Em seguida falarei de um vinho rosado, vindo das terras de Castilla e León (Espanha), mais propriamente da zona dos Oteros (Gusendos e Grajal de Campos). Elaborado com uma casta autóctone dessa mesma zona, ocupa hoje em dia uma área aproximada dos 3.000 ha de vinhedo em toda a região. Produzido pelas Bodegas Estefania (Tilenus), este Charco Las Animas Rosado 2008 provem de vinhas situadas a 900 metros de altitude com 50% das uvas com idade compreendida entre os 70-90 anos e os outros 50% de vinha com 11 anos, durante a fermentação o vinho teve uma breve passagem por carvalho francês, terminando em inox, com uma produção final de 1300 garrafas.A aposta firme e convicta nas variedades autóctones de cada zona, é cada vez mais frequente em Espanha. Basta dar um pouco de atenção para reparar que por detrás de um mar Tempranillo moram vinhos bastante interessantes, cheios de personalidade e feitos com uvas que praticamente passam desconhecidas para a grande parte dos consumidores. Já aqui tinha dado o exemplo de uma jovem adega que aposta fortemente na casta Mencia para elaborar os seus vinhos, os resultados desse esforço têm vindo a ser recompensados com o merecido reconhecimento por parte da crítica espanhola e estrangeira desde a primeira colheita. Nota-se portanto que há uma preocupação por parte de quem produz e de quem começa a produzir, apostar na qualidade mas ao mesmo tempo na diferença com as uvas "nativas" de cada região, mesmo que ajudadas em menores percentagens por outras castas.Em Portugal cada vez mais andamos a ser abafados sempre pelas mesmas castas, as ditas cujas quase que se tornaram imigrantes e os vinhos vão perdendo a identidade a bem do negócio, trocando-se a paixão pelo negócio puro e duro, importa vender seja de que maneira for, mesmo que isso implique recorrer aos facilitismos... é quase que fazer pintura por números, criatividade é quase nula, mudando-se apenas as cores sem que a coisa fique a destoar muito. Entendendo que se pode e deve dar lugar ao vinho de lote, mas são poucos os produtores em Portugal que apostam fortemente numa vinificação a solo das castas "nativas" de cada região, embora o regozijo seja enorme quando se diz à boca cheia que temos um património muito vasto. Porque razão não temos mais vinhos 100% de Jaen, Tinta Grossa, Tinta Amarela, Tinto Cão, Vital... Ou poderei perguntar porque razão as castas ditas "desconhecidas" lá fora resultam e cá dentro nunca se pode falar em varietal sem que alguém venha a correr criticar e dizer que falta sempre qualquer coisa, acidez, volume, complexidade, intensidade... ?O vinho que se segue foi sem dúvida alguma um dos Rosados/Rosés que mais prazer me deu no ano de 2009, a produção é reduzida mas a qualidade, a polivalência que mostrou para a mesa e acima de tudo a forma diferente e divertida como se mostra na prova que dá, são motivos muito fortes para não se ficar indiferente a um vinho como este.Clan Charco Las Animas Rosado 2008Castas: 100% Prieto Picudo - Estágio: Fermentação com passagem por carvalho francês e inox - 13% Vol.Tonalidade granada vivo a lembrar a romã.Nariz de bela intensidade, ou digamos a cheirar muito e bem, com aromas que variam entre o vegetal fresco (rama de tomate, esteva molhada) com fruta vermelha (groselha, framboesa, cereja) e alguma tangerina bem madura e limpa, com algumas flores pelo meio. Ramalhete a mostrar-se sério e bem composto, frescura e a desenvolver um ligeiro toque fumado devido à passagem por madeira, que não chega nem de perto nem de longe a dar sinais durante a prova do vinho. Dá vontade de cheirar e de beber.Boca com entrada a mostrar-se fresco, seco e de enorme polivalência à mesa. Sabe a cereja, framboesa e groselha madura, com um leve apontamento vegetal pelo meio, como se tivéssemos trincado ao mesmo tempo a rama da framboesa. Envolvente, macio, tem identidade marcada e ao mesmo tempo tem garra, apesar da ligeira goma de fruta vermelha, sabe a vinho e não a doce, que o rosé não é para saber a doce, com o final de boca a mostrar uma bela persistência.É um vinho que dá muito prazer beber, é vinho para a mesa, para beber com os amigos. Foi assim que este vinho foi partilhado e bebido, com os amigos, todos gostaram, elogiaram, pedem onde se arranja mais para ter em casa. Este está entre os melhores do lado de lá, é claramente diferente, tem identidade, foge do receituário a que estamos acostumados, é como em vez de xarope para a tosse passarmos a beber uma tisana ou um chá. Acompanha saladas, pizzas, pastas, as mais variadas entradas, marisco, e até serve para ser bebido sozinho a pensar que os cerca de 8€ que custa, a produção ronda as 1300 garrafas, envergonharem tanto rosé "mal" feito em Portugal. 16,5 - 91 ptsEtiquetas: 2008, Bodegas Estefanía, Espanha, Rosé, Tierras de Castilla y Leon
