O Cachimbo de Magritte: E ao vigésimo dia ressuscitou (dizem)

05-08-2010
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José Sócrates teve ontem o que Valentim Loureiro pediu há uns tempos: um julgamento na televisão. Os demagogos da província que aprendam, porque não correu lá muito bem. Apesar de José Alberto Carvalho ter sido duro nas questões técnicas e brando nas questões de carácter. Apesar da pressa dos jornalistas da RTP em garantir à pátria que o Primeiro-Ministro saía da televisão pública de "semblante pouco carregado" porque "a entrevista lhe correra bem", como se ouviu no telejornal da 2. Apesar do pudor de muitos em admitir que a entrevista era um teste à credibilidade do governante e não aos dois anos do seu governo.A estratégia para o "Unigate" e para o resto até ia bem ensaiada - atribuir sempre as culpas a terceiros. O diploma tem a data de um Domingo? A culpa é da Independente. O défice não diminui? A culpa é do anterior governo. A economia não cresce? A culpa é da Índia e da China. A Ota parece uma precipitação? A culpa é dos estudos, do plano de obras e da Europa. Há uma campanha contra ele? Sim, mas ninguém tem a culpa. (As saudades que eu já tinha de Rui Gomes da Silva e da "cabala involuntária"...)Onde Sócrates falhou, inevitavelmente, foi na explicação dos comezinhos factos só a ele atribuíveis. Por exemplo, a já célebre biografia oficial de deputado em que aparece como licenciado em Engenharia quando era apenas bacharel, em 1993, mais tarde corrigida. Sócrates protestou que não se lembra e que terá corrigido para que não houvesse qualquer erro. Ficam-lhe bem tais sentimentos, mas Maria Flor Pedroso pôs os pontos nos iis com a frase mais assassina da noite: "é estranho que alguém se engane na profissão". O estatelanço do Primeiro-Ministro português deve ter-se ouvido na Índia e na China, para já não falar da Ota. É o fim do mundo? É longe, mas não é o fim do mundo. É o fim de Sócrates? Também não: as notícias da sua morte são talvez exageradas. É, porém, o fim de uma certa imagem de Sócrates, algo de decisivo para qualquer político que pretenda ter uma dimensão acima dos Jardins e Felgueiras deste país: a seriedade. As comparações entre Sócrates e Cavaco acabaram ontem. Porque Cavaco seria muita coisa de que Sócrates também é acusado (arrogante, autoritário, autista, teimoso, etc.), mas ninguém podia chamar-lhe mentiroso.


José Sócrates teve ontem o que Valentim Loureiro pediu há uns tempos: um julgamento na televisão. Os demagogos da província que aprendam, porque não correu lá muito bem. Apesar de José Alberto Carvalho ter sido duro nas questões técnicas e brando nas questões de carácter. Apesar da pressa dos jornalistas da RTP em garantir à pátria que o Primeiro-Ministro saía da televisão pública de "semblante pouco carregado" porque "a entrevista lhe correra bem", como se ouviu no telejornal da 2. Apesar do pudor de muitos em admitir que a entrevista era um teste à credibilidade do governante e não aos dois anos do seu governo.A estratégia para o "Unigate" e para o resto até ia bem ensaiada - atribuir sempre as culpas a terceiros. O diploma tem a data de um Domingo? A culpa é da Independente. O défice não diminui? A culpa é do anterior governo. A economia não cresce? A culpa é da Índia e da China. A Ota parece uma precipitação? A culpa é dos estudos, do plano de obras e da Europa. Há uma campanha contra ele? Sim, mas ninguém tem a culpa. (As saudades que eu já tinha de Rui Gomes da Silva e da "cabala involuntária"...)Onde Sócrates falhou, inevitavelmente, foi na explicação dos comezinhos factos só a ele atribuíveis. Por exemplo, a já célebre biografia oficial de deputado em que aparece como licenciado em Engenharia quando era apenas bacharel, em 1993, mais tarde corrigida. Sócrates protestou que não se lembra e que terá corrigido para que não houvesse qualquer erro. Ficam-lhe bem tais sentimentos, mas Maria Flor Pedroso pôs os pontos nos iis com a frase mais assassina da noite: "é estranho que alguém se engane na profissão". O estatelanço do Primeiro-Ministro português deve ter-se ouvido na Índia e na China, para já não falar da Ota. É o fim do mundo? É longe, mas não é o fim do mundo. É o fim de Sócrates? Também não: as notícias da sua morte são talvez exageradas. É, porém, o fim de uma certa imagem de Sócrates, algo de decisivo para qualquer político que pretenda ter uma dimensão acima dos Jardins e Felgueiras deste país: a seriedade. As comparações entre Sócrates e Cavaco acabaram ontem. Porque Cavaco seria muita coisa de que Sócrates também é acusado (arrogante, autoritário, autista, teimoso, etc.), mas ninguém podia chamar-lhe mentiroso.

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