Tal como sugeri (vide. caixa de comentarios) o Marxismo e o Neoliberalismo tem semelhancas na forma como leem o mundo - ambos com os seus "refugios absolutos": o primeiro na estrutura, o segundo na agencia. Enquanto que para os primeiros as accoes sao determinadas sistemicamente - resultando numa omissao, quando nao mesmo desprezo, pela "agencia", para os segundos, e por definicao, a agencia e' tudo o que temos - tudo o que importa considerar- sem referencias a algo que transcenda o sujeito.O neoliberalismo, ao olhar quase exclusivamente para a escolha efectiva , as accoes dos individuos, e as restricoes externas aos seus comportamentos peca, entre outras coisas, por esquecer o nao-dito e o nao-feito (por exemplo preferencias nao reveladas na escolha - isto e' particularmnte verdade para a escola austriaca). Para Marx nao existe escolha verdadeira enquanto o homem for forcado a vender o seu trabalho, reproduzindo atraves das suas "accao" a estrutura que a determina. Em contraponto, para os neoliberais o homem tem e teve sempre razao, nao havendo lugar a qualquer sugestao de falsa consciencia.A dicotomia agencia-estrutura acima referida e' irredutivel e constitutiva de qualquer sociedade e da identidade individual daqueles que a compoem, porque todos os individuos sao necessariamente agentes-num-contexto, onde cada accao depende ela propria de algo nao escolhido. Tudo o que fazemos e' e nao e' determinado por nos. Os Marxistas e os Neoliberaisnao aceitam esta tensao e tentam trancende-la, cada um a sua maneira. Neste sentido, os primeiros idealizam (ou "demonstram cientificamente" a sua inevitabilidade) uma sociedade utopica onde ela seja abolida, enquanto que os segundos inventam um agente atomistico que e' a sua propria utopia.Para uns, ele so se torna possivel com a abolicao do capitalismo; para os outros, ele sempre existiu. Sao ambas posicoes simplistas, cada uma a sua maneira, mas revelando a mesma ambicao: a necessidade de certeza e de harmonia. Ambos recorrem a uma ontologia causal, reduccionista (que nega o holismo complexo e pluralista que tenho vindo a defender) que tenta entender os fenomenos sociais atraves de um elemento unitario de agencia. Por isso, ou somos Livres ou Escravos, nao havendo lugar a compromissos ou reconceptualizacoes desse maniqueismo absolutista . O Marxismo e o Neoliberalismo sao por isso, e de um ponto de vista formal, o espelho um do outro, e e' ai que reside a sua semelhanca ou identidade fundamental.nota: ambas pretendem ser apoliticas, pois a Politica e' (ou deseja-se) meramente administrativa. Os neoliberais e os marxistas partilham o mesmo sonho: tornar a politica na administracao das coisas. No fundo, ambas ignoram que existe uma parte significativa da existencia humana que pertence necessariamente 'a politica, onde o conflicto e as disputas sao endemicos, constitutivos, e impossiveis de serem transcendidos de uma forma permanente e absoluta. nota2: tanto o Marxismo como o Neoliberalismo cometem o mesmo erro: achar que a palavra Liberdade pode ser entendida independentemente da relacao com outros termos e com determinado contexto que lhe dao conteudo e que a negam enquanto algo universal e absoluto. nota3: para escrever este post recorri aos servicos de apoio e consultoria do Tiago Mendes, o mestre do silogismo logico-dedutivo
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Tal como sugeri (vide. caixa de comentarios) o Marxismo e o Neoliberalismo tem semelhancas na forma como leem o mundo - ambos com os seus "refugios absolutos": o primeiro na estrutura, o segundo na agencia. Enquanto que para os primeiros as accoes sao determinadas sistemicamente - resultando numa omissao, quando nao mesmo desprezo, pela "agencia", para os segundos, e por definicao, a agencia e' tudo o que temos - tudo o que importa considerar- sem referencias a algo que transcenda o sujeito.O neoliberalismo, ao olhar quase exclusivamente para a escolha efectiva , as accoes dos individuos, e as restricoes externas aos seus comportamentos peca, entre outras coisas, por esquecer o nao-dito e o nao-feito (por exemplo preferencias nao reveladas na escolha - isto e' particularmnte verdade para a escola austriaca). Para Marx nao existe escolha verdadeira enquanto o homem for forcado a vender o seu trabalho, reproduzindo atraves das suas "accao" a estrutura que a determina. Em contraponto, para os neoliberais o homem tem e teve sempre razao, nao havendo lugar a qualquer sugestao de falsa consciencia.A dicotomia agencia-estrutura acima referida e' irredutivel e constitutiva de qualquer sociedade e da identidade individual daqueles que a compoem, porque todos os individuos sao necessariamente agentes-num-contexto, onde cada accao depende ela propria de algo nao escolhido. Tudo o que fazemos e' e nao e' determinado por nos. Os Marxistas e os Neoliberaisnao aceitam esta tensao e tentam trancende-la, cada um a sua maneira. Neste sentido, os primeiros idealizam (ou "demonstram cientificamente" a sua inevitabilidade) uma sociedade utopica onde ela seja abolida, enquanto que os segundos inventam um agente atomistico que e' a sua propria utopia.Para uns, ele so se torna possivel com a abolicao do capitalismo; para os outros, ele sempre existiu. Sao ambas posicoes simplistas, cada uma a sua maneira, mas revelando a mesma ambicao: a necessidade de certeza e de harmonia. Ambos recorrem a uma ontologia causal, reduccionista (que nega o holismo complexo e pluralista que tenho vindo a defender) que tenta entender os fenomenos sociais atraves de um elemento unitario de agencia. Por isso, ou somos Livres ou Escravos, nao havendo lugar a compromissos ou reconceptualizacoes desse maniqueismo absolutista . O Marxismo e o Neoliberalismo sao por isso, e de um ponto de vista formal, o espelho um do outro, e e' ai que reside a sua semelhanca ou identidade fundamental.nota: ambas pretendem ser apoliticas, pois a Politica e' (ou deseja-se) meramente administrativa. Os neoliberais e os marxistas partilham o mesmo sonho: tornar a politica na administracao das coisas. No fundo, ambas ignoram que existe uma parte significativa da existencia humana que pertence necessariamente 'a politica, onde o conflicto e as disputas sao endemicos, constitutivos, e impossiveis de serem transcendidos de uma forma permanente e absoluta. nota2: tanto o Marxismo como o Neoliberalismo cometem o mesmo erro: achar que a palavra Liberdade pode ser entendida independentemente da relacao com outros termos e com determinado contexto que lhe dao conteudo e que a negam enquanto algo universal e absoluto. nota3: para escrever este post recorri aos servicos de apoio e consultoria do Tiago Mendes, o mestre do silogismo logico-dedutivo