São poucos os que acreditam no cessar-fogo insuficiente e ambíguo da ETA

15-09-2010
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Governo de Zapatero não comentou oficialmente uma declaração considerada maioritariamente "decepcionante". O Governo basco disse que "o tempo das tréguas já passou"

O anúncio de cessar-fogo da ETA ontem divulgado pela BBC britânica foi recebido com incredulidade em Espanha. O Governo, a quase generalidade dos partidos políticos, organizações sindicais e analistas não acreditam no gesto, que consideram insuficiente e ambíguo. Só a esquerda radical basca e o seu aliado irlandês, Gerry Adams, que desde há meses pressionavam os etarras para a declaração de uma trégua, viram uma janela de oportunidade. E, mesmo assim, admitem que se trata de um processo por fases.

"O tempo das tréguas já passou, as possibilidades do terrorismo acabar pelo diálogo acabaram com o atentado da T4 em Barajas", disse, ontem, Rodolfo Ares, responsável do Interior do executivo basco. Ares referia-se à explosão de uma bomba com mais de 500 quilos em 30 de Dezembro de 2006 no parque de estacionamento do aeroporto de Barajas. O balanço deste atentado foi a morte de dois emigrantes sul-americanos que, adormecidos no interior dos seus carros, esperavam a chegada de familiares para a passagem de ano. Foi assim que, sem aviso prévio, os etarras acabaram com a esperança da então sétima trégua. Um cessar-fogo que não passou de sete meses.

"Exigimos que a ETA deixe definitivamente a actividade terrorista e até então continuaremos combatendo-a, detendo terroristas e desmantelando infra-estruturas", continuou Rodolfo Ares. O político basco concluiu assegurando que os etarras enganaram-se se, com o anúncio de ontem, tentavam que o Batasuna fosse autorizada a participar nas eleições forais e municipais bascas de Maio de 2011. "O comunicado é totalmente insuficiente", sublinhou. Posição idêntica foi a de todos os partidos, incluindo os nacionalistas do Partido Nacionalista Basco (PNV).

As omissões do comunicado

No texto, enviado num vídeo para a BBC, "a ETA faz saber que já há alguns meses tomou a decisão de não levar a cabo acções armadas ofensivas". Nos restantes 15 parágrafos consta a habitual história da luta e um discurso político programático. Ao contrário do anunciado 48 horas antes pela Euska Alkartauna [EA, Solidariedade Basca, em euskerra] que decidiu congregar antigos dirigentes do Batasuna, o antigo braço político dos etarras, o texto da organização é omisso em pontos decisivos: não define a duração do cessar-fogo, condições de verificação, nem refere a entrega das armas ou o papel de mediadores internacionais. Tudo pontos que a Euska Alkartasuna (EA) referia estarem em negociação com a direcção da ETA.

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O comunicado teve o efeito de balde de água fria para a esquerda radical basca, que se viu obrigada a sair a terreiro para esclarecer que o cessar-fogo era "unilateral e indefinido" e "um contributo inquestionável para a paz". Foi numa declaração lida ao meio da tarde num hotel de San Sebastián, sem direito a perguntas, que Tasio Erkizia, entre outros antigos líderes do Batasuna, interpretou a missiva. No mesmo sentido se pronunciou a EA, que introduziu outra nuance. "É um primeiro passo que nos levará a uma situação de tréguas indefinidas e que definirá um cenário de paz", revelou o secretário-geral Pello Urizar. Também Gerry Adams, antigo líder político do Sinn Féin, manifestou em Dublin o seu contentamento e instou o Governo espanhol "a aproveitar esta oportunidade para abrir negociações políticas conclusivas". Em declarações à televisão pública irlandesa, Adams confirmou estar ao corrente do debate interno da ETA para conseguir a independência por vias democráticas.

No entanto, não é esse o sentido do comunicado de ontem. Fontes do Governo espanhol admitem que a divulgação, ontem, do comunicado foi uma precipitação dos etarras, quando o timing anunciado pelos antigos dirigentes do Batasuna, entre os quais Arnaldo Otegi, era 27 de Setembro, comemoração do "Gudari Eguna" [Dia do soldado basco]. Com esta antecipação, a ETA quis demonstrar autonomia face ao Batasuna. Aliás, os líderes da esquerda radical só foram informados da eminente declaração na noite de sábado. A divulgação do comunicado num órgão de comunicação estrangeiro, a BBC, insere-se no objectivo de internacionalizar a questão basca, sempre presente nas últimas três décadas, e de garantir mais impacto mediático.

Por todos estes motivos, o executivo espanhol não fez qualquer declaração oficial. Nem o ministro do Interior nem qualquer outro membro do gabinete se encontrou ou falou com a imprensa. Uma forma propositada de desvalorizar a importância do comunicado e de não entrar em polémica com a esquerda radical basca ou a EA. Ontem, a única declaração de uma entidade oficial foi a do responsável do Interior do Governo basco. Mesmo o PNV protelou uma análise mais detalhada. "Não há qualquer urgência de maior profundidade", revelou o partido num curto comunicado.

