PALAVROSSAVRVS REX: ABDICAR DE PREVISÕES?

24-12-2009
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Os tempos em que vivemos são propícios a previsões económicas sucessivamente falhadas e por vezes à tentação de uma perigosa deriva argentinizadora dos números da economia por parte dos governos. O perigo resisde num mascaramento da realidade dos números para que não impactem num mau conceito das políticas pelas opiniões públicas, baixando a popularidade governamental, mas, revelada a verdade, lançando o descrédito na sua palavra e com isso bloqueando e inviabilizando decisões dos agentes económicos. Actuação que normalmente redunda na expressão cínica do ponto de vista ético e económico: «Afinal, as coisas são bem piores do que pensávamos». Quando agora o INE,na sua estimativa rápida, dá conta de que a economia portuguesa se contraiu dois por cento no quarto trimestre do ano, face ao trimestre anterior, desempenho que contribuiu decisivamente para a variação nula do Produto Interno Bruto no conjunto do ano, tal vale o que vale e é aliás uma constante noutros planos e contextos, basta pesquisar o FT.com/uk, onde a revisão das previsões aos mais diversos níveis é permanente e, se atempada e honesta, um sinal positivo aos agentes económicos: «Diageo has cut its annual profit growth forecast to a new low and warned of a slowdown in global drink sales, in spite of reporting a 3 per cent rise in interim pre-tax profits to £1.4bn. Shares in the maker of Johnnie Walker whisky and Tanqueray gin fell 30p to 877½p yesterday after the group dropped its 2009 profit growth forecast to 4-6 per cent from a previous estimate of 7-9 per cent.». Ora, o INE justifica estes números, que constituem o dobro do que tinham antecipado analistas e Banco de Portugal, com os “contributos negativos do investimento e da procura externa líquida”, ao ponto de se terem “verificado uma diminuição expressiva das exportações”, lê-se no comunicado enviado à imprensa. Mas é caso para perguntarmos se o Banco de Portugal não detém um acesso privilegiado aos dados da economia que lhe permita, por uma vez, antecipar desempenhos mais próximos da concretização efectiva ou será o BdP ele-mesmo um mero instrumento mais ao serviço explícito da tal argentinização sistemática dos números pelo governo?! Se não passa de um instrumento de lavagem de estatísticas económicas aquém da realidade, erróneas e lisonjeiras para o governo, está a prestar um mau serviço ao país e o resultado de este tipo de inconsistência acabará por se revelar fatal. Na verdade, é já impossível disfarçar que o controlo do défice e o desempenho global do governo em matéria económica enferma de uma mediocridade atroz. Nós sabemos que há um lastro que arrasta o país para baixo. Esse lastro é o peso clientelar na estrutura do Estado. Esse lastro é o abismo cavado entre ricos e pobres. Supostamente, alguma coisa poderia ser feita no plano da procura interna, mas a mais confrangedora inacção governamental, mascarada com vigor discursivo nos diversos anúncios de regime, é tudo quanto podemos esperar. O nulo, portanto.


Os tempos em que vivemos são propícios a previsões económicas sucessivamente falhadas e por vezes à tentação de uma perigosa deriva argentinizadora dos números da economia por parte dos governos. O perigo resisde num mascaramento da realidade dos números para que não impactem num mau conceito das políticas pelas opiniões públicas, baixando a popularidade governamental, mas, revelada a verdade, lançando o descrédito na sua palavra e com isso bloqueando e inviabilizando decisões dos agentes económicos. Actuação que normalmente redunda na expressão cínica do ponto de vista ético e económico: «Afinal, as coisas são bem piores do que pensávamos». Quando agora o INE,na sua estimativa rápida, dá conta de que a economia portuguesa se contraiu dois por cento no quarto trimestre do ano, face ao trimestre anterior, desempenho que contribuiu decisivamente para a variação nula do Produto Interno Bruto no conjunto do ano, tal vale o que vale e é aliás uma constante noutros planos e contextos, basta pesquisar o FT.com/uk, onde a revisão das previsões aos mais diversos níveis é permanente e, se atempada e honesta, um sinal positivo aos agentes económicos: «Diageo has cut its annual profit growth forecast to a new low and warned of a slowdown in global drink sales, in spite of reporting a 3 per cent rise in interim pre-tax profits to £1.4bn. Shares in the maker of Johnnie Walker whisky and Tanqueray gin fell 30p to 877½p yesterday after the group dropped its 2009 profit growth forecast to 4-6 per cent from a previous estimate of 7-9 per cent.». Ora, o INE justifica estes números, que constituem o dobro do que tinham antecipado analistas e Banco de Portugal, com os “contributos negativos do investimento e da procura externa líquida”, ao ponto de se terem “verificado uma diminuição expressiva das exportações”, lê-se no comunicado enviado à imprensa. Mas é caso para perguntarmos se o Banco de Portugal não detém um acesso privilegiado aos dados da economia que lhe permita, por uma vez, antecipar desempenhos mais próximos da concretização efectiva ou será o BdP ele-mesmo um mero instrumento mais ao serviço explícito da tal argentinização sistemática dos números pelo governo?! Se não passa de um instrumento de lavagem de estatísticas económicas aquém da realidade, erróneas e lisonjeiras para o governo, está a prestar um mau serviço ao país e o resultado de este tipo de inconsistência acabará por se revelar fatal. Na verdade, é já impossível disfarçar que o controlo do défice e o desempenho global do governo em matéria económica enferma de uma mediocridade atroz. Nós sabemos que há um lastro que arrasta o país para baixo. Esse lastro é o peso clientelar na estrutura do Estado. Esse lastro é o abismo cavado entre ricos e pobres. Supostamente, alguma coisa poderia ser feita no plano da procura interna, mas a mais confrangedora inacção governamental, mascarada com vigor discursivo nos diversos anúncios de regime, é tudo quanto podemos esperar. O nulo, portanto.

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