No princípio era o humor. O PSR nasceu à esquerda como o Miguel Esteves Cardoso tinha nascido à Direita. Irreverência, novidade, muita graça.Francisco Louçã parecia ser um homem livre e leve.Mas com o tempo Francisco Louçã tem adensado o seu moralismo ao limite do suportável. Recentemente mais um exemplo ilustrativo.No caso da licenciatura de Sócrates, depois de Marques Mendes ter exigido esclarecimentos sobre a verdade que poderia ter sido escondida, Louçã apressou-se a dizer que não participava em «julgamentos de carácter». Homem que é homem não anda na política a avaliar o carácter dos outros. A política faz-se de coisas mais nobres.Ontem, porém, Louçã diz que se não houver referendo ao Tratado Europeu, isso só pode ser «uma prova de mau carácter» do Primeiro-Ministro. Não disse só que estava errado, que era mau para o país, que devia ser contestado. Era sobretudo prova de mau carácter: Sócrates não presta mesmo. Mentiroso. Não tem espinha.Em que ficamos afinal? Louçã promove a avaliação de carácter ou não?Parece contraditório, mas bem vistas as coisas, há nos dois momentos uma coerência persistente.Num e noutro caso, Louçã segue o rumo do moralismo intransigente. A única diferença é que os alvos são diferentes.A coerência é a dessa afirmação que persiste e insiste. Não sendo dita é ela que alimenta a trama. Uma frase escondida, arrancada em surdina ao espelho mágico: ninguém é como eu e o inferno são outros.
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No princípio era o humor. O PSR nasceu à esquerda como o Miguel Esteves Cardoso tinha nascido à Direita. Irreverência, novidade, muita graça.Francisco Louçã parecia ser um homem livre e leve.Mas com o tempo Francisco Louçã tem adensado o seu moralismo ao limite do suportável. Recentemente mais um exemplo ilustrativo.No caso da licenciatura de Sócrates, depois de Marques Mendes ter exigido esclarecimentos sobre a verdade que poderia ter sido escondida, Louçã apressou-se a dizer que não participava em «julgamentos de carácter». Homem que é homem não anda na política a avaliar o carácter dos outros. A política faz-se de coisas mais nobres.Ontem, porém, Louçã diz que se não houver referendo ao Tratado Europeu, isso só pode ser «uma prova de mau carácter» do Primeiro-Ministro. Não disse só que estava errado, que era mau para o país, que devia ser contestado. Era sobretudo prova de mau carácter: Sócrates não presta mesmo. Mentiroso. Não tem espinha.Em que ficamos afinal? Louçã promove a avaliação de carácter ou não?Parece contraditório, mas bem vistas as coisas, há nos dois momentos uma coerência persistente.Num e noutro caso, Louçã segue o rumo do moralismo intransigente. A única diferença é que os alvos são diferentes.A coerência é a dessa afirmação que persiste e insiste. Não sendo dita é ela que alimenta a trama. Uma frase escondida, arrancada em surdina ao espelho mágico: ninguém é como eu e o inferno são outros.