SARDOAL Partido Socialista: O PS

19-12-2009
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Exmo. SenhorDirector do Jornal “ Primeira Linha”Rolando Silvaprimeiralinha@sapo.ptNo passado dia 14 de Junho, o periódico que V. Exa. Superiormente dirige publicou um artigo, na secção “ Actualidade”, dando conta do Programa, co-patrocinado pela Câmara Municipal do Sardoal (CMS), relativo à comemoração do centenário da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal.Confesso, desde já, aos leitores deste jornal, que recebi um convite, emanado da CMS, para me juntar aos “ festejos comemorativos do 1º Centenário da Visita Régia de Sua Majestade El-Rei D. Carlos I ao Sardoal”.Não sei bem em que qualidade me deveria juntar: - Se pelo nascimento no Sardoal? Se por ter sido eleito, nesta II República, Deputado municipal no Sardoal? Ou se por ser Presidente do PS/ Sardoal. Uma coisa é para mim clara. Tal acto tem significado político e politicamente merece que eu publicamente o decline e passo a explicar porquê.Em primeiro lugar gostaria de informar os leitores que sou Republicano, mas a defesa de tais princípios e convicções, nunca me impediram nem impedirão de participar em comemorações de marcos históricos ou culturais ocorridos em qualquer que seja o período da nossa história, da Monarquia à República passando pela Ditadura que dignifiquem Portugal e os Portugueses.Todos nós aprendemos nos bancos das escolas ou no dia a dia da vida, que Grandes Portugueses como Afonso Costa, Bernardino Machado, Brito Camacho, Magalhães Lima, José do Vale, França Borges, Artur Leitão, Meira e Sousa ou Guerra Junqueiro foram contemporâneos do Rei D. Carlos I.Todos eles foram opositores ao Regime ditatorial de João Franco, Presidente do Ministério, nomeado em Maio de 1906 para chefiar o seu Governo.Para melhor compreender o que a CMS está a comemorar importa conhecer o que se passou no ano de 1907, de Janeiro a 22 de Junho - data da visita ao Sardoal do Rei D. Carlos I- no Reino de Portugal.Permito-me, por isso, trazer à nossa memória histórica alguns factos ocorridos neste período negro da nossa História, designadamente para a imprensa da época.O ano de 1907 foi um ano marcado pela Ditadura, designadamente com a promulgação de várias leis de Imprensa a última das quais ficou conhecida com lei “ contra a Imprensa”, pelo encerramento do Parlamento e por uma Greve académica iniciada em Coimbra e que rapidamente a alastrou a outras escolas do País.O analfabetismo vigorava em 70% da população com mais de sete anos.Em Fevereiro de 1907 existiam em Portugal 2.406.245 mulheres analfabetas segundo escreveu Virgínia Quaresma no Jornal da Mulher de 9 de Fevereiro desse ano.Em Maio de 1907 o Governo de João Franco determinou o encerramento da Universidade e o regresso dos estudantes às localidades de origem em consequência dos protestos pela reprovação nas provas de concurso para a obtenção do grau de Doutor em Direito a José Dias Ferreira.Em Abril de 1907, Guerra Junqueiro, foi condenado a 50 dias de prisão, por ter injuriado o REI no Jornal “ A Voz Pública”.Permitam-me citar parte da sua defesa perante o Tribunal “….Eu não aludo à vida íntima do Sr. D. Carlos. Aludo, é o meu direito e o meu dever, à sua vida de monarca. Ora a história de Portugal, a todos manifesta, em quatro palavras se desenha: Incúrias e desmandos, arbítrios e bocejos. È a verdade clara, verdade autêntica, verdadeira sinistra. Uns proclamam-na, outros murmuram-na. E quem a esconde, ou por dolo, ou por constrangimento, ou por temor, no fundo da alma reconhece-a, …..”