Loja de Ideias: Política & Memória

18-12-2009
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Como sabem estou envolvido na candidatura do Miguel Coelho à Presidência da Comissão Política do PS Lisboa. É um projecto político estimulante, ainda em construção, mas que se assume participativo, criterioso e transparente. È um projecto que procura, com base na experiência, cuidar do processo natural de renovação política do Partido Socialista na cidade de Lisboa.Já referi, em textos anteriores (Hibernação, Renovação, Eleição - parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6; segunda série, resposta directa), que entendo que a política tem de ter critérios e métodos; e que não pode ser apenas publicidade e marketing. Deve também a política, a política de qualidade, ter memória, e não «escolher» o que se lembra e o que esquece.Este tipo de tácticas, claramente «populistas», entroncam numa fórmula sectária e totalitária que já pouco se revê nos sistemas políticos contemporâneos. O passado fornecer-nos diversos exemplos onde o tratamento cuidado da informação condicionava a memória colectiva a construir. Esta manipulação, muito visível em vários regimes autoritários e totalitários, procurava garantir que a História obedecesse a uma Verdade ou a um Dogma próprio, definido pelo Regime.Em Portugal o Estado Novo construiu e apresentou a sua visão da História, uma visão que se encontrava ao serviço do próprio regime. Esta visão, que eliminou da memória todo o período liberal, por exemplo; servia claros propósitos políticos e assentava numa estratégia simples: a diabolização do Outro, do adversário político (neste caso a I República); e, complementarmente, a apresentação incólume de um projecto regenerador, que assim aparecia como «salvador da História», como o portador da solução final.Isto a propósito da postura que a candidatura do Miguel Teixeira tem assumido, nesta pré-campanha.Neste blogue já procurei fomentar um alargado debate com o Carlos Castro - adversário político nesta contenda – que, como podem recordar, terminou por falta de argumentos do meu adversário, preocupado que estava em ataques daqui e dali, esquivando-se a todo e qualquer confronto de ideias ou critérios (Hibernação, Renovação, Eleição - parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6; segunda série, resposta directa).Disse, na altura, que não fomento a «baixa política» do ataque fácil, da falta de critério e da desonestidade política; mas também assumo que essa estratégia, por parte da candidatura do Miguel Teixeira, é legítima, e penso que assumida (a baixa política, enfim, também acaba por ser política. É a política de quem não tem argumentos, de quem não quer discutir, debater ou construir; mas também é política).Também já aqui referi a tendência para a construção da memória que essa candidatura ostenta (aqui e aqui), procurando apresentarem-se como os únicos salvadores da situação horrível que, na sua visão deturpada, existe. Para esta artificialidade surtir o efeito desejado, há que apagar da memória tudo quanto possa colocar em causa a versão oficial entretanto produzida.Tudo isto em relação a este texto publicado pelo Carlos Castro; onde são bem nítidos os conceitos que tenho referido.Descontando a publicidade barata, o Carlos procura, a reboque de uma acção de campanha, confrontar «o estado letárgico em que se encontra a Concelhia de Lisboa», com a solução Miguel Teixeira. Refere ainda «A falta de valorização da militância, a importância de contar com espaços políticos que sejam, de facto, consequentes e valorativos da participação e intervenção de cada um, são as mais elementares e legítimas pretensões de muitos militantes, que querem ter o seu PS, em Lisboa, activo e dinâmico». E remata com a apresentação da acção especifica «num espaço público, em Campo de Ourique, o Canas, centrando-se no papel decisivo das Freguesias na transformação e mudança da Cidade em áreas chave, como a Educação, o Ambiente e a Solidariedade».O que o Carlos Castro se esquece de referir é que a Concelhia de Lisboa já organizou diversos debates, conferencias, colóquios, Universidades de Verão, o Forum Cidade, que trataram de temas centrais na vida da Cidade de Lisboa, e do PS Lisboa. Iniciativas com largas centenas de oradores e assistentes; militantes e simpatizantes; membros do Governo e autarcas; militantes de base e quadros do Partidos Socialista. Não os lembrar é não só um insulto às pessoas que se interessaram em participar e organizar tais eventos, como uma desonra à sua memória.Decerto não se lembra, o Carlos Castro, que se organizou recentemente uma Convenção Autárquica, em Marvila, onde estiveram presentes a vereação socialista e o presidente da CML, bem como outros autarcas e a Juventude Socialista.Terá sido, decerto, esquecimento, ou então deve considerar sessões dessa natureza de importância menor.Na questão da militância, e da participação do militante do PS Lisboa em iniciativas da sua Concelhia, decerto terá o Carlos escolhido esquecer a iniciativa da Universidade de Verão, que contou com dezenas de convidados (da melhor qualidade que o PS, e a área da esquerda democrática, tem a