Depois desta crise passar, a Europa, ou pelo menos uma grande parte dela, terá de confrontar uma crise que não passará tão facilmente. Até agora, a grande maioria dos comentários à contracção demográfica que já começou nalgumas regiões da Europa tem incidido sobretudo sobre a perspectiva financeira, isto é, se põe, ou não, em causa a sustentatibilidade do sistema de pagamentos das reformas e pensões. Ora, este é apenas um aspecto, e nem sequer o mais grave, dos efeitos que a crise demográfica irá começar a produzir. Para além das consequências morais e psicológicas que esta tendência necessariamente gerará num continente de velhos idólatras da juventude, a crise demográfica traduzirá um empobrecimento económico generalizado do continente, ou seja, em termos muito simples, implicará a redução progressiva do nível de vida, poder de compra, rendimento disponível, etc., dos cidadãos europeus.O assunto não é pacífico, apesar da evidência ser cada vez mais nítida. A resistência das pessoas a este diagnóstico parece-me que resulta de uma frustração especial: a de que as nossas escolhas particulares e livres (afinal, se há menos bebés na Europa é porque os adultos europeus assim o quiseram) conduzem a resultados contraditórios com as aspirações que estão na base das nossas escolhas particulares e livres. E dizemos para nós próprios que isso é impossível. Não é.
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Depois desta crise passar, a Europa, ou pelo menos uma grande parte dela, terá de confrontar uma crise que não passará tão facilmente. Até agora, a grande maioria dos comentários à contracção demográfica que já começou nalgumas regiões da Europa tem incidido sobretudo sobre a perspectiva financeira, isto é, se põe, ou não, em causa a sustentatibilidade do sistema de pagamentos das reformas e pensões. Ora, este é apenas um aspecto, e nem sequer o mais grave, dos efeitos que a crise demográfica irá começar a produzir. Para além das consequências morais e psicológicas que esta tendência necessariamente gerará num continente de velhos idólatras da juventude, a crise demográfica traduzirá um empobrecimento económico generalizado do continente, ou seja, em termos muito simples, implicará a redução progressiva do nível de vida, poder de compra, rendimento disponível, etc., dos cidadãos europeus.O assunto não é pacífico, apesar da evidência ser cada vez mais nítida. A resistência das pessoas a este diagnóstico parece-me que resulta de uma frustração especial: a de que as nossas escolhas particulares e livres (afinal, se há menos bebés na Europa é porque os adultos europeus assim o quiseram) conduzem a resultados contraditórios com as aspirações que estão na base das nossas escolhas particulares e livres. E dizemos para nós próprios que isso é impossível. Não é.