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Em seguida falarei de um vinho rosado, vindo das terras de Castilla e León (Espanha), mais propriamente da zona dos Oteros (Gusendos e Grajal de Campos). Elaborado com uma casta autóctone dessa mesma zona, ocupa hoje em dia uma área aproximada dos 3.000 ha de vinhedo em toda a região. Produzido pelas Bodegas Estefania (Tilenus), este Charco Las Animas Rosado 2008 provem de vinhas situadas a 900 metros de altitude com 50% das uvas com idade compreendida entre os 70-90 anos e os outros 50% de vinha com 11 anos, durante a fermentação o vinho teve uma breve passagem por carvalho francês, terminando em inox, com uma produção final de 1300 garrafas.A aposta firme e convicta nas variedades autóctones de cada zona, é cada vez mais frequente em Espanha. Basta dar um pouco de atenção para reparar que por detrás de um mar Tempranillo moram vinhos bastante interessantes, cheios de personalidade e feitos com uvas que praticamente passam desconhecidas para a grande parte dos consumidores. Já aqui tinha dado o exemplo de uma jovem adega que aposta fortemente na casta Mencia para elaborar os seus vinhos, os resultados desse esforço têm vindo a ser recompensados com o merecido reconhecimento por parte da crítica espanhola e estrangeira desde a primeira colheita. Nota-se portanto que há uma preocupação por parte de quem produz e de quem começa a produzir, apostar na qualidade mas ao mesmo tempo na diferença com as uvas "nativas" de cada região, mesmo que ajudadas em menores percentagens por outras castas.Em Portugal cada vez mais andamos a ser abafados sempre pelas mesmas castas, as ditas cujas quase que se tornaram imigrantes e os vinhos vão perdendo a identidade a bem do negócio, trocando-se a paixão pelo negócio puro e duro, importa vender seja de que maneira for, mesmo que isso implique recorrer aos facilitismos... é quase que fazer pintura por números, criatividade é quase nula, mudando-se apenas as cores sem que a coisa fique a destoar muito. Entendendo que se pode e deve dar lugar ao vinho de lote, mas são poucos os produtores em Portugal que apostam fortemente numa vinificação a solo das castas "nativas" de cada região, embora o regozijo seja enorme quando se diz à boca cheia que temos um património muito vasto. Porque razão não temos mais vinhos 100% de Jaen, Tinta Grossa, Tinta Amarela, Tinto Cão, Vital... Ou poderei perguntar porque razão as castas ditas "desconhecidas" lá fora resultam e cá dentro nunca se pode falar em varietal sem que alguém venha a correr criticar e dizer que falta sempre qualquer coisa, acidez, volume, complexidade, intensidade... ?O vinho que se segue foi sem dúvida alguma um dos Rosados/Rosés que mais prazer me deu no ano de 2009, a produção é reduzida mas a qualidade, a polivalência que mostrou para a mesa e acima de tudo a forma diferente e divertida como se mostra na prova que dá, são motivos muito fortes para não se ficar indiferente a um vinho como este.Clan Charco Las Animas Rosado 2008Castas: 100% Prieto Picudo - Estágio: Fermentação com passagem por carvalho francês e inox - 13% Vol.Tonalidade granada vivo a lembrar a romã.Nariz de bela intensidade, ou digamos a cheirar muito e bem, com aromas que variam entre o vegetal fresco (rama de tomate, esteva molhada) com fruta vermelha (groselha, framboesa, cereja) e alguma tangerina bem madura e limpa, com algumas flores pelo meio. Ramalhete a mostrar-se sério e bem composto, frescura e a desenvolver um ligeiro toque fumado devido à passagem por madeira, que não chega nem de perto nem de longe a dar sinais durante a prova do vinho. Dá vontade de cheirar e de beber.Boca com entrada a mostrar-se fresco, seco e de enorme polivalência à mesa. Sabe a cereja, framboesa e groselha madura, com um leve apontamento vegetal pelo meio, como se tivéssemos trincado ao mesmo tempo a rama da framboesa. Envolvente, macio, tem identidade marcada e ao mesmo tempo tem garra, apesar da ligeira goma de fruta vermelha, sabe a vinho e não a doce, que o rosé não é para saber a doce, com o final de boca a mostrar uma bela persistência.É um vinho que dá muito prazer beber, é vinho para a mesa, para beber com os amigos. Foi assim que este vinho foi partilhado e bebido, com os amigos, todos gostaram, elogiaram, pedem onde se arranja mais para ter em casa. Este está entre os melhores do lado de lá, é claramente diferente, tem identidade, foge do receituário a que estamos acostumados, é como em vez de xarope para a tosse passarmos a beber uma tisana ou um chá. Acompanha saladas, pizzas, pastas, as mais variadas entradas, marisco, e até serve para ser bebido sozinho a pensar que os cerca de 8€ que custa, a produção ronda as 1300 garrafas, envergonharem tanto rosé "mal" feito em Portugal. 16,5 - 91 ptsEtiquetas: 2008, Bodegas Estefanía, Espanha, Rosé, Tierras de Castilla y Leon