No dia 25 de Maio realizou-se, pela segunda vez, uma tourada à corda em São Miguel, nas instalações da Associação Agrícola. Podemos imaginar de que forma a realização desta tourada foi decidida pelos organizadores, no decurso de uma solene reunião:– Caros colegas, se alguém tem uma ideia para o Dia do Agricultor deste ano gostava que a dissesse agora.– Podemos talvez organizar um grande concerto de música pimba, como outras vezes.– Nem pensar nisso. O meu filho, que está a estudar no continente, até gostaria disso. Mas eu já tenho demasiada idade para essas coisas.– Então, e organizar um recital de poesia?– O Joãozinho, tu estás a gozar aqui com a gente, não é? Nós somos homens da lavoura, homens a sério. Não podemos andar por ai a recitar poesias, como esses tipos moles. Isso é intelectual a mais para nós.– Mas talvez possamos fazer um grande baile, com uma orquestra.– Olha, eu não nasci para dançar. Ainda tropeçava e caía acima de toda a gente.– Pois então… E se fazemos uma tourada à corda, como na Terceira?– Claro! Muito bem! Isso é que é boa ideia!– Amarrar um animal no meio da gente para depois o fustigar, isto sim que revela a sensibilidade da gente da lavoura, aquilo que nos vai na alma.– E é o que toda a gente espera de nós. Há umas tradições a cumprir. O que pensariam de nós se não nos comportassemos como uns brutamontes?Foi talvez assim que este ano, no seio da Sociedade Agrícola, se defendeu orgulhosamente a imagem tradicional do homem da lavoura, pois maltratar animais é, sem dúvida, a melhor forma de garantir a imagem do homem rude do campo.Mas, já agora, gostavamos sugerir outros espectáculos alternativos para os próximos anos: apedrejar publicamente o idiota da aldeia, queimar vivo um cão de fila, ver quem aguenta mais tempo em pé depois de beber mais pipas de cerveja… Tudo actividades bem brutas e geradoras de grande convívio.Fica claro que os dirigentes da Sociedade Agrícola não têm nenhum respeito pelos animais, mas era bom que pelo menos começassem a ter algum respeito por si mesmos.
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No dia 25 de Maio realizou-se, pela segunda vez, uma tourada à corda em São Miguel, nas instalações da Associação Agrícola. Podemos imaginar de que forma a realização desta tourada foi decidida pelos organizadores, no decurso de uma solene reunião:– Caros colegas, se alguém tem uma ideia para o Dia do Agricultor deste ano gostava que a dissesse agora.– Podemos talvez organizar um grande concerto de música pimba, como outras vezes.– Nem pensar nisso. O meu filho, que está a estudar no continente, até gostaria disso. Mas eu já tenho demasiada idade para essas coisas.– Então, e organizar um recital de poesia?– O Joãozinho, tu estás a gozar aqui com a gente, não é? Nós somos homens da lavoura, homens a sério. Não podemos andar por ai a recitar poesias, como esses tipos moles. Isso é intelectual a mais para nós.– Mas talvez possamos fazer um grande baile, com uma orquestra.– Olha, eu não nasci para dançar. Ainda tropeçava e caía acima de toda a gente.– Pois então… E se fazemos uma tourada à corda, como na Terceira?– Claro! Muito bem! Isso é que é boa ideia!– Amarrar um animal no meio da gente para depois o fustigar, isto sim que revela a sensibilidade da gente da lavoura, aquilo que nos vai na alma.– E é o que toda a gente espera de nós. Há umas tradições a cumprir. O que pensariam de nós se não nos comportassemos como uns brutamontes?Foi talvez assim que este ano, no seio da Sociedade Agrícola, se defendeu orgulhosamente a imagem tradicional do homem da lavoura, pois maltratar animais é, sem dúvida, a melhor forma de garantir a imagem do homem rude do campo.Mas, já agora, gostavamos sugerir outros espectáculos alternativos para os próximos anos: apedrejar publicamente o idiota da aldeia, queimar vivo um cão de fila, ver quem aguenta mais tempo em pé depois de beber mais pipas de cerveja… Tudo actividades bem brutas e geradoras de grande convívio.Fica claro que os dirigentes da Sociedade Agrícola não têm nenhum respeito pelos animais, mas era bom que pelo menos começassem a ter algum respeito por si mesmos.