PALAVROSSAVRVS REX: YEDIOTH AHARONOTH E O SANGUE QUOTIDIANO

24-12-2009
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O pão-nosso é o Sangue.lkjAvner Shalev69 anos, director do Yad Vashem. Vive em Ramat Hasharon, a norte de Telavive.O Yad Ashem (museu, memorial, centro de investigação), situado em Jerusalém, é a maior instituição relacionada com o Holocausto. Shalev, que nasceu em Jerusalém, dirige-o há 14 anos.lkj"Celebro o facto de a nação judaica ter implementado o direito básico de possuir algures na terra uma pátria, de cumprir o seu destino como parte da comunidade das nações. Para o povo judeu, a quem faltou esta pátria durante milhares de anos, era a falta de algo ligado à identidade colectiva. Não posso tomá-lo por seguro. Há 60 anos havia 600 mil habitantes judeus e agora, dos 7,2 milhões de habitantes de Israel, 5,5 milhões são judeus e 20 por cento árabes. A seguir à II Guerra, vieram 500 mil sobreviventes da Europa e juntos construíram um país. Olhando para trás posso dizer que celebro termos revivido a língua, de os meus netos poderem ler a Bíblia na língua original. É um milagre do século XX. E celebro muitas ideias inovadoras para a arte, termos conseguido tanto, construir uma nova sociedade. E tudo isso sob a pressão de tantas guerras. Olhando para o futuro, a principal coisa que não temos é a paz. Nos últimos 20 anos chegámos a acreditar que podíamos ter uma vida com os vizinhos mas isso colapsou. Mas tenho a certeza de que conseguiremos. E mantendo a base moral e a força de espírito, que são o mais forte na nossa sociedade. Os feitos dos sobreviventes são imensos. Perderam tudo, vieram, tomaram tudo nas mãos e nunca olharam para trás com desespero. Podemos encontrá-los a liderar, na indústria, na ciência, no desporto, no comércio, ao longo dos anos. É um milagre."kjhISRAELkh«Telavive é uma memória feliz: estive na cidade duas vezes e ainda hoje recordo o cheiro a maresia, as noites quentes junto à praia. Os cafés. As livrarias. As mulheres. E a pergunta inquietante: até quando será possível viver com uma sombra de destruição sobre tudo isto - sobre este Rio de Janeiro plantado nas margens do Mediterrâneo?lkjNão sou caso único e a revista "Atlantic" de Maio formula a mesma questão: "Estará Israel acabado?" Há algo de trágico na pergunta, sobretudo atendendo à data: 60 anos depois da fundação, a possibilidade de uma vida normal está longe de assegurada. Sim, Israel é uma economia florescente (150 mil milhões no último ano) e um exemplo no ensino e na investigação. Para lá do óbvio: a única democracia pluralista no Médio Oriente. Mas, 60 anos depois, é a sua própria sobrevivência que continua em causa.kjhSobrevivência demográfica, para começar: com 1,3 milhões de árabes em Israel (um país com 5,4 milhões de judeus), o que fazer com os 3 milhões de árabes de Gaza e da Cisjordânia? Retirar era o único caminho, como se viu em Gaza. Mas, como se viu em Gaza, retirar permitiu apenas a ascensão do Hamas, armado pelo Irão e apostado em alvejar as cidades israelitas de forma cobarde e impune. lkjOs "territórios ocupados" representam bem o paradoxo em que vive o país: Israel sabe que tem de partir e Israel sabe que não pode partir.A juntar à demografia, chegam as ameaças externas. E se os países árabes, como o Egipto ou a Jordânia, já deixaram de ser os inimigos clássicos do estado judaico, a ameaça xiita de um Irão a caminho do nuclear tomou o lugar de potências passadas. Com gravidade acrescida: se Teerão chegar à bomba, a destruição económica, psicológica e até física de Israel será uma inevitabilidade.Uma inevitabilidade e uma ironia trágica: como lembra o historiador Benny Morris, Israel existiu para proteger os judeus de um mundo perigoso. Sessenta anos depois, Israel corre o risco de se tornar no mais perigoso dos mundos para os próprios.»lkjJoão Pereira Coutinho


