excertos do livro de octávio machado recolhidos na revista 'única' do 'expresso', este sábado.o resto, promete.(imagem da revista 'única')Sobre Joaquim Oliveira«Conheci o Joaquim Oliveira no FC Porto, apenas como irmão do jogador António Oliveira. Nessa altura, era um adepto como outro qualquer, sem influência nenhuma, não contava nem para o totobola. (…) Aos poucos, começou a crescer, primeiro no Sporting, quando o poder do futebol estava em Lisboa, depois no FC Porto, quando esse mesmo poder se transferiu para o Norte do País. (…) Começou a ser presença assídua nas viagens do FC Porto, estratégia natural para quem pretendia alargar a sua malha de influências. Com o Artur Jorge como treinador, tornou-se habitual a presença tanto do Joaquim como do António Oliveira junto da comitiva do FC Porto, principalmente nos jogos internacionais. Os laços entre o presidente e o empresário estreitaram-se numa altura em que o clube estava a viver uma crise financeira. O Joaquim Oliveira ofereceu-se então para resolver os problemas de gestão do FC Porto. De empresário de jogadores passou a negociar contratos de publicidade e das transmissões televisivas. (…) E se, a partir de certa altura, começou a ser frequência assídua nos corredores do estádio das Antas, nem sempre foi assim. Quando o poder estava no Sul, o Joaquim Oliveira batia palmas e bebia champagne no Procópio sempre que o FC Porto perdia. (…) No início, o Pinto da Costa considerava-o o inimigo número um do FC Porto. Depois, quando precisou de dinheiro, abriu a porta ao adversário, levou-o para dentro da própria casa. (…) Há que reconhecer, porém, os atributos negociais do Joaquim Oliveira. Numa indústria na bancarrota (...), a verdade é que o Joaquim Oliveira conseguiu construir uma fortuna incalculável. Até parece que quanto mais dificuldades financeiras tiverem os clubes, mais o Joaquim Oliveira aumenta o seu poder e a sua riqueza. Quem souber como e porquê, que explique. Eu limito-me, aqui, a prestar-lhe a minha mais humilde homenagem...»Sobre as tarefas enquanto adjunto de Artur Jorge no FC Porto«Começou a perceber-se que um novo FC Porto estava a nascer: o Artur Jorge como treinador principal, eu como adjunto, com a missão, entre outras, de observar jogadores e treinar os guarda-redes (…). Acabou-se com certos hábitos instalados, o que não agradou a todos, claro. Há sempre alguns que são alérgicos a mudanças, que se sentem incomodados, e por isso houve quem quisesse contestar os meus níveis de exigência. Ao contrário do que muitos diziam, nunca fui a casa dos jogadores, como uma sentinela, fazer a ronda, verificar se já estavam a dormir. Claro que os jogadores têm de respeitar as horas do recolher, não é que houvesse horas específicas para estar a dormir, mas havia que evitar as horas impróprias. Nos estágios ia a todos os quartos, às onze da noite, para entregar o programa do dia seguinte, ver se não faltava nada aos jogadores e desejar-lhes boa noite. (…) É preciso apostar na prevenção. Cabe na cabeça de alguém, por exemplo, marcar o estágio da Selecção Nacional, para o Mundial da Coreia de 2002, em Macau, famosa pelo jogo e pela prostituição? Quando se programa todo um trabalho de preparação para um evento como o Mundial e não se tem em conta esses aspectos - a ocasião faz o ladrão - só pode dar naquilo que deu: uma prestação deplorável! Há quem diga até que a Selecção Nacional lançou a moda, em Macau, de ir para a praia às 4 da manhã... Ora, aconteceu o que aconteceu e nunca foram abertos inquéritos? A Federação não faz absolutamente nada?»Sobre a sua passagem pelo Sporting«Havia ainda certos jogadores que só pensavam nos prémios de jogo, o Sporting era, aliás, a equipa que recebia mais prémios sem ganhar absolutamente nada. (…) Quando comecei a trabalhar em Alvalade, o Sporting parecia um clube social, todos os dias o chão daquele balneário ficava ladrilhado de convites para inaugurações disto e inaugurações daquilo. E alertei-os para o facto de o Sporting não poder continuar a proceder daquela maneira: ‘Desculpem lá, não pode ser. Eu fico com a sensação de que vocês vêm treinar para depois irem à inauguração de qualquer coisa, parece que o treino é onde vocês vêm passar um bocado, só para preparar a noite e ver onde é que se vai, à inauguração da discoteca tal, à festa do bar tal, à passagem de modelos tal... Não, não pode ser! Porque as sobremesas nesses sítios são ácidas. Vocês não podem passar por um clube desta dimensão e não ficarem na história do Sporting. Vocês têm de ganhar coisas.’ Havia dirigentes que não compreendiam que ter um balneário a receber dez convites por noite não pode ser o objectivo de uma equipa de futebol profissional, mais a mais num clube como o Sporting. É admissível, por exemplo, que nas reuniões entre a equipa técnica e os jogadores apareça um alto funcionário do clube a entregar convites para a inauguração disto e daquilo? (…) Hoje, reflectindo sobre tudo isto, chego à conclusão que ter saído do Sporting foi o maior erro da minha carreira. Sinceramente, não devia ter abandonado o clube naquela altura, devia ter denunciado as manobras do Norton de Matos. Em termos de gestão da minha carreira, eu devia ter enfrentado pessoas como o Norton.»Sobre o convite para ser adjunto de Artur Jorge na Selecção Nacional«Na casa do Bairro Alto, o Artur Jorge sugeriu-me, como sabia que havia problemas entre mim e os Oliveiras, que eu concedesse uma entrevista a dizer bem deles e tudo seria muito mais fácil. Curioso, curiosíssimo. Mas eu moita!, nem lhe respondi. Não lhe perguntei os porquês nem os paraquês. A questão nem sequer merecia comentários. A verdade é que não dei nenhuma entrevista a elogiar os Oliveiras. O motivo que levou o Artur a pedir-me para dar aquela entrevista só o próprio poderá esclarecer. (…) Depois do jogo do Sporting em Beja, já estava eu em Palmela, recebi novo telefonema do Artur, agora num tom melífluo: ‘Octávio... desculpa lá... afinal não é possível... tu sabes que és o homem da minha confiança... vais continuar a ser o homem da minha confiança... eu vou falar contigo na mesma... quando for a altura das convocatórias, vou precisar que me aconselhes...’ Fiquei varado, não me controlei, disse-lhe: ‘Artur, vai pró caralho! Vai para a puta que te pariu. Eu não te admito uma coisa destas. Vai falar com o caralho. Comigo nunca mais falas.’ E assim se deu, com algum pesar meu, a ruptura definitiva com o Artur Jorge. Porque desta vez o Artur tinha deixado cair completamente a máscara.»Sobre Pinto da Costa«Quando conheci o Pinto da Costa, em 1975, ele conquistou-me pela palavra. Percorri com ele períodos difíceis, juntamente com muitas outras pessoas, conseguimos vitórias inesquecíveis. No entanto, o Pinto da Costa de hoje não tem nada que ver com esses tempos. Todos mudamos, é verdade, mas de forma tão radical, como aconteceu com o presidente do FC Porto, é algo que não compreendo. (…) Jamais perdoarei ao Pinto da Costa aquilo que ele me fez, a forma como contratou o José Mourinho. Nem na hora da morte, se ele morrer primeiro do que eu, passarei junto ao caixão para lhe dizer que está perdoado. Porque nem sequer irei ao funeral dele. (…) Há uma coisa que o Pinto da Costa, nem ninguém, consegue fazer: apagar o meu nome da história do FC Porto.»Sobre a sua condição actual«Lembro-me de uma máxima do José Maria Pedroto, que assumi sempre: ‘Octávio, se quiseres continuar no futebol tens de arranjar uma vida fora do futebol, uma vida que te permita dizer não. Se o conseguires, eles vão insultar-te, mas vão respeitar-te.’ (…) Nada me pesa na consciência e, por isso, durmo todos os dias descansado. E nada do que está neste livro é mentira. Sei que corro muitos riscos ao descrever certos episódios que se passaram na minha vida profissional ligada ao futebol. Não tenho medo, nunca tive receio de assumir riscos. Andei em paradas muito altas, mas continuei sempre a lutar pelas coisas simples, correctas e justas.»nota:sobre o estágio de 'macau', como parte envolvida, voltarei;
