Dias com árvores: Os ossos à mostra

19-12-2009
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Numa ilha pequena como a Terceira, o mar ocupa-nos todos os sentidos: se por momentos lhe fugimos da vista, é para logo o reencontrar. Mas, em vez de lhe fugir, tive vontade de chegar junto dele e de lhe pôr a mão. O que é muito fácil de fazer mesmo sem sair de Angra, onde há um pequeno areal cinzento num canto da baía, mas não era esse mar confinado que eu queria tocar. Pus-me a caminho na estrada para São Mateus da Calheta, mas logo notei que o mar, afinal tão próximo, tinha sido privatizado: entre ele e a estrada, vedando-nos o acesso, interpunham-se continuamente casas e terrenos privados. Até que, alguns quilómetros adiante, entre uma pastagem e uma quinta abandonada, abria-se uma vereda ligando a um lanço de escadas que descia pela falésia. Antes de descer, fotografei uma árvore - Melaleuca linariifolia, em primeiro plano na foto em cima -, o que me dá o indispensável pretexto para falar de mar e pedras num blogue sobre plantas: é que, ao contrário do que esperava, a vegetação à beira-mar poucas novidades tinha em relação à que conhecia de outras longitudes. Foi pois à matéria inerte das rochas, com a irrequieta colaboração do azul da água e do branco da espuma, que coube dar personalidade a este lugar. Tarefa cumprida com brilho: é uma ilha frágil, descarnada até ao osso, um osso negro como carvão, esta que se deixa despir pelas ondas.


Numa ilha pequena como a Terceira, o mar ocupa-nos todos os sentidos: se por momentos lhe fugimos da vista, é para logo o reencontrar. Mas, em vez de lhe fugir, tive vontade de chegar junto dele e de lhe pôr a mão. O que é muito fácil de fazer mesmo sem sair de Angra, onde há um pequeno areal cinzento num canto da baía, mas não era esse mar confinado que eu queria tocar. Pus-me a caminho na estrada para São Mateus da Calheta, mas logo notei que o mar, afinal tão próximo, tinha sido privatizado: entre ele e a estrada, vedando-nos o acesso, interpunham-se continuamente casas e terrenos privados. Até que, alguns quilómetros adiante, entre uma pastagem e uma quinta abandonada, abria-se uma vereda ligando a um lanço de escadas que descia pela falésia. Antes de descer, fotografei uma árvore - Melaleuca linariifolia, em primeiro plano na foto em cima -, o que me dá o indispensável pretexto para falar de mar e pedras num blogue sobre plantas: é que, ao contrário do que esperava, a vegetação à beira-mar poucas novidades tinha em relação à que conhecia de outras longitudes. Foi pois à matéria inerte das rochas, com a irrequieta colaboração do azul da água e do branco da espuma, que coube dar personalidade a este lugar. Tarefa cumprida com brilho: é uma ilha frágil, descarnada até ao osso, um osso negro como carvão, esta que se deixa despir pelas ondas.

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