UM FUTURO FEITO DE PASSADONo Seminário sobre Sindicalismo que referi em post anterior, também se falou do futuro...Coisa estranha, se tivermos em conta que tudo aquilo cheirava a passado que tresandava.A dada altura, reportando-se à situação actual, Mário Soares - que, como estamos lembrados, foi o pai do processo de privatizações que iniciou a ofensiva contra a revolução e a democracia de Abril - criticou o «excesso de privatizações».Não em tom auto-crítico, obviamente, mas mais naquele tom-de-falar-por-falar em que Soares é insuperável...Sócrates, pôs-se em bicos de pés e, pequenino, discordou alegando que «as privatizações que foram feitas, foram as adequadas».E constatando que, afinal, bem vistas as coisas, estavam ambos de acordo, embalou, aplaudiu-se e aplaudiu a sua governação de «esquerda moderna, europeia, não dogmática e democrática». E foi ainda em velocidade blá-blá-blá-de-cruzeiro que enalteceu essa sua «esquerda aberta às mudanças» e desancou essa outra «esquerda fixista e conservadora» que só pensa nos trabalhadores, na justiça social, na luta contra a exploração e a pobreza...Depois, a propósito, abordou um tema que lhe é querido: «os custos (inevitáveis para os trabalhadores) do combate ao défice», e rematou, saltitante e baixinho: «com o défice e a dívida controlada, o país está melhor e terá mais futuro» - com isto querendo dizer que «o país» é o grande capital e que o «futuro» é... o passado.Esta oratória recorrente de Sócrates - repetitiva, sarrazina, miudinha - faz lembrar aquele passo de uma carta em que Jorge de Sena diz a Vergílio Ferreira: «Tem uma letra tão miudinha, tão miudinha, tão miudinha que as suas cartas do futuro cabem numa estampilha de correio».
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UM FUTURO FEITO DE PASSADONo Seminário sobre Sindicalismo que referi em post anterior, também se falou do futuro...Coisa estranha, se tivermos em conta que tudo aquilo cheirava a passado que tresandava.A dada altura, reportando-se à situação actual, Mário Soares - que, como estamos lembrados, foi o pai do processo de privatizações que iniciou a ofensiva contra a revolução e a democracia de Abril - criticou o «excesso de privatizações».Não em tom auto-crítico, obviamente, mas mais naquele tom-de-falar-por-falar em que Soares é insuperável...Sócrates, pôs-se em bicos de pés e, pequenino, discordou alegando que «as privatizações que foram feitas, foram as adequadas».E constatando que, afinal, bem vistas as coisas, estavam ambos de acordo, embalou, aplaudiu-se e aplaudiu a sua governação de «esquerda moderna, europeia, não dogmática e democrática». E foi ainda em velocidade blá-blá-blá-de-cruzeiro que enalteceu essa sua «esquerda aberta às mudanças» e desancou essa outra «esquerda fixista e conservadora» que só pensa nos trabalhadores, na justiça social, na luta contra a exploração e a pobreza...Depois, a propósito, abordou um tema que lhe é querido: «os custos (inevitáveis para os trabalhadores) do combate ao défice», e rematou, saltitante e baixinho: «com o défice e a dívida controlada, o país está melhor e terá mais futuro» - com isto querendo dizer que «o país» é o grande capital e que o «futuro» é... o passado.Esta oratória recorrente de Sócrates - repetitiva, sarrazina, miudinha - faz lembrar aquele passo de uma carta em que Jorge de Sena diz a Vergílio Ferreira: «Tem uma letra tão miudinha, tão miudinha, tão miudinha que as suas cartas do futuro cabem numa estampilha de correio».