A falência do BPN é, como toda a gente sabe, «um caso de polícia».O que coloca, desde logo, a questão de saber por que razão os responsáveis não foram, de imediato, detidos para averiguações.É costume dizer-se que a justiça é lenta.Será... mas nem sempre: um dia destes, uma mulher idosa foi presa, aqui no supermercado, por ter saído levando consigo, sem ter pago, uns pacotes de arroz e de massa, umas latas de atum... e logo no dia seguinte foi levada a tribunal, julgada e condenada.Como se vê, neste caso a justiça foi célere...Mas voltando ao BPN: parece não haver dúvidas de que o caso chegou ao que chegou, também por efeito da proverbial lentilentilentidão do Banco de Portugal (BP) - que só agiu... quando não podia mesmo deixar de fazê-lo, à semelhança, aliás, do que aconteceu no caso BCP - e, isto digo eu, sabe-se lá se outros casos semelhantes não estão por aí em desenvolvimento...Alguns comentadores estranham (e tecem críticas) o facto de o Governador do Banco de Portugal - Vítor Constâncio - recusar demitir-se e ostentar uma postura de ostensiva subserviência face ao Governo.Bom, a recusa percebe-se: Constâncio é «o funcionário mais bem pago do Estado Português» (ganha, anualmente, 281.804, 83 euros) e, demitindo-se do BP em lado algum ganharia coisa semelhante - não obstante ter assegurada (assim o creio) uma choruda e tranquila reforma.Acresce que Constâncio parece ser pedra fundamental para o esclarecimento da (mais do que esclarecida) falência, de modo a que a justiça - a tal!... - cumpra o seu dever.Na sua ida ao Parlamento, o Governador do BP procedeu a uma curiosíssima leitura dos acontecimentos.Disse ele, segundo o Público, que há dois comportamentos distintos das duas administrações directamente envolvidas no caso:no primeiro comportamento, com Oliveira e Costa na presidência, foram praticadas múltiplas irregularidades e ilegalidades e foi escondida informação ao BP;no segundo comportamento, depois da demissão de Oliveira e Costa, em Fevereiro de 2008 (por «razões de saúde»), passou a ser fornecida informação ao BP (a informação da falência consumada, presumo...)Depois, há um terceiro comportamento: o da administração de Miguel Cadilhe, da qual Constâncio revela que «sem a crise financeira, talvez o BPN tivesse sido recuperado num plano idealizado pela equipa do dr. Miguel Cadilhe, uma equipa de pessoas íntegras, de grande experiência bancária».(E há, ainda, obviamente, o quarto comportamento: o dos bombeiros que a CGD enviou para apagar o gigantesco incêndio).Estou em crer que, por este andar, a justiça ainda vai condenar... a crise - que impediu a «equipa do dr. Miguel Cadilhe» de salvar o BPN.E é muito provável que a mesma justiça proporcione substanciais indemnizações aos administradores da falência fraudulenta:aos primeiros, porque sim... - como é sabido a justiça é cega;aos segundos, porque informaram o BP - como é sabido a justiça é justa;aos terceiros, pelos bons serviços que teriam prestado se não fosse a crise - como é sabido a justiça tem olho de lince.Entretanto, a farsa continua.
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A falência do BPN é, como toda a gente sabe, «um caso de polícia».O que coloca, desde logo, a questão de saber por que razão os responsáveis não foram, de imediato, detidos para averiguações.É costume dizer-se que a justiça é lenta.Será... mas nem sempre: um dia destes, uma mulher idosa foi presa, aqui no supermercado, por ter saído levando consigo, sem ter pago, uns pacotes de arroz e de massa, umas latas de atum... e logo no dia seguinte foi levada a tribunal, julgada e condenada.Como se vê, neste caso a justiça foi célere...Mas voltando ao BPN: parece não haver dúvidas de que o caso chegou ao que chegou, também por efeito da proverbial lentilentilentidão do Banco de Portugal (BP) - que só agiu... quando não podia mesmo deixar de fazê-lo, à semelhança, aliás, do que aconteceu no caso BCP - e, isto digo eu, sabe-se lá se outros casos semelhantes não estão por aí em desenvolvimento...Alguns comentadores estranham (e tecem críticas) o facto de o Governador do Banco de Portugal - Vítor Constâncio - recusar demitir-se e ostentar uma postura de ostensiva subserviência face ao Governo.Bom, a recusa percebe-se: Constâncio é «o funcionário mais bem pago do Estado Português» (ganha, anualmente, 281.804, 83 euros) e, demitindo-se do BP em lado algum ganharia coisa semelhante - não obstante ter assegurada (assim o creio) uma choruda e tranquila reforma.Acresce que Constâncio parece ser pedra fundamental para o esclarecimento da (mais do que esclarecida) falência, de modo a que a justiça - a tal!... - cumpra o seu dever.Na sua ida ao Parlamento, o Governador do BP procedeu a uma curiosíssima leitura dos acontecimentos.Disse ele, segundo o Público, que há dois comportamentos distintos das duas administrações directamente envolvidas no caso:no primeiro comportamento, com Oliveira e Costa na presidência, foram praticadas múltiplas irregularidades e ilegalidades e foi escondida informação ao BP;no segundo comportamento, depois da demissão de Oliveira e Costa, em Fevereiro de 2008 (por «razões de saúde»), passou a ser fornecida informação ao BP (a informação da falência consumada, presumo...)Depois, há um terceiro comportamento: o da administração de Miguel Cadilhe, da qual Constâncio revela que «sem a crise financeira, talvez o BPN tivesse sido recuperado num plano idealizado pela equipa do dr. Miguel Cadilhe, uma equipa de pessoas íntegras, de grande experiência bancária».(E há, ainda, obviamente, o quarto comportamento: o dos bombeiros que a CGD enviou para apagar o gigantesco incêndio).Estou em crer que, por este andar, a justiça ainda vai condenar... a crise - que impediu a «equipa do dr. Miguel Cadilhe» de salvar o BPN.E é muito provável que a mesma justiça proporcione substanciais indemnizações aos administradores da falência fraudulenta:aos primeiros, porque sim... - como é sabido a justiça é cega;aos segundos, porque informaram o BP - como é sabido a justiça é justa;aos terceiros, pelos bons serviços que teriam prestado se não fosse a crise - como é sabido a justiça tem olho de lince.Entretanto, a farsa continua.