A Cinco Tons: A questão das proporções e o relativismo dos comentários

24-01-2011
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Já um dia aqui falei, a propósito de mais uma semana alentejana organizada pela Casa do Alentejo de Toronto, do facto de, há alguns anos, ter ido ao Canadá por esta ocasião. Do grupo de convidados fazia parte mestre Isaclino, artesão de Beja. Durante anos teve um café em frente do quartel que ocupava o Convento de S. Francisco, bem no centro de Beja, e que hoje é a Pousada de São Francisco. Disse-me que, nessa altura, com a tropa tinha "ganho bom dinheiro", depois reformou-se e meteu-se a artesão. Falador inveterado gostava de contar porque é que se chamava Isaclino. O Padrinho tinha uma casa comercial e, quando foi para escolher o nome, olhou para um envelope que tinha em cima da secretária duma firma de Lisboa chamada Isaac & Lino e disse, em alta voz: vai chamar-se Isaclino. E Isaclino ficou.Pois bem. Os companheiros da Casa do Alentejo do Canadá, em geral proporcionavam a todos os visitantes, um passeio às monumentais cataratas do Niágara. Nós também lá fomos ver aquele espectáculo incrível. Chegámos, e estávamos todos maravilhados com aquilo, quando mestre Isaclino faz ouvir a sua voz: isto é bonito, sim senhor; mas de boca aberta fiquei quando fui pela primeira vez ao Pulo do Lobo e vi aquela queda de água. Mestre Isaclino não estava a querer fazer uma graça. Dizia o que sentia. Com o seu olhar próprio, o seu amor à terra que o viu nascer, a surpresa de ver quando jovem adulto no seu Alentejo seco, umas quedas de água como as do Pulo do Lobo no Inverno. Tudo isso o tinha maravilhado e o fazia, agora, apequenar a visão das cataratas do Niágara.Quando oiço alguns - quase todos - os analistas e comentaristas políticos que abundam na "nossa" comunicação social, a falarem e a analisarem factos e situações, recordo sempre mestre Isaclino. Também eles, na defesa das suas, mesmo que ocultas damas, perdem o sentido das proporções. E vêm maior grandeza nas quedas de água do Pulo do Lobo do que nas cataratas do Niágara. O mesmo é dizer: veêm o que querem, como querem e onde querem. São livres de o fazerem. Mas também nós podemos - e devemos - sorrir de boca aberta, face ao que dizem, tal como alguns de nós sorrimos perante as palavras de mestre Isaclino, frente às cataratas do Niágara.


Já um dia aqui falei, a propósito de mais uma semana alentejana organizada pela Casa do Alentejo de Toronto, do facto de, há alguns anos, ter ido ao Canadá por esta ocasião. Do grupo de convidados fazia parte mestre Isaclino, artesão de Beja. Durante anos teve um café em frente do quartel que ocupava o Convento de S. Francisco, bem no centro de Beja, e que hoje é a Pousada de São Francisco. Disse-me que, nessa altura, com a tropa tinha "ganho bom dinheiro", depois reformou-se e meteu-se a artesão. Falador inveterado gostava de contar porque é que se chamava Isaclino. O Padrinho tinha uma casa comercial e, quando foi para escolher o nome, olhou para um envelope que tinha em cima da secretária duma firma de Lisboa chamada Isaac & Lino e disse, em alta voz: vai chamar-se Isaclino. E Isaclino ficou.Pois bem. Os companheiros da Casa do Alentejo do Canadá, em geral proporcionavam a todos os visitantes, um passeio às monumentais cataratas do Niágara. Nós também lá fomos ver aquele espectáculo incrível. Chegámos, e estávamos todos maravilhados com aquilo, quando mestre Isaclino faz ouvir a sua voz: isto é bonito, sim senhor; mas de boca aberta fiquei quando fui pela primeira vez ao Pulo do Lobo e vi aquela queda de água. Mestre Isaclino não estava a querer fazer uma graça. Dizia o que sentia. Com o seu olhar próprio, o seu amor à terra que o viu nascer, a surpresa de ver quando jovem adulto no seu Alentejo seco, umas quedas de água como as do Pulo do Lobo no Inverno. Tudo isso o tinha maravilhado e o fazia, agora, apequenar a visão das cataratas do Niágara.Quando oiço alguns - quase todos - os analistas e comentaristas políticos que abundam na "nossa" comunicação social, a falarem e a analisarem factos e situações, recordo sempre mestre Isaclino. Também eles, na defesa das suas, mesmo que ocultas damas, perdem o sentido das proporções. E vêm maior grandeza nas quedas de água do Pulo do Lobo do que nas cataratas do Niágara. O mesmo é dizer: veêm o que querem, como querem e onde querem. São livres de o fazerem. Mas também nós podemos - e devemos - sorrir de boca aberta, face ao que dizem, tal como alguns de nós sorrimos perante as palavras de mestre Isaclino, frente às cataratas do Niágara.

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