A actual responsável da Casa Pia deu ontem uma entrevista à Judite de Sousa, que estranhamente não provocou grandes reacções, mas que me deixou intranquilo e um travo amargo.A Dra Joaquina Madeira não só usou vários termos infelizes - como «abuso ou uso indevido» de crianças - como revelou uma atenção descentrada das vítimas. Por exemplo, quando manifestou desconforto e apelidou de «desproporcionados e infelizes» os alertas públicos (de Pedro Namora e Catalina Pestana) para indícios de abusos que, primeiro, negou e depois verificou, afinal, existirem.Revelou maior preocupação em não acusar os abusadores («porque têm os seus direitos») do que inquietação e identificação com as vítimas. Maior empenho em tranquilizar os funcionários, do que em assegurar protecção às vítimas. Um esforço mais persistente em silenciar o escândalo do que em solicitar apoios para pôr fim ao drama. Enfim, uma mãe muito zelosa talvez da sua carreira, mas demasiado fria em face do drama dos seus."O processo que ameaçou o regime" começou por levar à não recondução do Procurador-Geral da República; levou, depois e segundo dizem, a uma alteração da Lei Penal cirurgicamente pensada para aliviar arguidos; tem conduzido, finalmente, à colocação de peças cirúrgicas em torno de todo o processo. Todos os responsáveis parecem ir num único sentido: o silêncio.
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A actual responsável da Casa Pia deu ontem uma entrevista à Judite de Sousa, que estranhamente não provocou grandes reacções, mas que me deixou intranquilo e um travo amargo.A Dra Joaquina Madeira não só usou vários termos infelizes - como «abuso ou uso indevido» de crianças - como revelou uma atenção descentrada das vítimas. Por exemplo, quando manifestou desconforto e apelidou de «desproporcionados e infelizes» os alertas públicos (de Pedro Namora e Catalina Pestana) para indícios de abusos que, primeiro, negou e depois verificou, afinal, existirem.Revelou maior preocupação em não acusar os abusadores («porque têm os seus direitos») do que inquietação e identificação com as vítimas. Maior empenho em tranquilizar os funcionários, do que em assegurar protecção às vítimas. Um esforço mais persistente em silenciar o escândalo do que em solicitar apoios para pôr fim ao drama. Enfim, uma mãe muito zelosa talvez da sua carreira, mas demasiado fria em face do drama dos seus."O processo que ameaçou o regime" começou por levar à não recondução do Procurador-Geral da República; levou, depois e segundo dizem, a uma alteração da Lei Penal cirurgicamente pensada para aliviar arguidos; tem conduzido, finalmente, à colocação de peças cirúrgicas em torno de todo o processo. Todos os responsáveis parecem ir num único sentido: o silêncio.