De Rerum Natura: Francisco Louçã, o pregador

18-12-2009
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Como neste blogue as opiniões são livres, trazemos a opinião do nosso colaborador Rui Baptista sobre o debate televisivo Sócrates-Louçã: “A cura está ligada ao tempo e às vezes também às circunstâncias” (Hipócrates, 460 a.C.- 337 a.C)O recente debate televisivo entre José Sócrates e Francisco Louçã (RTP1, 8/09/2009) fez-me recuar aos tempos da minha juventude. Mais precisamente aos saudosos filmes de “cowboys” em que aparecia a personagem de um pregador que, na praça pública, tentava convencer os ouvintes da bem-aventurança que aguardava as suas almas no paraíso que ele defendia com a convicção da sua “própria fé” .Neste caso, o pregador da coboiada nacional que passou nos ecrãs televisivos foi personificado por Francisco Louçã, o festejado líder do Bloco de Esquerda, quando no referido debate defendeu que as despesas com a saúde - consequentemente, as consultas médicas em consultórios privados - deixassem de contar para efeitos de desconto no IRS.Sabendo nós que os recibos passados pelos médicos aos seus clientes constituem uma parcela importante do total que é taxado a estes profissionais para pagamento de IRS, o referido desaparecimento de recibos constituiria uma perda evidente de rendimentos para a fazenda pública criando uma forma de economia paralela que vigora nas profissões que não passam recibo porque o cliente assim não o exige, porque não ganha nada com isso e porque não quer amontoar papelada para lançar no lixo.Este um aspecto da questão. Outro, e não menor, é o facto de o pregador Francisco Louçã julgar estar a viver, no "ledo e doce engano" de um mundo idílico em que o utente de uma consulta estatal não tem que se deslocar pela madrugada a um posto médico ou hospital para ser atendido ou simplesmente marcar uma consulta. Sem comentários por desnecessários, suponhamos, por hipótese, tratar-se de um doente com uma pneumonia e sem meio de transporte próprio que tem de se deslocar em transporte público... O terrível dilema das pessoas que se encontram fragilizadas fisica e animicamente por uma doença grave dá azo à seguinte opção popular: vão-se os anéis e fiquem-se os dedos. O doente tem de ir à privada se não quer morrer já.Pode ser que o ridículo nem sempre mate, mas que faz perder votos fá-lo sempre. Será que Francisco Louçã, na sua ânsia cega de tudo tornar público, se não apercebeu do mau serviço que estava a prestar a si e ao partido que representa? Quer se tenha apercebido ou não, o mal está feito e pode ter consequências, venham as justificações de onde vierem. Se vierem, claro.


Como neste blogue as opiniões são livres, trazemos a opinião do nosso colaborador Rui Baptista sobre o debate televisivo Sócrates-Louçã: “A cura está ligada ao tempo e às vezes também às circunstâncias” (Hipócrates, 460 a.C.- 337 a.C)O recente debate televisivo entre José Sócrates e Francisco Louçã (RTP1, 8/09/2009) fez-me recuar aos tempos da minha juventude. Mais precisamente aos saudosos filmes de “cowboys” em que aparecia a personagem de um pregador que, na praça pública, tentava convencer os ouvintes da bem-aventurança que aguardava as suas almas no paraíso que ele defendia com a convicção da sua “própria fé” .Neste caso, o pregador da coboiada nacional que passou nos ecrãs televisivos foi personificado por Francisco Louçã, o festejado líder do Bloco de Esquerda, quando no referido debate defendeu que as despesas com a saúde - consequentemente, as consultas médicas em consultórios privados - deixassem de contar para efeitos de desconto no IRS.Sabendo nós que os recibos passados pelos médicos aos seus clientes constituem uma parcela importante do total que é taxado a estes profissionais para pagamento de IRS, o referido desaparecimento de recibos constituiria uma perda evidente de rendimentos para a fazenda pública criando uma forma de economia paralela que vigora nas profissões que não passam recibo porque o cliente assim não o exige, porque não ganha nada com isso e porque não quer amontoar papelada para lançar no lixo.Este um aspecto da questão. Outro, e não menor, é o facto de o pregador Francisco Louçã julgar estar a viver, no "ledo e doce engano" de um mundo idílico em que o utente de uma consulta estatal não tem que se deslocar pela madrugada a um posto médico ou hospital para ser atendido ou simplesmente marcar uma consulta. Sem comentários por desnecessários, suponhamos, por hipótese, tratar-se de um doente com uma pneumonia e sem meio de transporte próprio que tem de se deslocar em transporte público... O terrível dilema das pessoas que se encontram fragilizadas fisica e animicamente por uma doença grave dá azo à seguinte opção popular: vão-se os anéis e fiquem-se os dedos. O doente tem de ir à privada se não quer morrer já.Pode ser que o ridículo nem sempre mate, mas que faz perder votos fá-lo sempre. Será que Francisco Louçã, na sua ânsia cega de tudo tornar público, se não apercebeu do mau serviço que estava a prestar a si e ao partido que representa? Quer se tenha apercebido ou não, o mal está feito e pode ter consequências, venham as justificações de onde vierem. Se vierem, claro.

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