O Cachimbo de Magritte: Batotice pura

06-08-2010
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Sócrates, é verdade, distrai muito, mas acabei de ouvir Miguel Portas na televisão a defender que Portugal deve abandonar a NATO, porque esta se tornou uma organização unicamente ofensiva – e, para apimentar o propósito, a maior ameaça à paz do mundo, ou algo assim. O absurdo da segunda coisa nem é preciso comentar. A primeira, por contraste, é interessante, porque dá o Bloco de Esquerda na perfeição. Quem, acabado de chegar de um planeta distante, ouvisse Miguel Portas até pensaria que, até uma certa altura (quando? – a queda do muro de Berlim?, a fundação do BE?, o advento d’ “o Bush”?), a NATO para ele se recomendava, eventualmente com algumas reservas. Agora é que, por uma razão ou outra, não. O truque do Bloco de Esquerda é inventar de todas as peças uma razoabilidade e umas credenciais democráticas passadas para os seus membros continuarem, com a legitimidade de uma virgindade refeita, a dizer e a pensar o que sempre disseram e pensaram e simulam agora no passado não ter dito nem pensado. Eles perceberam que a velha repetição da extrema-esquerda marginaliza, e que a novidade, mesmo espúria e aldrabada, é pagante. Repetem-se, mas fingem que não. Batotice pura.


Sócrates, é verdade, distrai muito, mas acabei de ouvir Miguel Portas na televisão a defender que Portugal deve abandonar a NATO, porque esta se tornou uma organização unicamente ofensiva – e, para apimentar o propósito, a maior ameaça à paz do mundo, ou algo assim. O absurdo da segunda coisa nem é preciso comentar. A primeira, por contraste, é interessante, porque dá o Bloco de Esquerda na perfeição. Quem, acabado de chegar de um planeta distante, ouvisse Miguel Portas até pensaria que, até uma certa altura (quando? – a queda do muro de Berlim?, a fundação do BE?, o advento d’ “o Bush”?), a NATO para ele se recomendava, eventualmente com algumas reservas. Agora é que, por uma razão ou outra, não. O truque do Bloco de Esquerda é inventar de todas as peças uma razoabilidade e umas credenciais democráticas passadas para os seus membros continuarem, com a legitimidade de uma virgindade refeita, a dizer e a pensar o que sempre disseram e pensaram e simulam agora no passado não ter dito nem pensado. Eles perceberam que a velha repetição da extrema-esquerda marginaliza, e que a novidade, mesmo espúria e aldrabada, é pagante. Repetem-se, mas fingem que não. Batotice pura.

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