Portugal tornou-se um país curioso, a viver ao sabor das previsões de organizações nacionais e internacionais. O deputado Hugo Velosa, do PSD Madeira, reagia no final do debate parlamentar desta tarde aos últimos números, dizendo que as previsões do FMI costumam ser certeiras. Nós que andamos no negócio não sabíamos disso. Mas vamos lá dar atenção aos números.Segundo o FMI, 30 das 34 nações mais desenvolvidas do mundo (sim, nós estamos lá) vão experimentar um declínio do produto em 2009. A economia mundial como um todo deverá decrescer 1.3% este ano. Um número contra o qual a previsão para Portugal parece ficar mal na fotografia. Mas é a vida. É que esses -1.3% têm um crescimento previsto de 6.5% para a China, e um valor igualmente interessante para a Índia. No conjunto do países emergentes o crescimento é 1,6%, sendo que toda a Europa de Leste puxa esta valor para baixo. Se a China e a Índia, de repente, desaparecessem, a média global entrava em terreno assustador! E os 1,9% para 2010, têm presente um cenário de crescimento médio anual nulo nos EUA, e de valores melhorados na Índia e na China (ver artigo do Wall Street Journal a respeito). O valor para os EUA depende do sucesso das parcerias público-privadas que Timothy Geither desenhou para remoção dos activos tóxicos dos bancos. Convirá dizer, aos mais partidários do actual modelo da UEM que a crise na zona Euro será mais profunda e prolongada, de acordo com o FMI. Em que medida? A previsão para a Eurolândia é de -4,2% em média este ano, e -0,4% em média no próximo ano. O que significa que Portugal podia ser tomado como o paradigma do país europeu médio: -0,5% no próximo ano, -4,1% neste. O que convenhamos não acontece todos os dias: estarmos na média comunitária.... Qual é a solução segundo o FMI? O fundo está a pensar que os governos seguirão programas de estímulos (sim, keynesianos, com aumentos de despesa pública, investimento, transferências sociais, descidas de impostos sobre a classe média e baixa, etc) de 2% do PIB este ano e 1,5% no próximo, mas isto "pode ser insuficiente". E cito: "It is now apparent that the effort will need to be at least sustained, if not increased, in 2010, and countries with fiscal room should stand ready to introduce new stimulus measures as needed to support the recovery." Alguém me poderá perguntar: e nós temos esse espaço de manobra? Eu diria que temos de ter. Seguindo a tese de pressionar a Comissão Europeia com estas recomendações do FMI. Mais importante do que ter um português à frente da comissão é ter os portugueses a pressionarem a comissão. Porque segundo o FMI, são muito poucos os países europeus que podem fazer este crucial estímulo adicional se a insistência no défice de 3% for seguida. E entre os que não podem estão economias de grande dimensão como a Espanha, a Itália e a França. A reunião do G7, no final desta semana, deverá ter presentes estas recomendações. E fornecem apoio adicional à tese anglo-americana de que os pacotes de estímulos são um caminho fundamental para a retoma da procura e do crescimento. O problema é que me palpita que a Alemanha tem um problema auditivo, e que os outros países europeus têm medo de falar alto.
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Portugal tornou-se um país curioso, a viver ao sabor das previsões de organizações nacionais e internacionais. O deputado Hugo Velosa, do PSD Madeira, reagia no final do debate parlamentar desta tarde aos últimos números, dizendo que as previsões do FMI costumam ser certeiras. Nós que andamos no negócio não sabíamos disso. Mas vamos lá dar atenção aos números.Segundo o FMI, 30 das 34 nações mais desenvolvidas do mundo (sim, nós estamos lá) vão experimentar um declínio do produto em 2009. A economia mundial como um todo deverá decrescer 1.3% este ano. Um número contra o qual a previsão para Portugal parece ficar mal na fotografia. Mas é a vida. É que esses -1.3% têm um crescimento previsto de 6.5% para a China, e um valor igualmente interessante para a Índia. No conjunto do países emergentes o crescimento é 1,6%, sendo que toda a Europa de Leste puxa esta valor para baixo. Se a China e a Índia, de repente, desaparecessem, a média global entrava em terreno assustador! E os 1,9% para 2010, têm presente um cenário de crescimento médio anual nulo nos EUA, e de valores melhorados na Índia e na China (ver artigo do Wall Street Journal a respeito). O valor para os EUA depende do sucesso das parcerias público-privadas que Timothy Geither desenhou para remoção dos activos tóxicos dos bancos. Convirá dizer, aos mais partidários do actual modelo da UEM que a crise na zona Euro será mais profunda e prolongada, de acordo com o FMI. Em que medida? A previsão para a Eurolândia é de -4,2% em média este ano, e -0,4% em média no próximo ano. O que significa que Portugal podia ser tomado como o paradigma do país europeu médio: -0,5% no próximo ano, -4,1% neste. O que convenhamos não acontece todos os dias: estarmos na média comunitária.... Qual é a solução segundo o FMI? O fundo está a pensar que os governos seguirão programas de estímulos (sim, keynesianos, com aumentos de despesa pública, investimento, transferências sociais, descidas de impostos sobre a classe média e baixa, etc) de 2% do PIB este ano e 1,5% no próximo, mas isto "pode ser insuficiente". E cito: "It is now apparent that the effort will need to be at least sustained, if not increased, in 2010, and countries with fiscal room should stand ready to introduce new stimulus measures as needed to support the recovery." Alguém me poderá perguntar: e nós temos esse espaço de manobra? Eu diria que temos de ter. Seguindo a tese de pressionar a Comissão Europeia com estas recomendações do FMI. Mais importante do que ter um português à frente da comissão é ter os portugueses a pressionarem a comissão. Porque segundo o FMI, são muito poucos os países europeus que podem fazer este crucial estímulo adicional se a insistência no défice de 3% for seguida. E entre os que não podem estão economias de grande dimensão como a Espanha, a Itália e a França. A reunião do G7, no final desta semana, deverá ter presentes estas recomendações. E fornecem apoio adicional à tese anglo-americana de que os pacotes de estímulos são um caminho fundamental para a retoma da procura e do crescimento. O problema é que me palpita que a Alemanha tem um problema auditivo, e que os outros países europeus têm medo de falar alto.