de um catolicismo ultra-conservador e um Tony Blair, recém-convertido, à espreita da presidência do Conselho europeu.(*) Jean Baubérot tem um blogue dedicado a esta problemática. (**) Pode ouvir reacções aqui.


ACTUALIZADO (**)Na sequência dos discursos proferidos por Sarkozy, no Vaticano em 20 de Dezembro e ontem na Arábia Saudita, e das reacções que os mesmos estão a provocar, o Libération publica hoje um conjunto de artigos relacionados com a questão da laicidade.Num país como a França, onde a separação entre Igreja e Estado parecia intocável, Sarkozy está a abalá-la com os seus elogios à moral cristã e ao papel das religiões como fundamento das civilizações.Não o faz à toa. Jean Baubérot, professor de história e sociologia da laicidade, explica, numa curta entrevista, que Sarkozy e os seus conselheiros conhecem bem as teorias pós-modernistas e tiram partido de incertezas, em tempo de declínio das ideologias e de confiança nos méritos do progresso. Fazem-no numa «tentativa neoclerical de re-ligação entre religioso e político, de instrumentalização do religioso pelo político» (*).Alguns excertos dos discursos de Sarkozy parecem claros.No Vaticano, a propósito da encíclica de Bento XVI sobre a esperança:«Um homem que crê é um homem que espera. E é do interesse da República que haja muitos homens e muitas mulheres que esperem.»E ainda:«Se existe incontestavelmente uma moral humana independente da moral religiosa, a República tem interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas.»Uma outra afirmação provocou a fúria das associações de professores:«Na transmissão dos valores e na aprendizagem da diferença entre o bem e o mal, o professor nunca poderá substituir o pároco ou o pastor, mesmo se é importante que se aproxime, porque lhe faltará sempre a radicalidade do sacrifício da sua vida e o carisma de um compromisso guiado pela esperança.»«Laicidade positiva», chama-lhe ele. Perigosa e um retrocesso civilizacional, considero-a eu.Estejamos atentos ao que aí vem dessa Europa onde, cada vez mais, mandarão os grandes - com este francês tão activo e tão admirado, com um papa muito inteligente em Roma, bispos aguerridos em Espanha, polacos de um catolicismo ultra-conservador e um Tony Blair, recém-convertido, à espreita da presidência do Conselho europeu.(*) Jean Baubérot tem um blogue dedicado a esta problemática. (**) Pode ouvir reacções aqui.

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