Governo de Zapatero não comentou oficialmente uma declaração considerada maioritariamente "decepcionante". O Governo basco disse que "o tempo das tréguas já passou"

O anúncio de cessar-fogo da ETA ontem divulgado pela BBC britânica foi recebido com incredulidade em Espanha. O Governo, a quase generalidade dos partidos políticos, organizações sindicais e analistas não acreditam no gesto, que consideram insuficiente e ambíguo. Só a esquerda radical basca e o seu aliado irlandês, Gerry Adams, que desde há meses pressionavam os etarras para a declaração de uma trégua, viram uma janela de oportunidade. E, mesmo assim, admitem que se trata de um processo por fases.

"O tempo das tréguas já passou, as possibilidades do terrorismo acabar pelo diálogo acabaram com o atentado da T4 em Barajas", disse, ontem, Rodolfo Ares, responsável do Interior do executivo basco. Ares referia-se à explosão de uma bomba com mais de 500 quilos em 30 de Dezembro de 2006 no parque de estacionamento do aeroporto de Barajas. O balanço deste atentado foi a morte de dois emigrantes sul-americanos que, adormecidos no interior dos seus carros, esperavam a chegada de familiares para a passagem de ano. Foi assim que, sem aviso prévio, os etarras acabaram com a esperança da então sétima trégua. Um cessar-fogo que não passou de sete meses.

"Exigimos que a ETA deixe definitivamente a actividade terrorista e até então continuaremos combatendo-a, detendo terroristas e desmantelando infra-estruturas", continuou Rodolfo Ares. O político basco concluiu assegurando que os etarras enganaram-se se, com o anúncio de ontem, tentavam que o Batasuna fosse autorizada a participar nas eleições forais e municipais bascas de Maio de 2011. "O comunicado é totalmente insuficiente", sublinhou. Posição idêntica foi a de todos os partidos, incluindo os nacionalistas do Partido Nacionalista Basco (PNV).

As omissões do comunicado

No texto, enviado num vídeo para a BBC, "a ETA faz saber que já há alguns meses tomou a decisão de não levar a cabo acções armadas ofensivas". Nos restantes 15 parágrafos consta a habitual história da luta e um discurso político programático. Ao contrário do anunciado 48 horas antes pela Euska Alkartauna [EA, Solidariedade Basca, em euskerra] que decidiu congregar antigos dirigentes do Batasuna, o antigo braço político dos etarras, o texto da organização é omisso em pontos decisivos: não define a duração do cessar-fogo, condições de verificação, nem refere a entrega das armas ou o papel de mediadores internacionais. Tudo pontos que a Euska Alkartasuna (EA) referia estarem em negociação com a direcção da ETA.

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O comunicado teve o efeito de balde de água fria para a esquerda radical basca, que se viu obrigada a sair a terreiro para esclarecer que o cessar-fogo era "unilateral e indefinido" e "um contributo inquestionável para a paz". Foi numa declaração lida ao meio da tarde num hotel de San Sebastián, sem direito a perguntas, que Tasio Erkizia, entre outros antigos líderes do Batasuna, interpretou a missiva. No mesmo sentido se pronunciou a EA, que introduziu outra nuance. "É um primeiro passo que nos levará a uma situação de tréguas indefinidas e que definirá um cenário de paz", revelou o secretário-geral Pello Urizar. Também Gerry Adams, antigo líder político do Sinn Féin, manifestou em Dublin o seu contentamento e instou o Governo espanhol "a aproveitar esta oportunidade para abrir negociações políticas conclusivas". Em declarações à televisão pública irlandesa, Adams confirmou estar ao corrente do debate interno da ETA para conseguir a independência por vias democráticas.

No entanto, não é esse o sentido do comunicado de ontem. Fontes do Governo espanhol admitem que a divulgação, ontem, do comunicado foi uma precipitação dos etarras, quando o timing anunciado pelos antigos dirigentes do Batasuna, entre os quais Arnaldo Otegi, era 27 de Setembro, comemoração do "Gudari Eguna" [Dia do soldado basco]. Com esta antecipação, a ETA quis demonstrar autonomia face ao Batasuna. Aliás, os líderes da esquerda radical só foram informados da eminente declaração na noite de sábado. A divulgação do comunicado num órgão de comunicação estrangeiro, a BBC, insere-se no objectivo de internacionalizar a questão basca, sempre presente nas últimas três décadas, e de garantir mais impacto mediático.

Por todos estes motivos, o executivo espanhol não fez qualquer declaração oficial. Nem o ministro do Interior nem qualquer outro membro do gabinete se encontrou ou falou com a imprensa. Uma forma propositada de desvalorizar a importância do comunicado e de não entrar em polémica com a esquerda radical basca ou a EA. Ontem, a única declaração de uma entidade oficial foi a do responsável do Interior do Governo basco. Mesmo o PNV protelou uma análise mais detalhada. "Não há qualquer urgência de maior profundidade", revelou o partido num curto comunicado.

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