Cravo de Abril: PREPARAR O TERRENO

25-05-2011
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No Editorial do Público de hoje, Nuno Pacheco analisa a «crise da Bolívia».Trata-se de uma análise-tipo dos propagandistas do sistema dominante, os quais, sem ponta de vergonha e recorrendo ao desbragado vale-tudo em matéria argumentativa, insultam a inteligência de quem os lê.Diz ele que «a Bolívia encontra-se a braços com uma crise gravíssima, que ameaça alastrar não apenas à América Latina (...) mas também ao mundo».Segundo Pacheco, as razões da crise «são conhecidas».E quais são essas razões conhecidas?Pacheco explica: Evo Morales, mal acabou de ser eleito Presidente da Bolívia, «nacionalizou as indústrias de gás e do petróleo» e com isso «acendeu o rastilho das autonomias».Porquê?Porque - continua a explicar - «Evo Morales canalizou as verbas do petróleo e do gás natural para um programa nacional de assistência a idosos», não atendendo às exigências dos que, nas respectivas regiões, consideravam que essas verbas eram deles e só deles e não do País.Sempre explicando, Pacheco denuncia a manobra de Evo Morales ao «convocar um referendo para pretensamente reforçar a sua posição» - referendo que, reconhece Pacheco, lhe deu «o que queria(67 por cento dos votos)», mas com o desacordo... dos restantes 33%... - o que, explica ainda Pacheco, «cavou ainda mais o fosso entre as duas Bolívias»...Daí, conclui Pacheco, «os graves confrontos entre civis (nos últimos dias), felizmente ainda sem intervenção do exército» - intervenção essa que não é de excluir «já que os líderes das províncias rebeldes garantem que terão autonomia pelo diálogo ou pelas armas» - o que, traduzido (por mim, não pelo Pacheco) quer dizer que, para os tais «líderes», «diálogo» significa o Presidente fazer o que eles querem...Temos então que, para o editorialista do Público, as culpas da crise actual são, todas, de Evo Morales; da sua inaceitável decisão de, com dinheiro do gás e do petróleo, ter ido matar a fome aos famélicos, e de - insolência das insolências! - ter feito um referendo, no qual, felizmente, obteve o apoio não de todos, mas de apenas 67 por cento dos bolivianos...Assim sendo, remata Pacheco, «se Evo Morales não aceitar o conselho que, neste momento, muitos partilham a nível internacional»...;ou seja: se Evo Morales «insistir na cegueira da sua suicida gestão política interna»;isto é: se Evo Morales não perceber que «o circo de uma pretensa "revolta libertadora" a sul é de todo indesejável, por todos e para todos»;ou, dito de forma mais clara: se Evo Morales não entrar nos eixos definidos pelo imperialismo norte-americano... então, ameaça Pacheco, «há razões mais do que suficientes para temer que a situação se descontrole»...Pacheco não explicou que expressões esse «descontrole» virá a assumir.Contudo, atira para o ar uma ideia geral que explica tudo: «acabou o tempo dos salvadores socialistas pretensamente iluminados»...Hoje mesmo, em vários países do mundo, outros pachecos escreveram, certamente, outros iguais editoriais - todos concluindo que a responsabilidade pelo que vier a acontecer na Bolívia é, toda ela, de um indivíduo «pretensamente iluminado», mas cego: porque não vê que uma «pretensa revolta libertadora», apoiada em «pretensos» apoios referendários, é «indesejável por todos e para todos»...Chama-se a isto, preparar o terreno para a aceitação - como coisa necessária, inevitável, justa e boa - de tudo o que os patrões dos pachecos vierem a fazer.


No Editorial do Público de hoje, Nuno Pacheco analisa a «crise da Bolívia».Trata-se de uma análise-tipo dos propagandistas do sistema dominante, os quais, sem ponta de vergonha e recorrendo ao desbragado vale-tudo em matéria argumentativa, insultam a inteligência de quem os lê.Diz ele que «a Bolívia encontra-se a braços com uma crise gravíssima, que ameaça alastrar não apenas à América Latina (...) mas também ao mundo».Segundo Pacheco, as razões da crise «são conhecidas».E quais são essas razões conhecidas?Pacheco explica: Evo Morales, mal acabou de ser eleito Presidente da Bolívia, «nacionalizou as indústrias de gás e do petróleo» e com isso «acendeu o rastilho das autonomias».Porquê?Porque - continua a explicar - «Evo Morales canalizou as verbas do petróleo e do gás natural para um programa nacional de assistência a idosos», não atendendo às exigências dos que, nas respectivas regiões, consideravam que essas verbas eram deles e só deles e não do País.Sempre explicando, Pacheco denuncia a manobra de Evo Morales ao «convocar um referendo para pretensamente reforçar a sua posição» - referendo que, reconhece Pacheco, lhe deu «o que queria(67 por cento dos votos)», mas com o desacordo... dos restantes 33%... - o que, explica ainda Pacheco, «cavou ainda mais o fosso entre as duas Bolívias»...Daí, conclui Pacheco, «os graves confrontos entre civis (nos últimos dias), felizmente ainda sem intervenção do exército» - intervenção essa que não é de excluir «já que os líderes das províncias rebeldes garantem que terão autonomia pelo diálogo ou pelas armas» - o que, traduzido (por mim, não pelo Pacheco) quer dizer que, para os tais «líderes», «diálogo» significa o Presidente fazer o que eles querem...Temos então que, para o editorialista do Público, as culpas da crise actual são, todas, de Evo Morales; da sua inaceitável decisão de, com dinheiro do gás e do petróleo, ter ido matar a fome aos famélicos, e de - insolência das insolências! - ter feito um referendo, no qual, felizmente, obteve o apoio não de todos, mas de apenas 67 por cento dos bolivianos...Assim sendo, remata Pacheco, «se Evo Morales não aceitar o conselho que, neste momento, muitos partilham a nível internacional»...;ou seja: se Evo Morales «insistir na cegueira da sua suicida gestão política interna»;isto é: se Evo Morales não perceber que «o circo de uma pretensa "revolta libertadora" a sul é de todo indesejável, por todos e para todos»;ou, dito de forma mais clara: se Evo Morales não entrar nos eixos definidos pelo imperialismo norte-americano... então, ameaça Pacheco, «há razões mais do que suficientes para temer que a situação se descontrole»...Pacheco não explicou que expressões esse «descontrole» virá a assumir.Contudo, atira para o ar uma ideia geral que explica tudo: «acabou o tempo dos salvadores socialistas pretensamente iluminados»...Hoje mesmo, em vários países do mundo, outros pachecos escreveram, certamente, outros iguais editoriais - todos concluindo que a responsabilidade pelo que vier a acontecer na Bolívia é, toda ela, de um indivíduo «pretensamente iluminado», mas cego: porque não vê que uma «pretensa revolta libertadora», apoiada em «pretensos» apoios referendários, é «indesejável por todos e para todos»...Chama-se a isto, preparar o terreno para a aceitação - como coisa necessária, inevitável, justa e boa - de tudo o que os patrões dos pachecos vierem a fazer.

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