metablog: Demarcacoes esclarecedoras e pilinhas

18-12-2009
marcar artigo

O liberal ceptico Henrique Raposo publicou dois posts em resposta ao Helder e ao Rui A. que merecem aplausos. Ao demarcar-se de certos liberalismos (ou libertarismos) mais radicais, reduconistas, a-historicos e utopicos (sim, nisto o neoliberalismo tambem tem afinidades com o marxismo: em vez de reconciliacoes organicas tem "reconciliacoes" competitivas, mas sao ambos redentores e a-politicos), o Henrique recorda-nos que liberalismos ha muitos, e alguns sao mais recomendaveis que outros. O liberalismo do Henrique reconhece e valoriza a dimensao politica da existencia humana e o papel essencial do Estado como garante ultimo de uma comunidade politica. Ele até (puxando a brasa a minha sardinha) invoca uns holismos timidos, quando rejeita a visao flutuante do Estado defendida por alguns Insurgente e Blasfemos. O Estado nao uma entidade estranha a sociedade e a comunidade politica, de uma certa forma ele pertence e transcende-as, sem que com isso se configure como uma exterioridade absoluta (a semelhanca da lei que nao e ditada por Deus nem existe num reino platonico de ideias puras). O Estado e os cidadaos pertencem a mesma "substancia" que e a realidade historica de uma comunidade politica. Nao ha Homens Novos, impolutos, oprimidos pelo Estado, a espera da libertacao (embora alguma libertacao fosse obviamente salutar), prontinhos para satisfazer as profecias redentoras (alguns liberais tambem as tem) Hayekianas.So tenho uma pequena critica a fazer ao Henrique. Parece-me que ele nao vai suficientemente longe quando diz "eu vejo as coisas em tensão, em conflito, com zonas cinzentas, sem resolução definitiva". O Henrique menciona a tensao permanente entre ordem e liberdade, esquece (talvez rejeite) que existem outros valores, nem todos devidamente reconhecidos pela tradicao liberal. Um dos conflitos irredutiveis e a tensao entre o proprio liberalismo e a democracia, que, no momento historico actual, e fundamental e evidente. Deixo aqui um excerto de um texto publicado na revista Radical Philosophy sobre este tema:"Liberal democracy is awash with promises of freedom and equality but it is incapable of realizing them. This impossibility is largely due to the contradictions between the terms the formula pairs together. Their coupling in the formula liberal democracy notwithstanding, democracy and liberalism constitute two distinct historical traditions. In the West, at least since 1945, liberal democracy has come to signify the combination of an electoral regime with a popular base and a constitutional framework of rights, operative within a capitalist political economy. It is no surprise, then, that the articulation of this ideal is ridden with tensions. Gopal Balakrishnan has starkly formulated the current stakes in this coupling: ‘To the extent that neoliberalism is a liberal doctrine, the relationship between [democracy and liberalism] today is probably about as complex and antagonistic as it was during the Weimar Republic".Antonio Y. Vasquez-Arroyo, publicado na revista Radical Philosophy, Setembro/Outubro 2004

O liberal ceptico Henrique Raposo publicou dois posts em resposta ao Helder e ao Rui A. que merecem aplausos. Ao demarcar-se de certos liberalismos (ou libertarismos) mais radicais, reduconistas, a-historicos e utopicos (sim, nisto o neoliberalismo tambem tem afinidades com o marxismo: em vez de reconciliacoes organicas tem "reconciliacoes" competitivas, mas sao ambos redentores e a-politicos), o Henrique recorda-nos que liberalismos ha muitos, e alguns sao mais recomendaveis que outros. O liberalismo do Henrique reconhece e valoriza a dimensao politica da existencia humana e o papel essencial do Estado como garante ultimo de uma comunidade politica. Ele até (puxando a brasa a minha sardinha) invoca uns holismos timidos, quando rejeita a visao flutuante do Estado defendida por alguns Insurgente e Blasfemos. O Estado nao uma entidade estranha a sociedade e a comunidade politica, de uma certa forma ele pertence e transcende-as, sem que com isso se configure como uma exterioridade absoluta (a semelhanca da lei que nao e ditada por Deus nem existe num reino platonico de ideias puras). O Estado e os cidadaos pertencem a mesma "substancia" que e a realidade historica de uma comunidade politica. Nao ha Homens Novos, impolutos, oprimidos pelo Estado, a espera da libertacao (embora alguma libertacao fosse obviamente salutar), prontinhos para satisfazer as profecias redentoras (alguns liberais tambem as tem) Hayekianas.So tenho uma pequena critica a fazer ao Henrique. Parece-me que ele nao vai suficientemente longe quando diz "eu vejo as coisas em tensão, em conflito, com zonas cinzentas, sem resolução definitiva". O Henrique menciona a tensao permanente entre ordem e liberdade, esquece (talvez rejeite) que existem outros valores, nem todos devidamente reconhecidos pela tradicao liberal. Um dos conflitos irredutiveis e a tensao entre o proprio liberalismo e a democracia, que, no momento historico actual, e fundamental e evidente. Deixo aqui um excerto de um texto publicado na revista Radical Philosophy sobre este tema:"Liberal democracy is awash with promises of freedom and equality but it is incapable of realizing them. This impossibility is largely due to the contradictions between the terms the formula pairs together. Their coupling in the formula liberal democracy notwithstanding, democracy and liberalism constitute two distinct historical traditions. In the West, at least since 1945, liberal democracy has come to signify the combination of an electoral regime with a popular base and a constitutional framework of rights, operative within a capitalist political economy. It is no surprise, then, that the articulation of this ideal is ridden with tensions. Gopal Balakrishnan has starkly formulated the current stakes in this coupling: ‘To the extent that neoliberalism is a liberal doctrine, the relationship between [democracy and liberalism] today is probably about as complex and antagonistic as it was during the Weimar Republic".Antonio Y. Vasquez-Arroyo, publicado na revista Radical Philosophy, Setembro/Outubro 2004

marcar artigo