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excertos do livro de octávio machado recolhidos na revista 'única' do 'expresso', este sábado.o resto, promete.(imagem da revista 'única')Sobre Joaquim Oliveira«Conheci o Joaquim Oliveira no FC Porto, apenas como irmão do jogador António Oliveira. Nessa altura, era um adepto como outro qualquer, sem influência nenhuma, não contava nem para o totobola. (…) Aos poucos, começou a crescer, primeiro no Sporting, quando o poder do futebol estava em Lisboa, depois no FC Porto, quando esse mesmo poder se transferiu para o Norte do País. (…) Começou a ser presença assídua nas viagens do FC Porto, estratégia natural para quem pretendia alargar a sua malha de influências. Com o Artur Jorge como treinador, tornou-se habitual a presença tanto do Joaquim como do António Oliveira junto da comitiva do FC Porto, principalmente nos jogos internacionais. Os laços entre o presidente e o empresário estreitaram-se numa altura em que o clube estava a viver uma crise financeira. O Joaquim Oliveira ofereceu-se então para resolver os problemas de gestão do FC Porto. De empresário de jogadores passou a negociar contratos de publicidade e das transmissões televisivas. (…) E se, a partir de certa altura, começou a ser frequência assídua nos corredores do estádio das Antas, nem sempre foi assim. Quando o poder estava no Sul, o Joaquim Oliveira batia palmas e bebia champagne no Procópio sempre que o FC Porto perdia. (…) No início, o Pinto da Costa considerava-o o inimigo número um do FC Porto. Depois, quando precisou de dinheiro, abriu a porta ao adversário, levou-o para dentro da própria casa. (…) Há que reconhecer, porém, os atributos negociais do Joaquim Oliveira. Numa indústria na bancarrota (...), a verdade é que o Joaquim Oliveira conseguiu construir uma fortuna incalculável. Até parece que quanto mais dificuldades financeiras tiverem os clubes, mais o Joaquim Oliveira aumenta o seu poder e a sua riqueza. Quem souber como e porquê, que explique. Eu limito-me, aqui, a prestar-lhe a minha mais humilde homenagem...»Sobre as tarefas enquanto adjunto de Artur Jorge no FC Porto«Começou a perceber-se que um novo FC Porto estava a nascer: o Artur Jorge como treinador principal, eu como adjunto, com a missão, entre outras, de observar jogadores e treinar os guarda-redes (…). Acabou-se com certos hábitos instalados, o que não agradou a todos, claro. Há sempre alguns que são alérgicos a mudanças, que se sentem incomodados, e por isso houve quem quisesse contestar os meus níveis de exigência. Ao contrário do que muitos diziam, nunca fui a casa dos jogadores, como uma sentinela, fazer a ronda, verificar se já estavam a dormir. Claro que os jogadores têm de respeitar as horas do recolher, não é que houvesse horas específicas para estar a dormir, mas havia que evitar as horas impróprias. Nos estágios ia a todos os quartos, às onze da noite, para entregar o programa do dia seguinte, ver se não faltava nada aos jogadores e desejar-lhes boa noite. (…) É preciso apostar na prevenção. Cabe na cabeça de alguém, por exemplo, marcar o estágio da Selecção Nacional, para o Mundial da Coreia de 2002, em Macau, famosa pelo jogo e pela prostituição? Quando se programa todo um trabalho de preparação para um evento como o Mundial e não se tem em conta esses aspectos - a ocasião faz o ladrão - só pode dar naquilo que deu: uma prestação deplorável! Há quem diga até que a Selecção Nacional lançou a moda, em Macau, de ir para a praia às 4 da manhã... Ora, aconteceu o que aconteceu e nunca foram abertos inquéritos? A Federação não faz absolutamente nada?»Sobre a sua passagem pelo Sporting«Havia ainda certos jogadores que só pensavam nos prémios de jogo, o Sporting era, aliás, a equipa que recebia mais prémios sem ganhar absolutamente nada. (…) Quando comecei a trabalhar em Alvalade, o Sporting parecia um clube social, todos os dias o chão daquele balneário ficava ladrilhado de convites para inaugurações disto e inaugurações daquilo. E alertei-os para o facto de o Sporting não poder continuar a proceder daquela maneira: ‘Desculpem lá, não pode ser. Eu fico com a sensação de que vocês vêm treinar para depois irem à inauguração de qualquer coisa, parece que o treino é onde vocês vêm passar um bocado, só para preparar a noite e ver onde é que se vai, à inauguração da discoteca tal, à festa do bar tal, à passagem de modelos tal... Não, não pode ser! Porque as sobremesas nesses sítios são ácidas. Vocês não podem passar por um clube desta dimensão e não ficarem na história do Sporting. Vocês têm de ganhar coisas.’ Havia dirigentes que não compreendiam que ter um balneário a receber dez convites por noite não pode ser o objectivo de uma equipa de futebol profissional, mais a mais num clube como o Sporting. É admissível, por exemplo, que nas reuniões entre a equipa técnica e os jogadores apareça um alto funcionário do clube a entregar convites para a inauguração disto e daquilo? (…) Hoje, reflectindo sobre tudo isto, chego à conclusão que ter saído do Sporting foi o maior erro da minha carreira. Sinceramente, não devia ter abandonado o clube naquela altura, devia ter denunciado as manobras do Norton de Matos. Em termos de gestão da minha carreira, eu devia ter enfrentado pessoas como o Norton.»Sobre o convite para ser adjunto de Artur Jorge na Selecção Nacional«Na casa do Bairro Alto, o Artur Jorge sugeriu-me, como sabia que havia problemas entre mim e os Oliveiras, que eu concedesse uma entrevista a dizer bem deles e tudo seria muito mais fácil. Curioso, curiosíssimo. Mas eu moita!, nem lhe respondi. Não lhe perguntei os porquês nem os paraquês. A questão nem sequer merecia comentários. A verdade é que não dei nenhuma entrevista a elogiar os Oliveiras. O motivo que levou o Artur a pedir-me para dar aquela entrevista só o próprio poderá esclarecer. (…) Depois do jogo do Sporting em Beja, já estava eu em Palmela, recebi novo telefonema do Artur, agora num tom melífluo: ‘Octávio... desculpa lá... afinal não é possível... tu sabes que és o homem da minha confiança... vais continuar a ser o homem da minha confiança... eu vou falar contigo na mesma... quando for a altura das convocatórias, vou precisar que me aconselhes...’ Fiquei varado, não me controlei, disse-lhe: ‘Artur, vai pró caralho! Vai para a puta que te pariu. Eu não te admito uma coisa destas. Vai falar com o caralho. Comigo nunca mais falas.’ E assim se deu, com algum pesar meu, a ruptura definitiva com o Artur Jorge. Porque desta vez o Artur tinha deixado cair completamente a máscara.»Sobre Pinto da Costa«Quando conheci o Pinto da Costa, em 1975, ele conquistou-me pela palavra. Percorri com ele períodos difíceis, juntamente com muitas outras pessoas, conseguimos vitórias inesquecíveis. No entanto, o Pinto da Costa de hoje não tem nada que ver com esses tempos. Todos mudamos, é verdade, mas de forma tão radical, como aconteceu com o presidente do FC Porto, é algo que não compreendo. (…) Jamais perdoarei ao Pinto da Costa aquilo que ele me fez, a forma como contratou o José Mourinho. Nem na hora da morte, se ele morrer primeiro do que eu, passarei junto ao caixão para lhe dizer que está perdoado. Porque nem sequer irei ao funeral dele. (…) Há uma coisa que o Pinto da Costa, nem ninguém, consegue fazer: apagar o meu nome da história do FC Porto.»Sobre a sua condição actual«Lembro-me de uma máxima do José Maria Pedroto, que assumi sempre: ‘Octávio, se quiseres continuar no futebol tens de arranjar uma vida fora do futebol, uma vida que te permita dizer não. Se o conseguires, eles vão insultar-te, mas vão respeitar-te.’ (…) Nada me pesa na consciência e, por isso, durmo todos os dias descansado. E nada do que está neste livro é mentira. Sei que corro muitos riscos ao descrever certos episódios que se passaram na minha vida profissional ligada ao futebol. Não tenho medo, nunca tive receio de assumir riscos. Andei em paradas muito altas, mas continuei sempre a lutar pelas coisas simples, correctas e justas.»nota:sobre o estágio de 'macau', como parte envolvida, voltarei;