Um gesto condenável no último debate da nação fez escorrer muita tinta e promete ficar na história. Condeno o gesto. Sem querer repetir análises e ser mais um a comentar a cena, gostaria de incidir sobre a qualidade dos nossos parlamentos (AR, ALRAM e ALRAA) e sobre a forma como os deputados actuam.O gesto que todos condenaram, não é mais do que reflexo da crescente crispação e descida de nível que se assiste nos nossos parlamentos. Nos últimos tempos, chama-se mentiroso com uma facilidade gritante. As conversas e ataques paralelos são a regra. Na verdade, não me lembro de no último ano ver em plenário uma intervenção que não tenha sido interrompida, por alguém que não respeite o uso da palavra dos outros. Compreendo o sangue quente do debate, compreendo que hajam temas mais quentes do que outros. Contudo, este nível de debate parlamentar acontece em todos os temas e em todas as situações, mesmo naquelas que pouco importam.Sem querer de forma alguma justificar o gesto, não compreendo o ar angélico de quem prefere insultos em conversas laterais, onde o objectivo não é mais do que enervar e fazer o interlocutor passar-se dos carretes. Bernardino Soares surge como o anjo ofendido e nem se assume como provocador. É esta a responsabilidade que temos dos deputados. Outro exemplo da dualidade de critérios que temos em Portugal: se em vez de levar os indicadores à cabeça Pinho tivesse dito simplesmente, és um corno, muito provavelmente ainda seria Ministro. Lá vem a máxima que uma imagem vale por mil palavras. Parece que não toleramos gestos agressivos, mas toleramos nomes e palavrões, que o diga o deputado José Eduardo Martins que proferiu vai para o c... na mesma assembleia. Esperto o deputado se em vez de dizer tivesse feito um manguito, perdia o assento, era capa dos jornais e ouvia recados do Sr. presidente da República.A dualidade de critérios parece ser também a regra da Presidência da República. Alguém se lembra da indignação de Cavaco Silva com o vai para o c...? Ah, se fosse um manguito era pior. Da mesma forma, a Presidência da República não se mostrou indignada com a proibição de um deputado da ALRAM entrar na assembleia para a qual foi eleito, nem tão pouco com o nível de debate que se faz na ALRAM.Nos Açores, felizmente ainda não atingimos este nível de debate, mas temo que estejamos a percorrer este trilho. Quem segue os plenários da ALRAA percebe que o nível de debate cai plenário após plenário. As conversas paralelas são demasiados frequentes. As insinuações e recadinhos de amor começam a surgir timidamente. Até que um dia um deputado com o sangue quente se passe. Era bom que na ALRAA o ambiente fosse de menor crispação e de menos conversas paralelas. Felizmente não temos tido o tipo de casos da ALRAM ou da AR.Apesar de tudo, posso concluir com algum orgulho, que os Açores têm o melhor ambiente parlamentar, muito melhor do que a AR ou ALRAM. Pedia apenas aos Sr's Deputados para não convergirem com a média nacional neste aspecto...
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Um gesto condenável no último debate da nação fez escorrer muita tinta e promete ficar na história. Condeno o gesto. Sem querer repetir análises e ser mais um a comentar a cena, gostaria de incidir sobre a qualidade dos nossos parlamentos (AR, ALRAM e ALRAA) e sobre a forma como os deputados actuam.O gesto que todos condenaram, não é mais do que reflexo da crescente crispação e descida de nível que se assiste nos nossos parlamentos. Nos últimos tempos, chama-se mentiroso com uma facilidade gritante. As conversas e ataques paralelos são a regra. Na verdade, não me lembro de no último ano ver em plenário uma intervenção que não tenha sido interrompida, por alguém que não respeite o uso da palavra dos outros. Compreendo o sangue quente do debate, compreendo que hajam temas mais quentes do que outros. Contudo, este nível de debate parlamentar acontece em todos os temas e em todas as situações, mesmo naquelas que pouco importam.Sem querer de forma alguma justificar o gesto, não compreendo o ar angélico de quem prefere insultos em conversas laterais, onde o objectivo não é mais do que enervar e fazer o interlocutor passar-se dos carretes. Bernardino Soares surge como o anjo ofendido e nem se assume como provocador. É esta a responsabilidade que temos dos deputados. Outro exemplo da dualidade de critérios que temos em Portugal: se em vez de levar os indicadores à cabeça Pinho tivesse dito simplesmente, és um corno, muito provavelmente ainda seria Ministro. Lá vem a máxima que uma imagem vale por mil palavras. Parece que não toleramos gestos agressivos, mas toleramos nomes e palavrões, que o diga o deputado José Eduardo Martins que proferiu vai para o c... na mesma assembleia. Esperto o deputado se em vez de dizer tivesse feito um manguito, perdia o assento, era capa dos jornais e ouvia recados do Sr. presidente da República.A dualidade de critérios parece ser também a regra da Presidência da República. Alguém se lembra da indignação de Cavaco Silva com o vai para o c...? Ah, se fosse um manguito era pior. Da mesma forma, a Presidência da República não se mostrou indignada com a proibição de um deputado da ALRAM entrar na assembleia para a qual foi eleito, nem tão pouco com o nível de debate que se faz na ALRAM.Nos Açores, felizmente ainda não atingimos este nível de debate, mas temo que estejamos a percorrer este trilho. Quem segue os plenários da ALRAA percebe que o nível de debate cai plenário após plenário. As conversas paralelas são demasiados frequentes. As insinuações e recadinhos de amor começam a surgir timidamente. Até que um dia um deputado com o sangue quente se passe. Era bom que na ALRAA o ambiente fosse de menor crispação e de menos conversas paralelas. Felizmente não temos tido o tipo de casos da ALRAM ou da AR.Apesar de tudo, posso concluir com algum orgulho, que os Açores têm o melhor ambiente parlamentar, muito melhor do que a AR ou ALRAM. Pedia apenas aos Sr's Deputados para não convergirem com a média nacional neste aspecto...