Tela Abstracta: Meia noite de todos os dias

19-12-2009
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O Sílvio publicou um brilhante texto de João Monge no seu meia noite de todos os dias. Foi a 16 de Março. Eu fui aos comentários escrever um Belíssimo!. A opinião mantém-se. Aliás, reforça-se, diariamente. Por isso, amigo Sílvio, perdoa-me a falta de originalidade, mas vou transcrevê-lo.Moro numa casa inacabadafeita de terra molhadacom o céu às cavalitasEntra, mas desculpa a confusão;anda tudo pelo chão,não contava com visitasComigo mora gente tão diferenteque às vezes, pontualmente,só falamos por sinais;Cada um tem na sua bagagemum bilhete de passagempelos pontos cardeaisNa sala, uma velha cartomantelê ao cavaleiro erranteum destino vencedor;As cartas falam de perdas e danosPara, no correr dos panos,encontrar o seu amorAo fundo, dorme um soldado sisudocom umas botas de faz-tudoe uma paixão de aluguer;O bêbado que está no quarto ao ladochora sempre em tom de fadoo amor de uma mulherAquela que tem o corpo na esquinadiz que também foi meninaHá-de um dia ser felizO homem que a usou pelos quintais,como é norma entre iguais,compreende o que ela dizEm cima fica o quarto dos amantes,dos poetas, viajantese dos loucos sem lugar;Pintaram um baloiço na janelacom a luz de uma aguarelapara a Lua baloiçarAssim somos vizinhos de outras crenças,de outros livros e sentençasOutras formas de oração;Mas quando a noite traz os seus momentosescapa destes aposentosum bater de coraçãoRevela-se a verdade nua e crua:Chove mais do que na ruaTrago o fato ensopadoAqui qualquer um é vagabundo,esta casa é todo o mundoFalta só pôr um telhadoJoão Monge________PS - Tal como referi ontem, continuo embrenhado a ler a Obra Poética completa de Sophia de Mello Breyner Andresen. Mais rapidamente do que desejava, por ser quase impossível parar. Assim que terminar, prometo voltar, em força. Com muita Sophia, claro.


O Sílvio publicou um brilhante texto de João Monge no seu meia noite de todos os dias. Foi a 16 de Março. Eu fui aos comentários escrever um Belíssimo!. A opinião mantém-se. Aliás, reforça-se, diariamente. Por isso, amigo Sílvio, perdoa-me a falta de originalidade, mas vou transcrevê-lo.Moro numa casa inacabadafeita de terra molhadacom o céu às cavalitasEntra, mas desculpa a confusão;anda tudo pelo chão,não contava com visitasComigo mora gente tão diferenteque às vezes, pontualmente,só falamos por sinais;Cada um tem na sua bagagemum bilhete de passagempelos pontos cardeaisNa sala, uma velha cartomantelê ao cavaleiro erranteum destino vencedor;As cartas falam de perdas e danosPara, no correr dos panos,encontrar o seu amorAo fundo, dorme um soldado sisudocom umas botas de faz-tudoe uma paixão de aluguer;O bêbado que está no quarto ao ladochora sempre em tom de fadoo amor de uma mulherAquela que tem o corpo na esquinadiz que também foi meninaHá-de um dia ser felizO homem que a usou pelos quintais,como é norma entre iguais,compreende o que ela dizEm cima fica o quarto dos amantes,dos poetas, viajantese dos loucos sem lugar;Pintaram um baloiço na janelacom a luz de uma aguarelapara a Lua baloiçarAssim somos vizinhos de outras crenças,de outros livros e sentençasOutras formas de oração;Mas quando a noite traz os seus momentosescapa destes aposentosum bater de coraçãoRevela-se a verdade nua e crua:Chove mais do que na ruaTrago o fato ensopadoAqui qualquer um é vagabundo,esta casa é todo o mundoFalta só pôr um telhadoJoão Monge________PS - Tal como referi ontem, continuo embrenhado a ler a Obra Poética completa de Sophia de Mello Breyner Andresen. Mais rapidamente do que desejava, por ser quase impossível parar. Assim que terminar, prometo voltar, em força. Com muita Sophia, claro.

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