oferecer) e centenas de participantes inscritos.Só posso pensar que Carlos Castro julga que iniciativas deste género são de somenos importância. Também terá decidido esquecer, decerto com as melhores das intenções, o projecto do Fórum Cidade. Esta iniciativa apresentou um programa completo para a Cidade a Manuel Maria Carrilho, que não o aproveito e que perdeu as eleições. Novo projecto do Fórum Cidade encontrava-se em funcionamento quando foi necessário construir equipas e programas para a recente eleição intercalar. Desta vez, por falta de tempo, contributo foi sectorial. António Costa soube aproveitar as boas ideias produzidas e introduzi-las no seu programa. Ganhou as eleições e está a aplicar algumas dessas medidas.Relembro que o Fórum Cidade patrocinou centenas de reuniões e encontros, com largas centenas de militantes e interessados. Produziu material político. Mais, o projecto teve tanto interesse que se procurou, na oposição à Concelhia de Lisboa, construir uma dinâmica alternativa.Imagino que para o Carlos Castro também este não seja um exemplo de participação de militantes em processos dinâmicos de construção de projectos políticos participados, articulados e significativos. Mas é esta a «forma moderna» de fazer política: esquecer o que «os outros» fizeram, pois eles são os portadores da desgraça, da inércia, da decadência. Claro que toda a análise é facilitada pela não presença neste eventos; como tem sido o caso das últimas comissões políticas que foram promovidas à volta da equipa do PS eleita para a CML: António Costa, Manuel Salgado, Marcos Perestrello, Rosália Vargas e Cardoso da Silva (ainda por marcar, por falta de agenda, encontra-se a Ana Sara Brito).Também sou levado a crer que para o Carlos Castro tais iniciativas decerto serão de somenos importância, menores. Não, para o Carlos Castro importante é reunir, no «espaço público do Restaurante Canas» (e eu que sempre pensei que esse restaurante fosse propriedade privada???), elementos da responsabilidade autárquica do Pedro Cegonho e da Isabel Almeida (julgo que os únicos titulares de cargos autárquicos) e afirmar, sem pejo, que «Isto é que é!».Não, o que interessa é o que a Nova História tem para oferecer: a novidade, apenas a novidade. Sempre dentro da metodologia que já indiquei; e que consubstancia na reescrita da história sem qualquer respeito pelo que NA REALIDADE aconteceu. A isto chama-se, em linguagem académica, História-ficção.Em linguagem política, populismo fácil e barato.Em linguagem comum, publicidade enganosa. E este não pode ser caminho que se deseje para o PS em Lisboa.


Como sabem estou envolvido na candidatura do Miguel Coelho à Presidência da Comissão Política do PS Lisboa. É um projecto político estimulante, ainda em construção, mas que se assume participativo, criterioso e transparente. È um projecto que procura, com base na experiência, cuidar do processo natural de renovação política do Partido Socialista na cidade de Lisboa.Já referi, em textos anteriores (Hibernação, Renovação, Eleição - parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6; segunda série, resposta directa), que entendo que a política tem de ter critérios e métodos; e que não pode ser apenas publicidade e marketing. Deve também a política, a política de qualidade, ter memória, e não «escolher» o que se lembra e o que esquece.Este tipo de tácticas, claramente «populistas», entroncam numa fórmula sectária e totalitária que já pouco se revê nos sistemas políticos contemporâneos. O passado fornecer-nos diversos exemplos onde o tratamento cuidado da informação condicionava a memória colectiva a construir. Esta manipulação, muito visível em vários regimes autoritários e totalitários, procurava garantir que a História obedecesse a uma Verdade ou a um Dogma próprio, definido pelo Regime.Em Portugal o Estado Novo construiu e apresentou a sua visão da História, uma visão que se encontrava ao serviço do próprio regime. Esta visão, que eliminou da memória todo o período liberal, por exemplo; servia claros propósitos políticos e assentava numa estratégia simples: a diabolização do Outro, do adversário político (neste caso a I República); e, complementarmente, a apresentação incólume de um projecto regenerador, que assim aparecia como «salvador da História», como o portador da solução final.Isto a propósito da postura que a candidatura do Miguel Teixeira tem assumido, nesta pré-campanha.Neste blogue já procurei fomentar um alargado debate com o Carlos Castro - adversário político nesta contenda – que, como podem recordar, terminou por falta de argumentos do meu adversário, preocupado que estava em ataques daqui e dali, esquivando-se a todo e qualquer confronto de ideias ou critérios (Hibernação, Renovação, Eleição - parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6; segunda série, resposta directa).Disse, na altura, que não fomento a «baixa política» do ataque fácil, da falta de critério e da desonestidade política; mas também assumo que essa estratégia, por parte da candidatura do Miguel Teixeira, é legítima, e penso que assumida (a baixa política, enfim, também acaba por ser política. É a política de