NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI: Ainda sobre o Tratado Ortográfico

31-05-2010
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O argumento da uniformização é uma coisa, a base em que se uniformizar é outra. Sobre as vantagens da uniformização orthographica estamos, creio, todos de accordo; não estamos sobre a orthographia que haja de ser a uniforme.Tambem não o estaremos, supponho, sobre a imposição da orthographia. Que, tomada certa orthographia por official, d’ella use o Estado nas suas publicações, não é mais que inevitável e justo. Sobre o que sejam, para este effeito, «publicações do Estado» haverá um pouco mais de duvida. Os documentos officiaes, «Diarios do Governo», etc. porcerto que são publicações do Estado. Os livros de estudo primário – isto é, os por onde se apprenda a ler – usados nas escolas do Estado, tambem o serão. Que tem, porém, o Estado com os livros que se empregam nas escolas particulares? Que tem com os livros que servem, não para ensinar a ler, mas para ensinar coisas que nelles se lêem?A orthographia é um phenomeno de cultura, e portanto um phenomeno espiritual. O Estado nada tem com o espirito. O Estado não tem direito a compellir-me, em matéria extranha ao Estado, a escrever numa orthographia que repugno, como não tem direito a impôr-me uma religião que não acceito.No Brasil a chamada reforma orthographica não foi acceite, nem ainda hoje, depois de assente em accordo entre governos portuguez e brasileiro, é acceite. Quiz-se impôr uma coisa com que o Estado nada tem a um povo que a repugna. Fernando Pessoa, “Pessoa Inédito”, pag. 248Sendo que o meu tempo livre nem sempre me permite visitar o blog com a frequência e atenção que ele merece deixem-me de imediato pedir desculpa se este texto já aqui foi exposto ou discutido. Caso não o tenha sido, creio que merece um pouco de pensamento e reflexão.


O argumento da uniformização é uma coisa, a base em que se uniformizar é outra. Sobre as vantagens da uniformização orthographica estamos, creio, todos de accordo; não estamos sobre a orthographia que haja de ser a uniforme.Tambem não o estaremos, supponho, sobre a imposição da orthographia. Que, tomada certa orthographia por official, d’ella use o Estado nas suas publicações, não é mais que inevitável e justo. Sobre o que sejam, para este effeito, «publicações do Estado» haverá um pouco mais de duvida. Os documentos officiaes, «Diarios do Governo», etc. porcerto que são publicações do Estado. Os livros de estudo primário – isto é, os por onde se apprenda a ler – usados nas escolas do Estado, tambem o serão. Que tem, porém, o Estado com os livros que se empregam nas escolas particulares? Que tem com os livros que servem, não para ensinar a ler, mas para ensinar coisas que nelles se lêem?A orthographia é um phenomeno de cultura, e portanto um phenomeno espiritual. O Estado nada tem com o espirito. O Estado não tem direito a compellir-me, em matéria extranha ao Estado, a escrever numa orthographia que repugno, como não tem direito a impôr-me uma religião que não acceito.No Brasil a chamada reforma orthographica não foi acceite, nem ainda hoje, depois de assente em accordo entre governos portuguez e brasileiro, é acceite. Quiz-se impôr uma coisa com que o Estado nada tem a um povo que a repugna. Fernando Pessoa, “Pessoa Inédito”, pag. 248Sendo que o meu tempo livre nem sempre me permite visitar o blog com a frequência e atenção que ele merece deixem-me de imediato pedir desculpa se este texto já aqui foi exposto ou discutido. Caso não o tenha sido, creio que merece um pouco de pensamento e reflexão.

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