.Neste mesmo mês de Abril de 1907, o Ditador João Franco faz aprovar nova lei de Imprensa.Em Maio de 1907 o Parlamento é encerrado, ocorrem um conjunto de greves, no sector fabril no Porto, Setubal e Covilhã, o jornal “ o País” é julgado na Boa – Hora, em Lisboa e é absolvido. Neste mesmo mês começam a funcionar os chamados “ Gabinetes Negros “ contra a Imprensa.Finalmente em Junho de 1907, mês da visita do Rei D. Carlos ao Sardoal, no Dia 1, Brito Camacho de “ A Lucta ” é julgado; No dia 3 dá-se início ao Julgamento de Magalhães Lima e José do Vale, do Jornal Vanguarda; No dia 5 começa o julgamento do jornal “ O País”; No dia 6 é publicado o Decreto que dissolve a Câmara Municipal de Lisboa; No dia 9 realiza-se um grande Comício Republicano no Porto; No dia 11 inicia-se o 3º julgamento de França Borges e Artur Leitão do Jornal “ O Mundo”; No dia 15 Meira e Sousa responde em tribunal por artigos publicados na Imprensa; No dia 16 realiza-se um comício republicano em Portalegre.No dia 18 de Junho de 1907 a quatro dias da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal, ocorrem graves tumultos em Lisboa, na chegada de João Franco, com 3 mortos e várias prisões.No dia 20 é publicada nova Lei de Imprensa que vem agravar a já insultuosa lei de Imprensa de 11 de Abril, proibindo os escritos, desenhos ou impressos atentatórios da ordem pública.Finalmente no dia da chegada ao Sardoal do Rei D. Carlos, a 22de Junho de 1907 o Jornal “ Primeiro de Janeiro” é absolvido em Tribunal.É neste quadro político de ditadura, perseguição e prisão de todos a aqueles que se opõem ao regime de João Franco que o Rei D. Carlos se desloca ao Sardoal.Estávamos perto do fim da ditadura, faltavam 3 anos e 4 meses para a queda do Regime Monárquico, para a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.Tantas efemérides notáveis do nosso passado haverá para comemorar no Sardoal, mas não se deve nem se pode deixar de atender às circunstâncias históricas concretas e reais quando se patrocina, sem ponderação madura, manifestações deste tipo.Um município quando decide não comemorar o 25 de Abril, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar uma opção política.Um município quando decide comemorar o centésimo aniversário da vinda do Rei D. Carlos ao Sardoal, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar também uma opção política.Os Sardoalenses não deixarão de se pronunciar sobre estas opções do município do Sardoal e do seu Presidente no próximo acto eleitoral.Sardoal, 22 de Junho de 2007Fernando Vasco(Presidente do PS/ Sardoal)Bibliografia utilizada: 1907, No Advento da República,BN,ISBN978-972-656-416-3


Exmo. SenhorDirector do Jornal “ Primeira Linha”Rolando Silvaprimeiralinha@sapo.ptNo passado dia 14 de Junho, o periódico que V. Exa. Superiormente dirige publicou um artigo, na secção “ Actualidade”, dando conta do Programa, co-patrocinado pela Câmara Municipal do Sardoal (CMS), relativo à comemoração do centenário da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal.Confesso, desde já, aos leitores deste jornal, que recebi um convite, emanado da CMS, para me juntar aos “ festejos comemorativos do 1º Centenário da Visita Régia de Sua Majestade El-Rei D. Carlos I ao Sardoal”.Não sei bem em que qualidade me deveria juntar: - Se pelo nascimento no Sardoal? Se por ter sido eleito, nesta II República, Deputado municipal no Sardoal? Ou se por ser Presidente do PS/ Sardoal. Uma coisa é para mim clara. Tal acto tem significado político e politicamente merece que eu publicamente o decline e passo a explicar porquê.Em primeiro lugar gostaria de informar os leitores que sou Republicano, mas a defesa de tais princípios e convicções, nunca me impediram nem impedirão de participar em comemorações de marcos históricos ou culturais ocorridos em qualquer que seja o período da nossa história, da Monarquia à República passando pela Ditadura que dignifiquem Portugal e os Portugueses.Todos nós aprendemos nos bancos das escolas ou no dia a dia da vida, que Grandes Portugueses como Afonso Costa, Bernardino Machado, Brito Camacho, Magalhães Lima, José do Vale, França Borges, Artur Leitão, Meira e Sousa ou Guerra Junqueiro foram contemporâneos do Rei D. Carlos I.Todos eles foram opositores ao Regime ditatorial de João Franco, Presidente do Ministério, nomeado em Maio de 1906 para chefiar o seu Governo.Para melhor compreender o que a CMS está a comemorar importa conhecer o que se passou no ano de 1907, de Janeiro a 22 de Junho - data da visita ao Sardoal do Rei D. Carlos I- no Reino de Portugal.Permito-me, por isso, trazer à nossa memória histórica alguns factos ocorridos neste período negro da nossa História, designadamente