O pão-nosso é o Sangue.lkjAvner Shalev69 anos, director do Yad Vashem. Vive em Ramat Hasharon, a norte de Telavive.O Yad Ashem (museu, memorial, centro de investigação), situado em Jerusalém, é a maior instituição relacionada com o Holocausto. Shalev, que nasceu em Jerusalém, dirige-o há 14 anos.lkj"Celebro o facto de a nação judaica ter implementado o direito básico de possuir algures na terra uma pátria, de cumprir o seu destino como parte da comunidade das nações. Para o povo judeu, a quem faltou esta pátria durante milhares de anos, era a falta de algo ligado à identidade colectiva. Não posso tomá-lo por seguro. Há 60 anos havia 600 mil habitantes judeus e agora, dos 7,2 milhões de habitantes de Israel, 5,5 milhões são judeus e 20 por cento árabes. A seguir à II Guerra, vieram 500 mil sobreviventes da Europa e juntos construíram um país. Olhando para trás posso dizer que celebro termos revivido a língua, de os meus netos poderem ler a Bíblia na língua original. É um milagre do século XX. E celebro muitas ideias inovadoras para a arte, termos conseguido tanto, construir uma nova sociedade. E tudo isso sob a pressão de tantas guerras. Olhando para o futuro, a principal coisa que não temos é a paz. Nos últimos 20 anos chegámos a acreditar que podíamos ter uma vida com os vizinhos mas isso colapsou. Mas tenho a certeza de que conseguiremos. E mantendo a base moral e a força de espírito, que são o mais forte na nossa sociedade. Os feitos dos sobreviventes são imensos. Perderam tudo, vieram, tomaram tudo nas mãos e nunca olharam para trás com desespero. Podemos encontrá-los a liderar, na indústria, na ciência, no desporto, no comércio, ao longo dos anos. É um milagre."kjhISRAELkh«Telavive é uma memória feliz: estive na cidade duas vezes e ainda hoje recordo o cheiro a maresia, as noites quentes junto à praia. Os cafés. As livrarias. As mulheres. E a pergunta inquietante: até quando será possível viver com uma sombra de destruição sobre tudo isto - sobre este Rio de Janeiro plantado nas margens do Mediterrâneo?lkjNão sou caso único e a revista "Atlantic" de Maio formula a mesma questão: "Estará Israel acabado?" Há algo de trágico na pergunta, sobretudo atendendo à data: 60 anos depois da fundação, a possibilidade de uma vida normal está longe de assegurada. Sim, Israel é uma economia florescente (150 mil milhões no último ano) e um exemplo no ensino e na investigação. Para lá do óbvio: a única democracia pluralista no Médio Oriente. Mas, 60 anos depois, é a sua própria sobrevivência que continua em causa.kjhSobrevivência demográfica, para começar: com 1,3 milhões de árabes em Israel (um país com 5,4 milhões de judeus), o que fazer com os 3 milhões de árabes de Gaza e da Cisjordânia? Retirar era o único caminho, como se viu em Gaza. Mas, como se viu em Gaza, retirar permitiu apenas a ascensão do Hamas, armado pelo Irão e apostado em alvejar as cidades israelitas de forma cobarde e impune. lkjOs "territórios ocupados" representam bem o paradoxo em que vive o país: Israel sabe que tem de partir e Israel sabe que não pode partir.A juntar à demografia, chegam as ameaças externas. E se os países árabes, como o Egipto ou a Jordânia, já deixaram de ser os inimigos clássicos do estado judaico, a ameaça xiita de um Irão a caminho do nuclear tomou o lugar de potências passadas. Com gravidade acrescida: se Teerão chegar à bomba, a destruição económica, psicológica e até física de Israel será uma inevitabilidade.Uma inevitabilidade e uma ironia trágica: como lembra o historiador Benny Morris, Israel existiu para proteger os judeus de um mundo perigoso. Sessenta anos depois, Israel corre o risco de se tornar no mais perigoso dos mundos para os próprios.»lkjJoão Pereira Coutinho

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