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Retardei intencionalmente a escrita deste post, na expectativa da ocorrência de reacções públicas à inacreditável entrevista de Luís Capucha ao jornal Público, a propósito dessa vigarice educacional que dá pelo nome de Novas Oportunidades [NO].Esperei debalde, porque, excluindo alguma blogosfera docente e outra (último reduto do espírito crítico, da exigência reflexiva, do escrutínio público e da intervenção de cidadania) quase ninguém, dentre partidos, responsáveis políticos, personalidades destacadas na área da educação ou comunicação social, sequer tugiu ou mugiu.Recordo que, entre outros dislates de não menor gravidade (que analisarei em próximo post), Luís Capucha confirmou as NO como uma gigantesca operação de institucionalização do faz-de-conta e da fraude educacional, na melhor tradição socratina (como professor de filosofia, teria que corar de vergonha se a designasse como socrática), ao defender:- o confinar da qualificação à certificação daquilo que a pessoa “já sabe”, significando que nenhuma competência ou mais valia é acrescentada ao mercado, a não ser um papelucho, por mais auto-satisfação ou auto-estima que a obtenção de um diploma promova (engana-se o recurso humano e não se beneficia o país);- o corte com a lógica da aprendizagem, que exige, tanto disciplinas/áreas do saber diversas e específicas, como metodologias de ensino/aprendizagem, tudo realidades e procedimentos estranhos às NO;- uma educação de fachada, onde a imagem e a aparência se sobrepõem às qualificações efectivas, trabalhando apenas para as estatísticas europeias e para a propaganda caseira;- um ataque ao ensino regular, considerando que os alunos do ensino formal sabem menos que os formandos das NO, o que, além de ser ofensivo para quem, nas escolas, aprende em inúmeras disciplinas e ao longo de vários anos, submetendo-se a testes e exames a sério, é uma mentira descarada, tendo em conta, as realidades que concretizam as NO;- formações rapidinhas (“em educação é preciso agir com rapidez” – quereria dizer à velocidade de transmissão de um fax?), ao ritmo de fornadas sucessivas e quase instantâneas, como se a educação fosse uma linha de produção de parafusos e porcas.Todavia, tão grave como a impunidade destas afirmações é, tanto a desorganização que vai nos partidos, onde não existem gabinetes sectoriais que acompanhem, analisem e reajam, prontamente, às intervenções públicas que exprimam ou defendam os desmandos e a mediocridade das políticas e das medidas governamentais, como a inexistência de debates sérios sobre temas e questões fundamentais, numa comunicação social reduzida a instrumentalizações políticas, a opinadas de comentadores generalistas e a informação fabricada para ser difundida, sem o devido e especializado contraditório.A falta de reacção generalizada traduz bem a extensão e a severidade da nossa batida no fundo, como país alienado, negligente, pouco exigente e desértico de pessoas que não estão predispostas a pactuar com farsas e vigarices.Num país que não tolerasse logros educacionais e impreparações técnicas e científicas, o senhor Luís Capucha estaria, hoje, demitido e as NO suspensas para reavaliação independente do que aí se ensina, como se ensina e para que finalidades se ensina.
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Retardei intencionalmente a escrita deste post, na expectativa da ocorrência de reacções públicas à inacreditável entrevista de Luís Capucha ao jornal Público, a propósito dessa vigarice educacional que dá pelo nome de Novas Oportunidades [NO].Esperei debalde, porque, excluindo alguma blogosfera docente e outra (último reduto do espírito crítico, da exigência reflexiva, do escrutínio público e da intervenção de cidadania) quase ninguém, dentre partidos, responsáveis políticos, personalidades destacadas na área da educação ou comunicação social, sequer tugiu ou mugiu.Recordo que, entre outros dislates de não menor gravidade (que analisarei em próximo post), Luís Capucha confirmou as NO como uma gigantesca operação de institucionalização do faz-de-conta e da fraude educacional, na melhor tradição socratina (como professor de filosofia, teria que corar de vergonha se a designasse como socrática), ao defender:- o confinar da qualificação à certificação daquilo que a pessoa “já sabe”, significando que nenhuma competência ou mais valia é acrescentada ao mercado, a não ser um papelucho, por mais auto-satisfação ou auto-estima que a obtenção de um diploma promova (engana-se o recurso humano e não se beneficia o país);- o corte com a lógica da aprendizagem, que exige, tanto disciplinas/áreas do saber diversas e específicas, como metodologias de ensino/aprendizagem, tudo realidades e procedimentos estranhos às NO;- uma educação de fachada, onde a imagem e a aparência se sobrepõem às qualificações efectivas, trabalhando apenas para as estatísticas europeias e para a propaganda caseira;- um ataque ao ensino regular, considerando que os alunos do ensino formal sabem menos que os formandos das NO, o que, além de ser ofensivo para quem, nas escolas, aprende em inúmeras disciplinas e ao longo de vários anos, submetendo-se a testes e exames a sério, é uma mentira descarada, tendo em conta, as realidades que concretizam as NO;- formações rapidinhas (“em educação é preciso agir com rapidez” – quereria dizer à velocidade de transmissão de um fax?), ao ritmo de fornadas sucessivas e quase instantâneas, como se a educação fosse uma linha de produção de parafusos e porcas.Todavia, tão grave como a impunidade destas afirmações é, tanto a desorganização que vai nos partidos, onde não existem gabinetes sectoriais que acompanhem, analisem e reajam, prontamente, às intervenções públicas que exprimam ou defendam os desmandos e a mediocridade das políticas e das medidas governamentais, como a inexistência de debates sérios sobre temas e questões fundamentais, numa comunicação social reduzida a instrumentalizações políticas, a opinadas de comentadores generalistas e a informação fabricada para ser difundida, sem o devido e especializado contraditório.A falta de reacção generalizada traduz bem a extensão e a severidade da nossa batida no fundo, como país alienado, negligente, pouco exigente e desértico de pessoas que não estão predispostas a pactuar com farsas e vigarices.Num país que não tolerasse logros educacionais e impreparações técnicas e científicas, o senhor Luís Capucha estaria, hoje, demitido e as NO suspensas para reavaliação independente do que aí se ensina, como se ensina e para que finalidades se ensina.