O Cachimbo de Magritte: Narcose

28-05-2010
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As pessoas mais bem-aventuradas, quando começam a morrer a grande velocidade, desencadeiam em si um processo que, se a memória não me falha (não sou médico), dá pelo nome de narcose. Perdem progressivamente consciência do que se passa à sua volta e apagam-se com um sorriso nos lábios. Morte santa, dizia o meu pai. Lendo hoje o editorial do Pedro Guerreiro, no Jornal de Negócios, percebe-se melhor o que estou a dizer. Assim vai o meu país.P.S.: O PSD tem alguma culpa. A evacuação do problema orçamental do discurso político também se lhe fica parcialmente a dever. É certo. O «défice» e a dívida não dão votos. Mas o «défice» e a dívida não são o défice e a dívida: são apenas as contas de um país que deixou de ser possível. E a narcose em que entrámos não nos altera o fado. Como compreendo os meus amigos, que suspiram por um grande estoiro antes do fim, em vez deste sorriso narcótico, na esperança de que, mesmo antes do fim e depois do estoiro, ao menos então seja possível fazer alguma coisa para evitar o fim.


As pessoas mais bem-aventuradas, quando começam a morrer a grande velocidade, desencadeiam em si um processo que, se a memória não me falha (não sou médico), dá pelo nome de narcose. Perdem progressivamente consciência do que se passa à sua volta e apagam-se com um sorriso nos lábios. Morte santa, dizia o meu pai. Lendo hoje o editorial do Pedro Guerreiro, no Jornal de Negócios, percebe-se melhor o que estou a dizer. Assim vai o meu país.P.S.: O PSD tem alguma culpa. A evacuação do problema orçamental do discurso político também se lhe fica parcialmente a dever. É certo. O «défice» e a dívida não dão votos. Mas o «défice» e a dívida não são o défice e a dívida: são apenas as contas de um país que deixou de ser possível. E a narcose em que entrámos não nos altera o fado. Como compreendo os meus amigos, que suspiram por um grande estoiro antes do fim, em vez deste sorriso narcótico, na esperança de que, mesmo antes do fim e depois do estoiro, ao menos então seja possível fazer alguma coisa para evitar o fim.

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