O Cachimbo de Magritte: Reconhecer a Diferença (3)

07-08-2010
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Ora bem, a força cultural exercida pelo ideal da autenticidade implica a afirmação da diferença, um ser-se verdadeiro para com a minha originalidade, algo que só eu posso articular, descobrir e expressar. Mas esta “descoberta de si” como componente incontornável da realização humana comporta necessariamente uma auto-compreensão que se estrutura através de uma linguagem mantida numa comunidade linguística, a descoberta de si implica uma abertura aos outros dentro daquele horizonte dialógico que permite a cada um compreender-se naquilo que é, que valoriza ou que deprecia.Mais, a liberdade de auto-deteminação e auto-criação, sob a forma de uma originalidade inaudita, não pode realizar-se sem uma abertura a horizontes de significado pré-existentes e independentes dos desejos, inclinações e escolhas do agente. Sem estes horizontes as escolhas originais perderiam os seus significados, a afirmação da diferença tornar-se-ia insignificante.Reparemos. Onde poderá residir a diferença entre um homossexual que afirma a sua particular orientação sexual, de um emigrante que afirma o seu específico legado cultural, ou de um homem que se afirma como a única pessoa no mundo com um milhão de cabelos? Supomos que os dois primeiros casos poderão tentar justificar o valor daquilo que afirmam, e que o último nunca o conseguirá fazer. Ou seja, que o último caso está condenado a afirmar a diferença somente pela diferença sem nunca conseguir justificar o valor da sua originalidade, singularidade, especificidade.Pelo contrário, o homossexual e o emigrante poderão fazê-lo, mas isso implica abertura a horizontes de significado e auto-definição em diálogo. Ora, é precisamente aqui que muitas vezes o activismo de minorias é apanhado em falso. Porque os horizontes de significado da sociedade em que habitam não lhes permitem valorizar a sua diferença, fecham-se à comunidade linguística envolvente. Ou seja, adoptam um ideal de realização humana que se traduz numa pura expressão singular de si em oposição às regras da sociedade e àquilo que é reconhecido como moralidade vigente. O problema é que em seguida pedem que a sociedade os reconheça naquilo que ela não é capaz de reconhecer. Ao menos, Nietzsche foi suficientemente inteligente para perceber que a sua «transvaloração» só poderia ser percebida por um homem que havia de vir. Resta-lhes gritar bem alto. Mas questão permanece, ninguém é capaz de os ouvir. Ou seja, assiste-se apenas ao desfile sazonal de um circo.


Ora bem, a força cultural exercida pelo ideal da autenticidade implica a afirmação da diferença, um ser-se verdadeiro para com a minha originalidade, algo que só eu posso articular, descobrir e expressar. Mas esta “descoberta de si” como componente incontornável da realização humana comporta necessariamente uma auto-compreensão que se estrutura através de uma linguagem mantida numa comunidade linguística, a descoberta de si implica uma abertura aos outros dentro daquele horizonte dialógico que permite a cada um compreender-se naquilo que é, que valoriza ou que deprecia.Mais, a liberdade de auto-deteminação e auto-criação, sob a forma de uma originalidade inaudita, não pode realizar-se sem uma abertura a horizontes de significado pré-existentes e independentes dos desejos, inclinações e escolhas do agente. Sem estes horizontes as escolhas originais perderiam os seus significados, a afirmação da diferença tornar-se-ia insignificante.Reparemos. Onde poderá residir a diferença entre um homossexual que afirma a sua particular orientação sexual, de um emigrante que afirma o seu específico legado cultural, ou de um homem que se afirma como a única pessoa no mundo com um milhão de cabelos? Supomos que os dois primeiros casos poderão tentar justificar o valor daquilo que afirmam, e que o último nunca o conseguirá fazer. Ou seja, que o último caso está condenado a afirmar a diferença somente pela diferença sem nunca conseguir justificar o valor da sua originalidade, singularidade, especificidade.Pelo contrário, o homossexual e o emigrante poderão fazê-lo, mas isso implica abertura a horizontes de significado e auto-definição em diálogo. Ora, é precisamente aqui que muitas vezes o activismo de minorias é apanhado em falso. Porque os horizontes de significado da sociedade em que habitam não lhes permitem valorizar a sua diferença, fecham-se à comunidade linguística envolvente. Ou seja, adoptam um ideal de realização humana que se traduz numa pura expressão singular de si em oposição às regras da sociedade e àquilo que é reconhecido como moralidade vigente. O problema é que em seguida pedem que a sociedade os reconheça naquilo que ela não é capaz de reconhecer. Ao menos, Nietzsche foi suficientemente inteligente para perceber que a sua «transvaloração» só poderia ser percebida por um homem que havia de vir. Resta-lhes gritar bem alto. Mas questão permanece, ninguém é capaz de os ouvir. Ou seja, assiste-se apenas ao desfile sazonal de um circo.

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