Tenho para mim que uma jornada de luta, assuma ela a forma de manifestação, de greve ou de qualquer outra expressão, adquire ganhos de eficácia se a principal mensagem que pretende veicular for clara e se o alvo a que se dirige estiver bem identificado.
No entanto, e como expectável, tanto as declarações que os dirigentes das centrais sindicais têm vindo a proferir, ao longo do dia, como as narrativas que se foram produzindo, na comunicação social e na blogosfera, têm ignorado o principal responsável pelas políticas de endividamento galopante e pelo protelamento irresponsável das respostas à crise que, em convergência, conduziram o país para a "inevitabilidade" destas medidas de brutal austeridade.
E este (ir)responsável tem um rosto e um nome: José Sócrates.
O alvo foi, conscientemente, pulverizado (porque, no limite, Sócrates é para estes sindicalistas uma espécie de mal menor) e a mensagem perpassa, por aí, difusa: luta-se contra "estas políticas", "uma constelação de ideias erradas", as "debilidades institucionais em Bruxelas", os "egoísmos nacionais na Europa", as nossas "boas velhas dificuldades estruturais" (algumas destas citações retirei-as da crónica que Rui Tavares - deputado europeu pelo BE - assinou, hoje, no Público), os mercados internacionais, os credores agiotas ou, mesmo, a senhora Merkel.
Escandalosamente, como antevi, todos silenciam ou atenuam a responsabilidade objectiva e pessoal de um político incompetente, medíocre e aventureiro que dá pelo nome de Sócrates. Aliás, é profundamente lastimável que uma jornada de luta, como a greve geral de hoje, culmine com uma festa de cantorias na Baixa de Lisboa e não no local onde a pressão devia estar a ser exercida e as responsabilidades a serem assacadas, isto é, São Bento, porque se não estivéssemos nas mãos dos credores internacionais (mas, como compatibilizar a diabolização dos credores com a aprovação, no Parlamento, da continuação do endividamento, por força das obras megalómanas viabilizadas pelos mesmos que se aproveitam politicamente desta greve geral?) e se a resposta à crise tivesse sido atempada, sem ilusionismos e propaganda, tinha-se evitado a dureza destas medidas.
Foi, também, por esta manipulação e por estes jogos de espelhos para esconder as responsabilidades pessoais e políticas de Sócrates na situação crítica em que nos encontramos, que, em 23 anos de carreira docente, não aderi pela primeira vez a uma greve.
Deste ponto de vista, a Greve Geral foi extremamente eficaz na mensagem que passou:
Sócrates não é o responsável pela situação em que nos encontramos, não tem a paternidade do ataque aos trabalhadores e aos funcionários públicos (podia lá ser num homem de esquerda), pelo que é irrelevante exigir o que se gritava em outros tempos, ou seja, "XPTO, PRÁ RUA!..."
A isto acresce mais um pormenor que não é de somenos importância: enquanto os enfermeiros registaram uma adesão massiva (80%), porque os sindicatos têm sido credíveis na defesa das reivindicações da classe e passaram, na comunicação social, a sua agenda reivindicativa própria, os representantes dos professores perderam a credibilidade para transmitirem uma leitura da força das reivindicações específicas dos professores a partir desta Greve Geral, porque eles próprios não as assumem de forma consequente.
Não deixa de ser irónico que a escola que tomou a primeira posição colectiva e pública contra o modelo de avaliação do desempenho e a divisão da carreira (Escola Secundária de S. Pedro - Vila Real, em 25 de Janeiro de 2008) esteja, hoje, a funcionar quase em pleno (com a esmagadora maioria dos professores a leccionarem, muitos dos quais não relevam a Sócrates o maior e mais ultrajante ataque alguma vez dirigido a um grupo profissional - desde a imagem negativa que passou para a opinião pública, até aos congelamentos sucessivos e à imposição de uma FARSA que degrada as relações entre professores e a própria escola pública), enquanto escolas que se colaram às medidas impostas por Sócrates tenham, hoje, registado adesões significativas à greve.
Amanhã, a FARSA seguirá, nas escolas, posta, convictamente, em cena por muitos dos indignados de hoje.