quem não tem argumentos, de quem não quer discutir, debater ou construir; mas também é política).Também já aqui referi a tendência para a construção da memória que essa candidatura ostenta (aqui e aqui), procurando apresentarem-se como os únicos salvadores da situação horrível que, na sua visão deturpada, existe. Para esta artificialidade surtir o efeito desejado, há que apagar da memória tudo quanto possa colocar em causa a versão oficial entretanto produzida.Tudo isto em relação a este texto publicado pelo Carlos Castro; onde são bem nítidos os conceitos que tenho referido.Descontando a publicidade barata, o Carlos procura, a reboque de uma acção de campanha, confrontar «o estado letárgico em que se encontra a Concelhia de Lisboa», com a solução Miguel Teixeira. Refere ainda «A falta de valorização da militância, a importância de contar com espaços políticos que sejam, de facto, consequentes e valorativos da participação e intervenção de cada um, são as mais elementares e legítimas pretensões de muitos militantes, que querem ter o seu PS, em Lisboa, activo e dinâmico». E remata com a apresentação da acção especifica «num espaço público, em Campo de Ourique, o Canas, centrando-se no papel decisivo das Freguesias na transformação e mudança da Cidade em áreas chave, como a Educação, o Ambiente e a Solidariedade».O que o Carlos Castro se esquece de referir é que a Concelhia de Lisboa já organizou diversos debates, conferencias, colóquios, Universidades de Verão, o Forum Cidade, que trataram de temas centrais na vida da Cidade de Lisboa, e do PS Lisboa. Iniciativas com largas centenas de oradores e assistentes; militantes e simpatizantes; membros do Governo e autarcas; militantes de base e quadros do Partidos Socialista. Não os lembrar é não só um insulto às pessoas que se interessaram em participar e organizar tais eventos, como uma desonra à sua memória.Decerto não se lembra, o Carlos Castro, que se organizou recentemente uma Convenção Autárquica, em Marvila, onde estiveram presentes a vereação socialista e o presidente da CML, bem como outros autarcas e a Juventude Socialista.Terá sido, decerto, esquecimento, ou então deve considerar sessões dessa natureza de importância menor.Na questão da militância, e da participação do militante do PS Lisboa em iniciativas da sua Concelhia, decerto terá o Carlos escolhido esquecer a iniciativa da Universidade de Verão, que contou com dezenas de convidados (da melhor qualidade que o PS, e a área da esquerda democrática, tem a oferecer) e centenas de participantes inscritos.Só posso pensar que Carlos Castro julga que iniciativas deste género são de somenos importância. Também terá decidido esquecer, decerto com as melhores das intenções, o projecto do Fórum Cidade. Esta iniciativa apresentou um programa completo para a Cidade a Manuel Maria Carrilho, que não o aproveito e que perdeu as eleições. Novo projecto do Fórum Cidade encontrava-se em funcionamento quando foi necessário construir equipas e programas para a recente eleição intercalar. Desta vez, por falta de tempo, contributo foi sectorial. António Costa soube aproveitar as boas ideias produzidas e introduzi-las no seu programa. Ganhou as eleições e está a aplicar algumas dessas medidas.Relembro que o Fórum Cidade patrocinou centenas de reuniões e encontros, com largas centenas de militantes e interessados. Produziu material político. Mais, o projecto teve tanto interesse que se procurou, na oposição à Concelhia de Lisboa, construir uma dinâmica alternativa.Imagino que para o Carlos Castro também este não seja um exemplo de participação de militantes em processos dinâmicos de construção de projectos políticos participados, articulados e significativos. Mas é esta a «forma moderna» de fazer política: esquecer o que «os outros» fizeram, pois eles são os portadores da desgraça, da inércia, da decadência. Claro que toda a análise é facilitada pela não presença neste eventos; como tem sido o caso das últimas comissões políticas que foram promovidas à volta da equipa do PS eleita para a CML: António Costa, Manuel Salgado, Marcos Perestrello, Rosália Vargas e Cardoso da Silva (ainda por marcar, por falta de agenda, encontra-se a Ana Sara Brito).Também sou levado a crer que para o Carlos Castro tais iniciativas decerto serão de somenos importância, menores. Não, para o Carlos Castro importante é reunir, no «espaço público do Restaurante Canas» (e eu que sempre pensei que esse restaurante fosse propriedade privada???), elementos da responsabilidade autárquica do Pedro Cegonho e da Isabel Almeida (julgo que os únicos titulares de cargos autárquicos) e afirmar, sem pejo, que «Isto é que é!».Não, o que interessa é o que a Nova História tem para oferecer: a novidade, apenas a novidade. Sempre dentro da metodologia que já indiquei; e que consubstancia na reescrita da história sem qualquer respeito pelo que NA REALIDADE aconteceu. A isto chama-se, em linguagem académica, História-ficção.Em linguagem política, populismo fácil e barato.Em linguagem comum, publicidade enganosa. E este não pode ser caminho que se deseje para o PS em Lisboa.

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