O Cachimbo de Magritte: O retorno aos Clássicos

30-05-2010
marcar artigo


«Mas porque não chamas tu o rapaz para aqui e mo apresentas? Mesmo que ele fosse mais novo do que é, não seria impróprio dele conversar connosco, pois que tu és o seu tutor e primo.»«Tens toda a razão», respondeu. «Vamos chamá-lo.» Virou-se para o servo e disse-lhe: «Rapaz, vai chamar ali o Cármides (...)»E assim foi. Ele lá veio e desenrolaram-se então umas cenas risíveis: cada um de nós se apressava a vagar o seu lugar e a empurrar o vizinho, para que o Cármides se sentasse ao seu lado, até que, nos extremos da nossa fila, um teve de se pôr de pé e o outro foi parar ao chão. Quando o Cármides chegou, sentou-se entre mim e o Crítias. Nessa altura, meu caro, senti-me completamente atrapalhado e perdi toda a minha anterior autoconfiança em poder conversar com ele sem nenhuma dificuldade! Logo que o Crítias lhe disse que era eu o entendido no remédio [para a suas dores de cabeça], ele olhou-me com uns olhos indescritíveis e ia perguntar-me qualquer coisa - mas então todos os que estavam na palestra nos rodearam e formaram um círculo fechado. E nessa altura, ó meu amigo, pude ver através da túnica dele - senti-me a arder e já não estava em mim. O Cídias pareceu-me, então, um grande sábio nas coisas do amor, quando ele, a respeito de um rapaz formoso, avisa alguém: quando o pequeno veado vai parar perto do leão, tem de ter cuidado em não ser a presa devorada por ele! E eu sentia-me como nas garras de tal fera...PLATÃO, Cármides, 155a-e.


«Mas porque não chamas tu o rapaz para aqui e mo apresentas? Mesmo que ele fosse mais novo do que é, não seria impróprio dele conversar connosco, pois que tu és o seu tutor e primo.»«Tens toda a razão», respondeu. «Vamos chamá-lo.» Virou-se para o servo e disse-lhe: «Rapaz, vai chamar ali o Cármides (...)»E assim foi. Ele lá veio e desenrolaram-se então umas cenas risíveis: cada um de nós se apressava a vagar o seu lugar e a empurrar o vizinho, para que o Cármides se sentasse ao seu lado, até que, nos extremos da nossa fila, um teve de se pôr de pé e o outro foi parar ao chão. Quando o Cármides chegou, sentou-se entre mim e o Crítias. Nessa altura, meu caro, senti-me completamente atrapalhado e perdi toda a minha anterior autoconfiança em poder conversar com ele sem nenhuma dificuldade! Logo que o Crítias lhe disse que era eu o entendido no remédio [para a suas dores de cabeça], ele olhou-me com uns olhos indescritíveis e ia perguntar-me qualquer coisa - mas então todos os que estavam na palestra nos rodearam e formaram um círculo fechado. E nessa altura, ó meu amigo, pude ver através da túnica dele - senti-me a arder e já não estava em mim. O Cídias pareceu-me, então, um grande sábio nas coisas do amor, quando ele, a respeito de um rapaz formoso, avisa alguém: quando o pequeno veado vai parar perto do leão, tem de ter cuidado em não ser a presa devorada por ele! E eu sentia-me como nas garras de tal fera...PLATÃO, Cármides, 155a-e.

marcar artigo