para a imprensa da época.O ano de 1907 foi um ano marcado pela Ditadura, designadamente com a promulgação de várias leis de Imprensa a última das quais ficou conhecida com lei “ contra a Imprensa”, pelo encerramento do Parlamento e por uma Greve académica iniciada em Coimbra e que rapidamente a alastrou a outras escolas do País.O analfabetismo vigorava em 70% da população com mais de sete anos.Em Fevereiro de 1907 existiam em Portugal 2.406.245 mulheres analfabetas segundo escreveu Virgínia Quaresma no Jornal da Mulher de 9 de Fevereiro desse ano.Em Maio de 1907 o Governo de João Franco determinou o encerramento da Universidade e o regresso dos estudantes às localidades de origem em consequência dos protestos pela reprovação nas provas de concurso para a obtenção do grau de Doutor em Direito a José Dias Ferreira.Em Abril de 1907, Guerra Junqueiro, foi condenado a 50 dias de prisão, por ter injuriado o REI no Jornal “ A Voz Pública”.Permitam-me citar parte da sua defesa perante o Tribunal “….Eu não aludo à vida íntima do Sr. D. Carlos. Aludo, é o meu direito e o meu dever, à sua vida de monarca. Ora a história de Portugal, a todos manifesta, em quatro palavras se desenha: Incúrias e desmandos, arbítrios e bocejos. È a verdade clara, verdade autêntica, verdadeira sinistra. Uns proclamam-na, outros murmuram-na. E quem a esconde, ou por dolo, ou por constrangimento, ou por temor, no fundo da alma reconhece-a, …..”.Neste mesmo mês de Abril de 1907, o Ditador João Franco faz aprovar nova lei de Imprensa.Em Maio de 1907 o Parlamento é encerrado, ocorrem um conjunto de greves, no sector fabril no Porto, Setubal e Covilhã, o jornal “ o País” é julgado na Boa – Hora, em Lisboa e é absolvido. Neste mesmo mês começam a funcionar os chamados “ Gabinetes Negros “ contra a Imprensa.Finalmente em Junho de 1907, mês da visita do Rei D. Carlos ao Sardoal, no Dia 1, Brito Camacho de “ A Lucta ” é julgado; No dia 3 dá-se início ao Julgamento de Magalhães Lima e José do Vale, do Jornal Vanguarda; No dia 5 começa o julgamento do jornal “ O País”; No dia 6 é publicado o Decreto que dissolve a Câmara Municipal de Lisboa; No dia 9 realiza-se um grande Comício Republicano no Porto; No dia 11 inicia-se o 3º julgamento de França Borges e Artur Leitão do Jornal “ O Mundo”; No dia 15 Meira e Sousa responde em tribunal por artigos publicados na Imprensa; No dia 16 realiza-se um comício republicano em Portalegre.No dia 18 de Junho de 1907 a quatro dias da visita do Rei D. Carlos I ao Sardoal, ocorrem graves tumultos em Lisboa, na chegada de João Franco, com 3 mortos e várias prisões.No dia 20 é publicada nova Lei de Imprensa que vem agravar a já insultuosa lei de Imprensa de 11 de Abril, proibindo os escritos, desenhos ou impressos atentatórios da ordem pública.Finalmente no dia da chegada ao Sardoal do Rei D. Carlos, a 22de Junho de 1907 o Jornal “ Primeiro de Janeiro” é absolvido em Tribunal.É neste quadro político de ditadura, perseguição e prisão de todos a aqueles que se opõem ao regime de João Franco que o Rei D. Carlos se desloca ao Sardoal.Estávamos perto do fim da ditadura, faltavam 3 anos e 4 meses para a queda do Regime Monárquico, para a implantação da República em 5 de Outubro de 1910.Tantas efemérides notáveis do nosso passado haverá para comemorar no Sardoal, mas não se deve nem se pode deixar de atender às circunstâncias históricas concretas e reais quando se patrocina, sem ponderação madura, manifestações deste tipo.Um município quando decide não comemorar o 25 de Abril, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar uma opção política.Um município quando decide comemorar o centésimo aniversário da vinda do Rei D. Carlos ao Sardoal, como aconteceu com o município do Sardoal no presente ano, está a tomar também uma opção política.Os Sardoalenses não deixarão de se pronunciar sobre estas opções do município do Sardoal e do seu Presidente no próximo acto eleitoral.Sardoal, 22 de Junho de 2007Fernando Vasco(Presidente do PS/ Sardoal)Bibliografia utilizada: 1907, No Advento da República,BN,ISBN978-972-656-416-3

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