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Tenho para mim que uma jornada de luta, assuma ela a forma de manifestação, de greve ou de qualquer outra expressão, adquire ganhos de eficácia se a principal mensagem que pretende veicular for clara e se o alvo a que se dirige estiver bem identificado.
No entanto, e como expectável, tanto as declarações que os dirigentes das centrais sindicais têm vindo a proferir, ao longo do dia, como as narrativas que se foram produzindo, na comunicação social e na blogosfera, têm ignorado o principal responsável pelas políticas de endividamento galopante e pelo protelamento irresponsável das respostas à crise que, em convergência, conduziram o país para a "inevitabilidade" destas medidas de brutal austeridade.
E este (ir)responsável tem um rosto e um nome: José Sócrates.
O alvo foi, conscientemente, pulverizado (porque, no limite, Sócrates é para estes sindicalistas uma espécie de mal menor) e a mensagem perpassa, por aí, difusa: luta-se contra "estas políticas", "uma constelação de ideias erradas", as "debilidades institucionais em Bruxelas", os "egoísmos nacionais na Europa", as nossas "boas velhas dificuldades estruturais" (algumas destas citações retirei-as da crónica que Rui Tavares - deputado europeu pelo BE - assinou, hoje, no Público), os mercados internacionais, os credores agiotas ou, mesmo, a senhora Merkel.
Escandalosamente, como antevi, todos silenciam ou atenuam a responsabilidade objectiva e pessoal de um político incompetente, medíocre e aventureiro que dá pelo nome de Sócrates. Aliás, é profundamente lastimável que uma jornada de luta, como a greve geral de hoje, culmine com uma festa de cantorias na Baixa de Lisboa e não no local onde a pressão devia estar a ser exercida e as responsabilidades a serem assacadas, isto é, São Bento, porque se não estivéssemos nas mãos dos credores internacionais (mas, como compatibilizar a diabolização dos credores com a aprovação, no Parlamento, da continuação do endividamento, por força das obras megalómanas viabilizadas pelos mesmos que se aproveitam politicamente desta greve geral?) e se a resposta à crise tivesse sido atempada, sem ilusionismos e propaganda, tinha-se evitado a dureza destas medidas.
Foi, também, por esta manipulação e por estes jogos de espelhos para esconder as responsabilidades pessoais e políticas de Sócrates na situação crítica em que nos encontramos, que, em 23 anos de carreira docente, não aderi pela primeira vez a uma greve.
Deste ponto de vista, a Greve Geral foi extremamente eficaz na mensagem que passou:
Sócrates não é o responsável pela situação em que nos encontramos, não tem a paternidade do ataque aos trabalhadores e aos funcionários públicos (podia lá ser num homem de esquerda), pelo que é irrelevante exigir o que se gritava em outros tempos, ou seja, "XPTO, PRÁ RUA!..."
A isto acresce mais um pormenor que não é de somenos importância: enquanto os enfermeiros registaram uma adesão massiva (80%), porque os sindicatos têm sido credíveis na defesa das reivindicações da classe e passaram, na comunicação social, a sua agenda reivindicativa própria, os representantes dos professores perderam a credibilidade para transmitirem uma leitura da força das reivindicações específicas dos professores a partir desta Greve Geral, porque eles próprios não as assumem de forma consequente.
Não deixa de ser irónico que a escola que tomou a primeira posição colectiva e pública contra o modelo de avaliação do desempenho e a divisão da carreira (Escola Secundária de S. Pedro - Vila Real, em 25 de Janeiro de 2008) esteja, hoje, a funcionar quase em pleno (com a esmagadora maioria dos professores a leccionarem, muitos dos quais não relevam a Sócrates o maior e mais ultrajante ataque alguma vez dirigido a um grupo profissional - desde a imagem negativa que passou para a opinião pública, até aos congelamentos sucessivos e à imposição de uma FARSA que degrada as relações entre professores e a própria escola pública), enquanto escolas que se colaram às medidas impostas por Sócrates tenham, hoje, registado adesões significativas à greve.
Amanhã, a FARSA seguirá, nas escolas, posta, convictamente, em cena por muitos dos indignados de hoje.